Bill
Thetford foi um dos dois primeiros estudantes de Um Curso Em Milagres no mundo,
ajudando a introduzi-lo no mundo para que as pessoas pudessem usá-lo como um
meio de lembrar de Deus. Bill foi muito sincero e receptivo, e mesmo assim não
muito foi escrito sobre esta bela testemunha do Amor de Deus. Esta entrevista
com Bill foi publicada na Revista New Realities em set/out de 1984. Com muita
alegria transmito-a para todos agora.
Faça
bom proveito!
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Entrevista com William N.
Thetford, Ph.D
New Realities Magazine: Set/Out 1984
New Realities Magazine: Set/Out 1984
Uma conversa cândida e
exclusiva com umas das duas “personalidades ocultas” por trás da manifestação
de um dos mais enigmáticos e profundos sistemas de pensamento espiritual do
Século - Um Curso Em Milagres. Tendo sido um agnóstico confesso, Dr. Thetford
agora discute abertamente seu papel secreto como escrivão do Curso e como isso
o afetou pessoalmente e em seu trabalho na psicologia, como também nas posições
de prestígio que ele mantinha como Professor de Psicologia Médica da
Universidade de Columbia da Faculdade de Médicos e Cirurgiões, e como Diretor
do Departamento de Psicologia do Hospital Presbiteriano na cidade de Nova
Iorque.
NR: Sendo uma das duas
pessoas responsáveis por transcrever “Um Curso Em Milagres,” qual o impacto que
ele tem causado na sua vida?
WT: Mudou totalmente a
minha vida. Eu me recordo estar datilografando os primeiros cinqüenta
princípios dos milagres que vieram através de Helen Schucman no outono de 1965,
e percebi que se esse material fosse verdadeiro, então absolutamente tudo que
eu acreditava teria que ser desafiado - que eu teria que reconstruir todo o meu
sistema de crença. Naquela época, no entanto, pensei que seria impossível; eu
não sabia como poderia fazê-lo. Mesmo assim senti que era um requisito, já que
o material que veio através de Helen no começo da fase pareceu autêntico e
genuíno demais. Fiquei em estado de choque por um breve período, imaginando
como seria possível fazer tal mudança tão abrupta na minha percepção da vida e
do mundo. Mais tarde percebi que Deus é misericordioso, e não nos pede para
fazer mudanças tão abruptamente, que haveria uma tempo adequado para
gradualmente começar a mudança na minha percepção.
Eu acho que o que foi
importante foi a minha disponibilidade para mudar, e não o dominar do material.
E, é claro, me mudei do meio de Manhattan, onde tinha vivido por vinte e três
anos para Tiburon, Califórnia, algo que eu pensava que nunca aconteceria. Eu
tinha me acomodado à minha rotina como Nova-iorquino, e achava que a Big Apple
era o centro do Universo, e o lugar ao qual eu pertencia. Aquela mudança foi
provavelmente o maior choque cultural que eu já tinha vivenciado, fazendo uma
transição abrupta do tumulto de uma vida agitada em Nova Iorque para a
tranqüilidade de Tiburon, Califórnia. Eventualmente também deixei a comunidade
acadêmica. Primeiro ao me aposentar do cargo de Diretor do Departamento de
Psicologia do Hospital Presbiteriano do Centro Médico Presbiteriano de
Columbia, e vários anos mais tarde aposentando da minha posição de Professor de
Psicologia Médica da Faculdade de Médicos e Cirurgiões da Universidade de
Columbia.
NR: Isso foi para se
dedicar tempo integral ao Curso ou para seguir outros interesses?|
WT: Uma combinação, eu
acho. Depois de vinte anos na Columbia senti que era hora de deixar a academia.
Pareceu natural sair quando o Curso foi publicado.
NR: Qual foi exatamente o
seu papel no processo de transcrição do Curso? Você também ouviu uma voz?
WT: Ambos eu e Helen
sabíamos desde o inicio que era uma tarefa colaborativa, embora eu não ouvisse
a voz. Enquanto a Helen ouvia o ditado interno, ela era incapaz de transcrever
o material diretamente sozinha, já que ela achava o conteúdo do Curso muito
ameaçador. Meu papel era de oferecer o apoio e confiança necessária a cada dia
para que Helen continuasse com suas anotações no caderno de taquigrafia. Então,
ela lia o material para mim e eu datilografava diretamente do seu ditado.
NR: Já que o Curso
desafiou sua própria crença e seu sistema de pensamento também, porque você
simplesmente não o rejeitou, jogou fora?
WT: Bem, meu intelecto se
rebelou algumas vezes. Mas era eu quem tinha pedido por “um outro jeito”, um
jeito melhor, em relação ao contexto profissional extremamente estressante no
qual Helen e eu estávamos tentando trabalhar. Quando o material de Um Curso Em
Milagres começou a vir, para mim era óbvio que esta era a resposta para a minha
questão, muito claramente a resposta. Então, para rejeitá-la ou até mesmo
desconsiderá-la nunca foi cogitado.
NR: O que especificamente
sobre ela fez com que fosse óbvio para você que esta era realmente a sua
resposta?
WT: Talvez o fato de que
era tão totalmente diferente do jeito que eu vinha trabalhando durante toda a
minha vida. Mas a autenticidade do material me afetou mais do qualquer outra
coisa. Eu sabia que a Helen não tinha inventado isso, mesmo com a sua
imaginação mais fértil.
NR: A autenticidade… ?
WT: Bem, o material era
algo que transcendia qualquer coisa que qualquer um de nós dois pudéssemos
conceber. E como o conteúdo era bem alheio aos nosso conhecimentos, interesses
e instrução, para mim era óbvio que veio de uma fonte inspirada. A qualidade do
material era muito convincente, e sua beleza poética acrescentada ao seu
impacto.
NR: Parece muito incomum
que você, um psicólogo consagrado mantendo duas posições de prestígio, pudesse
até mesmo considerar adotar tal material, considerando sua instrução e
princípios rígidos dentro da academia aos quais você, sem dúvida, adotou e
aderiu.
WT: Eu acho que se não
tivesse sido pelas muitas experiências extraordinárias que ocorreram durante o
verão de 1965, nem eu nem a Helen teríamos estado dispostos a aceitar o
material que ela transcreveu. Vocês relataram algumas dessas experiências
nessas página na matéria sobre o novo livro do Robert Skutch "Journey
Without Distance, The Story Behind A Course In Miracles". No entanto,
nossa experiência associada com a Clínica Mayo em Rochester, Minnesota, não foi
relatada na “New Realities.” Talvez mais do que qualquer outra coisa, esta
série de eventos cristalizaram toda a nova direção que tomaríamos.
NR: O evento da Clínica
Mayo ocorreu em setembro e o Curso não começou no mês seguinte, em outubro?
WT: Sim. Haviam me
solicitado para ir a Clínica Mayo e descobrir por que eles lucravam com as
operações de serviço psicológico deles, enquanto a Columbia-Presbiteriana
parecia que estava sempre perdendo dinheiro. Eu pensei que soubesse da resposta
para a questão porque nós atendíamos principalmente a pacientes que não tinham
condições de pagar taxas, e os pacientes na Clínica Mayo eram de classe média
ou alta e capazes de pagar. Apesar disso, parecia que era uma viagem importante
a se fazer e eu pedi a Helen que me acompanhasse. Logo que nós decolamos - eu
acho que foi na noite anterior - Helen teve uma vívida imagem de uma igreja,
que ela descreveu para mim com muitos detalhes, até mesmo fez um esboço dela.
Era uma antiga igreja com diversas torres grandes e pequenas. Ela pensou que
provavelmente fosse uma Igreja Luterana. Ela estava convencida de que de alguma
maneira, nós veríamos aquela igreja pela janela do avião quando estivéssemos
prestes a pousar in Rochester. Aquilo, é claro, parecia um tanto improvável, já
que aeroportos, pelo que eu sei, não são construídos perto de igrejas. De
qualquer forma, mantivemos nossa atenção focada na janela durante a
aterrissagem, e para a decepção e angústia de Helen nenhuma igreja como aquela
foi vista. De fato, Helen estava tão aborrecida por não ter encontrado a sua
igreja que eu não tinha muita esperança de cumprir com os nossos negócios no
dia seguinte a menos que ela pudesse de alguma forma ser reanimada. Meio que
desesperado sugeri a Helen pegarmos um táxi e ver se conseguíamos encontrar a
igreja dela em algum lugar na área metropolitana de Rochester.
Então, Helen e eu fomos à
caça da igreja. No começo, pensamos em nos restringir às igrejas Luteranas. Eu
acho que havia duas delas, e nenhuma era nem um pouco parecida com a imagem de
Helen. Então decidimos ver todas as outras igrejas já que havíamos começado a
procura. Eu acho que havia vinte sete nos arredores de Rochester. E nenhuma
delas tinha qualquer semelhança com a imagem de Helen. Obviamente, ela ficou
muito arrasada , mas nos recompusemos para preparação dos negócios no dia
seguinte.
No dia seguinte depois de
termos completado nossa pesquisa com sucesso, Helen e eu preparávamos para
deixar o hotel. Desci para o saguão e esperei por ela com a bagagem, e notando
uma banca de jornal decidi comprar um. Em vez disso, eu vejo uma pequena
brochura com o título “A História da Clínica Mayo.” Achando que seria bom ter
uma lembrança da nossa visita, eu comprei o folheto por um dólar.
Conforme eu a folheava
muito rapidamente, eu vi a foto da antiga igreja de Helen, exatamente como ela
a tinha descrito com todas as torres grandes e pequenas. E era mesmo uma igreja
Luterana. O único problema era que ela tinha sido demolida e na verdade a
Clinica Mayo foi construída no terreno da antiga igreja Luterana. Foi um
momento muito dramático, estava ansioso para compartilhá-lo com Helen.
Quando ela desceu, eu
disse rapidamente, “Helen você realmente não estava louca afinal. Sua igreja
estava lá mas não existe mais. Quando você pensou que estava olhando para ela
por cima como se fosse de um avião você estava na verdade olhando para trás
através do tempo.”
Helen demonstrou uma
estranha mistura de emoções. Por uma lado, alívio que ela não estava totalmente
louca, e por outro, estava claro que ela estava fazendo algo ao qual ela
referia como altamente para-normal, e isso era uma área que a fez se sentir
muito desconfortável.
No nosso caminho de volta
à Nova Iorque, tivemos que trocar de avião em Chicago. Enquanto estávamos na
sala de espera, Helen observou uma jovem mulher no canto lendo uma revista e
parecendo um tanto infeliz do jeito que as pessoas freqüentemente ficam quando
estão esperando por aviões nos aeroportos. Fiquei surpreso quando Helen me
disse, “Está vendo aquela mulher logo ali, está realmente encrencada - ela tem
um monte de problemas.” Helen insistiu que iria lá falar com aquela mulher. O
que descobrimos foi que a mulher, cujo nome era Charlotte, nunca tinha estado
num avião antes. Ela tinha voado com a companhia aérea Ozark até Chicago com
rota para Nova Iorque e estava em pânico. Ela não sabia nada de Nova Iorque.
Mais tarde descobrimos que ela estava deixando o marido e dois filhos, e estava
angustiada.
Charlotte estava registrada
no mesmo avião que o nosso. Durante o vôo, sentamos um a cada lado dela,
segurando suas mãos, e tentando acalmá-la e sossegá-la. Perguntamos onde ela ia
ficar em Nova Iorque já que ela não conhecia ninguém. Ela disse que como era
Luterana, ela pensou em contatar uma igreja Luterana e de alguma forma eles
encontrariam um lugar para ela na cidade. Foi naquele momento que Helen e eu
trocamos olhares. A mensagem era clara para ambos. Helen ouviu sua voz interior
dizendo, “E está é a minha verdadeira igreja, ajudar seu irmão que está em
necessidade; não o edifício que você viu antes.” A autenticidade desta voz
interior tornou-se cada vez mais familiar para ambos quando o Curso iniciou
algumas semanas mais tarde, em outubro.
NR: Deve ter sido de
alguma forma penoso durante aquele período, vivendo uma vida dupla, recebendo e
lidando com os materiais dos milagres que vinham e continuando sua vida
acadêmica normalmente.
WT: Sim, de um modo era
como viver em dois mundos diferentes. Meus sentimentos eram tão complexos que é
difícil expressar isso de uma maneira simples. Obviamente, Helen não tinha
ficado louca, nem tinha perdido a cabeça. O material fazia sentido, mas havia
um sentimento de ter mergulhado em algo que estava além da nossa compreensão e
para o qual não estávamos preparados.
Naturalmente não
conversávamos disso com nosso colegas, e nenhum dos nossos associados
profissionais tinha conhecimento de que isto estava ocorrendo como uma dimensão
adicional na minha vida e da Helen. Ao mesmo tempo, não podíamos separar
completamente o Curso das nossas responsabilidades acadêmicas, e uma boa parte
da datilografia do material foi feita no Centro Médico. Helen me ditava suas
anotações durante nosso horário de almoço ou momentos variados. Mas isso não
interrompeu o curso dos nossos compromissos profissionais que incluíam dar
palestras, escrever pesquisas de bolsas e artigos para publicação, como também
uma infinidade de tarefas administrativas - todas aquelas coisas que fazem uma
vida profissional muito ocupada. Então a experiência que passamos durante
aquele período foi realmente uma experiência muito incomum.
NR: Não houve momentos que
Helen considerou seriamente ir a um psiquiatra ou psicólogo? Ou talvez
considerar tomar alguma medicação que poderia acabar com a voz ditando para
ela?
WT: Não era uma voz neste
sentido em absoluto. Helen não foi perseguida por vozes; era uma sensação
específica de comunicação canalizada que vinha para ela de tempos em tempos,
ela sabia que havia material para ser transcrito, e ela podia fazer isso a
qualquer momento que escolhêssemos. Não havia pressão para largar imediatamente
o que ela estava fazendo para tomar notas. Em vez disso, o material estava lá
quase como se tivesse sido pré-gravado e estava esperando pela atenção dela.
Ele se apresentava a ela numa parte separada e muito distinta de sua mente, ela
não vivenciou isso como uma voz externa, em absoluto.
NR: Ainda assim o fato de
alguém ouvir uma voz - no sentido psicoterapêutico tradicional - qual você acha
que teria sido o diagnóstico ou prognóstico de Helen, sem compreender as
dinâmicas envolvidas?
WT: Eu acho que as pessoas
que fazem coisas incomuns desse tipo são provavelmente consideradas de alguma
forma dissociadas ou possivelmente esquizofrênicas. No entanto, o fato de que a
habilidade da Helen como psicóloga não foi prejudicada de forma alguma durante
este período, era uma clara indicação de que ela não sofria de um sistema
delusório. Eu diria até que a habilidade dela para trabalhar profissionalmente
foi enriquecida conforme continuávamos com este trabalho. Durante o tempo que
estávamos trabalhando no Curso, na verdade parecia que aumentávamos nossa
produtividade e qualidade profissional. Uma confirmação disso é que quando
completamos o manuscrito, ambos fomos conferidos os títulos de professores
permanentes.
NR: Helen pareceu ter
muito mais dificuldade de adotar o material do Curso do que você. Houve algum
tipo de educação espiritual ou religiosa na sua vida ou qualquer outra coisa
que o ajudou?
WT: Bem, certamente não
foi devido a nenhum conhecimento religioso tradicional para mim. Eu freqüentei
a escola dominical da igreja “Christian Science” até os sete anos de idade,
quando minha irmã faleceu repentinamente e meus pais perderam o interesse em
toda religião. Mais tarde na minha juventude freqüentei várias igrejas
Protestantes, mas na época que comecei meu trabalho de graduação na
Universidade de Chicago, eu tinha certamente desistido de qualquer interesse em
religião. Além do mais, me recordo como a Universidade de Chicago era
freqüentemente descrita como uma Universidade Batista onde professores ateus
ensinavam alunos judeus filosofia Tomística! Com esse tipo de definição, eu
acho que é evidente que qualquer crença religiosa que eu pudesse ter tido
simplesmente teria me tornado mais confuso.
NR: Qual você diria,
então, que era a sua visão filosófica ou espiritual naquele tempo?
WT: Eu me descreveria como
um agnóstico. Eu não estava realmente preocupado se a realidade espiritual era
fato ou não. Freud se referia à religião como uma ilusão, e eu acho que muitos
dos alunos de pós-graduação e os docentes com quem me relacionava naquela
época, encaravam a religião como algo que carecia de respeitabilidade
intelectual.
NR: Dada a sua visão
agnóstica naquele tempo, houve algo com que você se envolveu que poderia ter
marcado a sua fase de catalisador para “Um Curso Em Milagres?”
WT: Não como tal, mas fui
um dos primeiros alunos de pós-graduação do Carl Rogers depois que ele veio
para a Universidade de Chicago em 1945. Ele ensinou que “respeito verdadeiro
incondicional” era um pré-requisito para terapeutas centrados nos pacientes.
Agora eu entendo que o que o Rogers estava enfatizando realmente era que a
total aceitação em nossos relacionamentos significava expressar amor perfeito.
Embora eu soubesse o quão distante estava de estar apto a praticar este
conceito em minha vida, eu aprendi a apreciar esta contribuição para o meu
próprio desenvolvimento espiritual.
Na verdade, eu sempre
pensei que uma Autoridade Superior tinha dado uma mancada escolhendo eu e a
Helen para esta missão. Uma vez quando Helen perguntou a voz por que ela tinha
sido escolhida para este papel, a resposta que ela obteve foi, “Você obviamente
é a pessoa certa pois você o está desempenhando.”
NR: O que é muito curioso
é que ambos - Helen a ateísta e Bill o agnóstico - aceitassem o conceito de
fazer algo assim. Como você conciliou isto? Certamente algo deve ter
desencadeado dentro de você.
WT: Durante aquele verão
de 1965, tivemos muitas experiência que chacoalharam meu sistema de crença e me
levaram a ser mais receptivo para a possibilidade da intervenção divina. Quando
o Curso começou, eu diria que não era realmente mais um agnóstico.
Helen, no entanto, teve
grandes dificuldades com o Curso considerando suas próprias crenças pessoais.
Ela continuou a questionar o que estava acontecendo com ela no tempo em que ela
estava transcrevendo o Curso, e não tenho certeza se ela algum dia foi capaz de
conciliar o que ela estava fazendo com o que ela era.
NR: É interessante como você
freqüentemente usa a palavra “missão” em relação ao seu envolvimento e o de
Helen com o Curso. Por quê?
WT: Bem, os eventos que
vivenciamos que conduziram ao ditado do Curso parecia para nós uma preparação
para uma missão que de alguma forma, em algum lugar, tínhamos combinado em
fazer juntos. Num certo sentido estávamos cumprindo a nossa função.
NR: Os eventos que você
refere como precedentes ao ditado do Curso pela Helen envolveram um número de
experiências psíquicas e místicas que ela teve. Você teve experiências
similares?
WT: Sim, mas nunca
pareciam tão dramáticas como os da Helen. No entanto, um que teve um efeito
profundo em mim ocorreu no domingo de Páscoa de 1970. Eu tinha combinado levar
Jean, uma artista idosa, para jantar no Greenwich Village com alguns outros
amigos artistas. Estava muito frio, um dia típico de inverno tempestuoso, com
chuva de granizo e ventos fortes - incomum para aquela época do ano. Estando
sem carro, percebi que ia ter muita dificuldade para conseguir um táxi, então
meditei brevemente sobre o que fazer. Recebi uma mensagem clara que eu devia ir
para a esquina da rua 78 com a Quinta Avenida, perto de onde eu morava,
exatamente às 3:15, e o problema teria sido resolvido. Tive uma resistência
enorme para fazer isso, mas do mesmo jeito vesti minha roupa de tempestade,
andei até a esquina, e tentei chamar um táxi. Como eu estava competindo com
todos os porteiros da Quinta Avenida, parecia totalmente inútil.
Então só por um momento
fechei meus olhos e abandonei todos os meus pensamentos conturbados, dizendo
para mim mesmo: “Obrigado, Pai, isto já está feito.” E por um instante eu
realmente acreditei nisso. Quando abri meus olhos, uma limusine guiado por um
chofer tinha parado bem na minha frente na esquina e o motorista baixou os
vidros e perguntou, “Posso te ajudar senhor?” Isto, qualquer um que esteve em
Nova Iorque ou morado lá, sabe que era altamente improvável de acontecer.
Eu fiquei muito tentado em
perguntar porque ele tinha parado para mim, e então percebi que esta seria uma
pergunta inapropriada. Eu devia simplesmente aceitar este presente. Entrei e
fomos até a Jean para pegá-la. Ela ficou felicíssima que eu fui apanhá-la numa
limusine!
Uma coisa interessante,
também, é que eu não tinha discutido o preço com o motorista. Ele simplesmente
me pegou sem nenhuma pergunta, e quando chegamos no nosso destino perguntei
quanto era, e ele me disse algo ridículo como cinco dólares. Eu acho que dei a
ele muitas vezes mais do que aquela quantia por causa da minha enorme gratidão
e alívio.
NR: Que outras
experiências semelhantes?
WT: Enquanto estávamos no
processo de transcrição do material do Curso, eu rezei para que pudéssemos
encontrar um exemplo vivo de professor - alguém que incorporasse esses
ensinamentos em sua própria vida. Mais ou menos nesta época um padre amigo meu,
Padre Michael, me falou de Madre Teresa da Índia. Devidamente impressionado, eu
obtive uma copia de “Something Beautiful for God” de Malcolm Muggeridge, o
primeiro livro que descreve o espantoso trabalho de cura da Madre Teresa com os
mais pobres dos pobres.
Pouco depois de ter lido o
livro, Padre Michael me informou que Madre Teresa atualmente estava em Nova
Iorque. Recentemente ela tinha fundado um Centro em Nova Iorque para sua ordem
no Sul do Bronx - naquela época, a pior de todas as áreas dominada pela pobreza
e criminalidade em Nova Iorque - e tinham pedido a ele para ajudar a facilitar
seus preparativos do local. Ele convidou a Helen e a mim para juntar-se a ele
para visitá-la no Bronx.
Inicialmente, me senti apreensivo
por ter minhas preces respondidas, pois eu não tinha a certeza que eu estava
preparado para encontra uma santa viva. No entanto, quando esta minúscula
mulher nos encontrou graciosamente com suas palmas estendidas, senti quase que
uma sensação de alívio instantâneo. Era como se eu a sempre tivesse conhecido.
Completamente abnegada e sem pretensão, ela radiava alegria do total
compromisso espiritual. Mais tarde, quando ela se virou para mim e disse,
“Doutor, você não gostaria de ir à Índia? Há tanto que você poderia fazer para
ajudar os pobres.” Senti um impulso quase irresistível para responder, “Sim!”
Eu me encontrei com Madre
Teresa em inúmeras ocasiões desde aquele tempo, incluindo uma visita que ela
fez com o Padre Michael em nossos consultórios no Centro Médico um ano antes da
Helen se aposentar. Para mim, sua vida é uma demonstração de importância de
total dedicação e consistência completa no caminho espiritual. Nossas preces
são respondidas, embora freqüentemente das formas mais inesperadas.
NR: Houve uma especulação
de que você e Helen editaram o Curso. Editaram?
WT: Não. Tenha em mente
que no começo não sabíamos exatamente o que estava acontecendo. Então fizemos
perguntas de natureza pessoal e registramos as respostas que Helen recebia. Eu
datilografava essas respostas como parte de um processo contínuo, sem
distingui-los do ditado interior que Helen estava registrando com seu caderno
de taquigrafia. Mais tarde, quando percebemos que este material obviamente não
era parte do Curso, nós, de fato, o apagamos. É verdade que houve edição de
maiúscula, pontuação, parágrafos e títulos de seção no Texto. No entanto, essas
mudanças foram pequenas e o Livro de Exercícios e o Manual para Professores
também aparecem exatamente como foram anotados por Helen.
NR: Poderia dar um exemplo
do material pessoal que vocês apagaram?
WT: Ah, havia perguntas
como, “Há alguma coisa que deveríamos estar fazendo que aumentaria nossa
habilidade para meditar melhor?” Havia também alguns comentários sobre teorias
psicológicas que foram introduzidas como digressão intelectual no início, que
não tinham nada a ver com o Curso.
NR: Resumidamente, qual
você acha que é o propósito do curso?
WT: Nos ajudar a mudar
nossas mentes sobre quem somos e o que é Deus, e nos ajudar a desapegar,
através do perdão, nossa crença na realidade da nossa separação de Deus.
Aprender a como nos perdoarmos e perdoarmos os outros é realmente o ensinamento
fundamental do Curso. O Curso nos ensina a como nos conhecermos e como
desaprender todas aquelas coisas que interferem com o nosso reconhecimento de
quem somos e sempre fomos.
NR: Por que você acha que
ele foi nomeado “Um Curso Em Milagres” Por que não um Curso em Amor ou Perdão
ou Verdade?
WT: Por boas razoes, nós
percebemos mais tarde. Eu me lembro, no entanto, quando Helen me ligou naquela
noite memorável e disse que uma voz interna estava ditando para ela e ficava
repetindo, “Este é um curso em milagres, por favor tome notas.” Naquela época,
eu certamente não respondi positivamente ao título. No entanto, quando você
entra no Curso e então na definição do que é um milagre, realmente faz sentido.
De fato, é o único nome apropriado para o Curso.
NR: E um milagre é …
WT: Eu acho que um milagre
é o amor que sustenta o universo. É a mudança na percepção que remove as
barreiras ou obstáculos para nossa consciência da presença do amor em nossas
vidas.
O Curso também nos diz que
não há ordem de dificuldades em milagres - um não é mais difícil do que outro,
já que a expressão do amor é sempre máxima.
NR: Qual foi a sua reação
como um psicólogo quando o Curso apresentou o conceito de que há somente duas
emoções: amor e medo?
WT: Eu me lembro bem
nitidamente datilografando esta seção, “Você tem somente duas emoções, medo e
amor, uma você fez e uma foi dada a você.” E me lembro de pensar que esse
conceito realmente toma conta do problema psicológico de diferentes estados
emocionais por completo. E é verdade, por exemplo, que raiva é simplesmente uma
expressão de medo em ação. Não posso ficar bravo a menos que primeiro me sinta
ameaçado de alguma forma, que significa que estou com medo. O amor é realmente
a única outra emoção que existe, e ele simplificou bem as coisas para se
reconhecer isso como um fato.
NR: E o que é amor pela
sua definição?
WT: Muito simplesmente,
amor é ausência de medo. Você poderia também dizer que medo é ausência de amor.
Amor e medo não podem coexistir ao mesmo tempo, embora muitos de nós tentemos
viver como se eles pudessem. Nós tentamos equilibrar um pouco de medo com um
pouco de amor, e esperamos que possamos saber a diferença. Ainda assim quando
nos desapegamos do medo por um instante, o amor está lá automaticamente. Não é
algo que temos que achar ou procurar, amor simplesmente é.
É bem parecido com o sol
que está escondido pela neblina num dia enevoado. Embora não possamos ver o
sol, sabemos que ele está lá. No momento em que a névoa desaparece podemos
vê-lo. É o mesmo caso para nós, no momento que paramos com os nossos
pensamentos de medo podemos aceitar o amor e a luz que sempre estão lá.
NR: Isto realmente implica
em confiar que está sempre lá, ainda assim parece que somos sempre trazidos
para um lugar, como se fosse um precipício, e pedem para darmos mais um passo,
com fé de que ainda está lá. É realmente difícil de ser fazer, ou reunir a
confiança para fazer.
WT: Freqüentemente me
refiro a isso em minha própria vida como “brinkmanship* celestial” - quando
estamos lá fora, caminhando sobre a prancha sem saber o que vai acontecer em
seguida. Mas de que outra maneira pode se dar o aumento da nossa consciência do
nosso potencial dado por Deus se não nos arriscamos a mergulhar no
desconhecido? Eu acho que todos nós temos que estar pelo menos parcialmente
dispostos a tentar descobrir se há uma maneira diferente e melhor de viver,
senão nós simplesmente preservaremos o mesmo velho padrão em nossas vidas.
*A prática de buscar
vantagens, dando a impressão de estar disposto e ser capaz de levar adiante uma
situação extremamente perigosa até o limite em vez de ceder.
NR: O Curso também faz uma
distinção entre o ego e o Ser em outros termos que não são convencionais. Qual
foi a sua reação a isso como um psicólogo?
WT: O termo “ego” como é
usado no Curso se refere ao ser superficial ou falso, que se identifica com o
corpo como sua forma de expressão externa. Esta identificação corpo-ego é o ser
que nós fizemos como contraste ao Ser espiritual que Deus compartilha conosco.
O ego é realmente nossa crença num ser separado de Deus. A projeção deste
pensamento de separação ergue um mundo de forma. O ego acredita que este mundo
fenomenal existe independentemente, apesar de não ter existência à parte da
mente dividida que o projetou.
NR: Um dos conceitos mais
provocativos que o Curso apresenta é que este mundo é ilusório, não real, e que
Deus não está realmente envolvido. Que Deus está somente envolvido e preocupado
conosco, não com as nossas coisas, e que somos nós que as valorizamos, e não
Deus. Este é um conceito muito difícil de se entender e lidar, não é?
WT: Sim realmente. É um
desafio e um problema para todos nós. Mas como você sabe, muitos físicos do
século vinte escreveram extensivamente sobre as implicações da mecânica
quântica no misticismo e pensamento místico.
Ken Wilburn recentemente
editou um livro intitulado “Quantum Questions” que lida com o assunto da
realidade física e experiências místicas nas anotações de Einstein, Heisenberg,
Eddington, Schroedinger e diversos físicos vencedores do Prêmio Nobel. Wilber
salienta que todos estes notáveis cientistas desenvolveram uma visão
transcendental ou mística do mundo. Enquanto físicos modernos não provam que o
misticismo é verdadeiro, ao menos removem maiores bloqueios teoréticos da
possibilidade da realidade espiritual. De fato, o material sólido do universo
se dissolveu em uma serie de equações matemáticas abstratas.
A questão aqui é que
muitos físicos vêem o mundo material da mesma forma que o Curso vê: que este
mundo é ilusório já que a matéria física não é mais compreensível em termos de
consciência sensorial. De alguma forma nós estamos percebendo algo que não está
lá, e é a nossa percepção que dá realidade. Então a questão é qual é a natureza
do poder que sustenta e está por trás de todas as formas?
A ênfase do Curso em
mudança ou deslocamento de percepção se aplica a tudo em nossas vidas, não
simplesmente ao universo externo, mas também e mais particularmente aos nossos
relacionamentos – a forma que olhamos para nós mesmos e os outros. Conforme
mudamos esta percepção, ou melhor, conforme mudamos nossas atitudes de medo
para amor, de culpa para total aceitação, então o que vemos como o universo
limitado e confinado também muda.
Qualquer coisa que é
perecível é visto como uma ilusão, e qualquer coisa que é eterna é conhecimento
verdadeiro e vem de Deus. O objetivo do Curso, então, é nos capacitar a mudar
nossa percepção ao ponto onde Deus pode nos levar para o domínio do
conhecimento. Seu propósito imediato é nos ajudar a remover os obstáculos da
nossa consciência da presença do amor em nossa vida diária. Que é tudo sobre o
milagre. Quando começamos a reconhecer e aceitar a presença do amor de Deus em
nossas vidas, muitas dessas outras questões que levantamos simplesmente
desaparecem. Elas não tem mais relevância nenhuma, porque são questões que o
ego pergunta baseado na percepção de um universo limitado e confinado.
NR: Um outro conceito
difícil de lidar no Curso é que quando reconhecemos ilusões pelo que são nos
podemos rir delas. Bem, certamente, crises emocionais são bem verdadeiras e não
são engraçadas para muita gente, tais como morte, tristeza, dor, fome, etc.
como você lida com isso?
WT: O Curso sugere que
esquecemos de rir no momento em que, pela primeira vez começamos a acreditar
que ilusões eram reais. Talvez uma maneira na qual podemos encontrar nosso
caminho de volta para nossa natureza real é começar a rir da tolice de muitas
das nossas crenças. Norman Cousins já demonstrou a importância do riso no
processo da cura.
Por exemplo, a fim de
ajudar alguém, tanto em psicoterapia com no dia-a-dia, eu não acho que podemos
nos identificar com o problema. O que precisamos fazer é nos identificarmos com
a Resposta. Já que qualquer problema é sempre alguma forma de medo, culpa ou
separação. Nossa responsabilidade é nos identificarmos somente com a Resposta
que funciona. Ao oferecer o Amor de Deus de qualquer forma que seja apropriada,
estamos oferecendo a única resposta que é possível dentro deste mundo. Isto
certamente não implica uma falta de compaixão, muito pelo contrário. Se eu me
identifico como o problema que você ou qualquer outra pessoa tem, isto
simplesmente significa que eu vou sofrer também. E quando eu me junto com você
em sofrimento, ninguém ganha – em vez disso ambos perdemos por reforçar o
problema.
O Curso diz que todos os
nossos problemas brotam de uma crença que somos separados de Deus, e a única
saída para isso é estender o milagre do amor, que é a nossa herança natural.
NR: Algumas das pessoas
que começam a estudar o Curso, inicialmente ficam desapontadas que ele não lida
especificamente com algumas questões pessoais e vitais, como o sexo. Por que
ele não lida com isso?
WT: Como você sabe, o
enfoque real do Curso está no treinamento da mente. Sua ênfase está no
desenvolvimento espiritual ao invés de reforçar nossa identificação do
corpo-ego.
Mas não há nada no Curso
que proíba o sexo. O que ele diz é que o corpo é um veículo neutro para a
comunicação do amor. O que eu acho que o Curso está tentando ressaltar é que a
união física nunca poderá resolver o problema do nosso senso de separação de
Deus. Só pode ser um substituto para nossa tentativa de união com Deus. E por
isso que satisfação física como uma meta num relacionamento nunca é duradouro,
nunca permanente para unir indivíduos. E o mesmo é verdade para muitos outros
impulsos físicos e emocionais que temos que brotam do ego – coisas que nós
fazemos para tentar permanentemente nos unir com outros, que sempre resultam em
fracasso.
NR: Um outro assunto
específico não discutido no Curso e uma preocupação para aqueles que o estudam
é o assassinato – lidando com isso como uma ilusão ou através do perdão.
WT: Talvez a dificuldade
está em perceber o outro como um corpo somente. Eu acho que esta é a equação
fundamental do corpo-ego, que é responsável por uma quantidade enorme da nossa
infelicidade, o real âmago disso.
Sem dúvida nenhuma,
assassinato é uma assunto muito emotivo para todos nós. Mas a transformação
interior da qual estamos nos referindo aqui tem a ver com a nossa própria
mudança na percepção, nossa própria habilidade para reconhecer que o medo é um
problema que todos nós temos. Se ele toma a forma de assassinato, ataque ou
perda, o que nós queremos aprender é como ensinar amor para que o medo não mais
seja parte da nossa consciência. Na medida em que mudamos nossa própria
consciência e nossa própria conscientização, nós estamos ajudando todo mundo a
fazer a mesma coisa, e eu acho que é através desse processo que nós fazemos a
nossa contribuição para uma sociedade mais sã e um mundo mais são.
NR: Uma outra preocupação
vital nesta vida é a morte, morrer. Por que o Curso não lida com isso para a
paz da nossa mente?
WT: Eu acho que ele o faz.
O Curso diz muito claramente “Não há morte. O Filho de Deus é livre.”
De certo modo, já que nós
fomos criados eternos, nós literalmente nunca nascemos, portanto, nunca podemos
morrer. Isto é, dentro a estrutura da eternidade, nós temos sempre existido
como uma extensão do Amor de Deus. Eu acho que a noção de almas recém-nascidas
vindo a este mundo material por alguns anos, e então seguindo para o além não é
uma lição que o Curso ensinaria. O Curso repetidamente declara que nós
permanecemos como Deus nos criou; permanecemos aspectos eternos do espírito e
nunca fomos limitados à forma. Quando o corpo não mais está vivo e animado,
simplesmente significa que não temos mais uso para ele. Nosso corpo não tem
nada a ver com estar vivo ou morto porque nosso corpo não é a nossa verdadeira
identidade.
NR: E quanto aos animais,
então? Já que o Curso não os menciona também, onde eles se encaixam, ou até
mesmo os insetos ou plantas e árvores?
WT: O Curso freqüentemente
usa a frase “todas as coisas vivas”. Mais uma vez, o que quer que tenha vida
tem vida eterna. Já que toda vida brota de Deus e é um e inseparável,
certamente a força da vida que dá vida aos animais e plantas é a mesma força da
vida que nos dá vida. E eu estou sempre impressionado com o que os animais
podem nos ensinar. Quão rapidamente um cão, por exemplo, consegue nos perdoar
por pisarmos em sua pata. Ele não guarda rancores, mas nos demonstra amor
instantâneo no momento em que abrimos a porta. Qualquer que sejam as mágoas que
poderiam haver não são levadas na mente de um cão. Então eu acho que animais de
estimação são professores maravilhosos do perdão para todos nós. Eles são
extensões do amor de Deus para trazer alegria e dimensões adicionais de amor
para dentro de nossas vidas.
NR: E quanto a matar
certos animais e comê-los? Como isso se encaixa com o abraçar toda a vida e
tentar não ser separado dela?
WT: Muitas pessoas
escolheram ser vegetarianos por razões muito boas. Qualquer coisa que aumente o
nosso senso de culpa não faria parte de nosso interesse próprio esclarecido.
Então acho que os estudantes do Curso irão determinar o que é certo para eles
por ouvirem suas próprias orientações internas.
Jesus nos ensinou a não
ficar tão preocupado com o que colocamos na nossa boca, tanto quanto o que
deixamos sair dela. Então não é o que nós comemos, mas os nossos pensamentos e
como nos relacionamos com os outros que testemunha o nosso progresso
espiritual. O que é importante é a oportunidade que temos a cada momento de
escolher entre expressar medo ou amor em nossas vidas.
NR: Por esta premissa,
então, poderíamos concluir que corpos não são vida.
WT: O corpo é um veículo
de comunicação e aprendizado – a fonte da vida é sempre espiritual.
O Curso nos ensina que
toda vez que temos perguntas sobre qualquer uma de nossas decisões ou escolhas
nesta vida nós podemos pedir ajuda, fazendo isso do nosso guia interior ou como
o Curso refere-se a ele, o Espírito Santo.
NR: Em relação à
orientação interna, o Curso nos previne sobre obtê-la do ego, não previne? Como
se distingue entre ele e o Espírito Santo? Como você sabe quem está falando?
WT: Bem, o Curso diz que o
ego sempre fala primeiro e que está errado. A fim de ouvir nossa orientação
interna devemos aquietar nossa mente, estarmos dispostos a abandonar qualquer
investimento na resposta e ouvi-la em quietude, a pequena voz dentro de nós. O
fato de que a nossa orientação interna nunca é estridente, mas que fala conosco
com uma voz amorosa e pacífica, é um sinal de sua autenticidade, eu acho que
todos nós temos que aprender com a prática para fazer esta distinção.
NR: Como você,
pessoalmente, lida com este problema?
WT: Se eu não me sinto em
paz, eu estou escutando a superfície estática do meu ego. Então escolho de
novo, e tento abandonar as interferências para que eu possa ouvir a voz gentil
do meu guia interno.
O Curso identifica esta
Voz como a do Espírito Santo. Ele também diz que Jesus está igualmente
disponível para todos nós desta maneira, o tempo todo. Desta forma, Jesus é
referido como nosso sábio irmão mais velho, cuja mensagem não é diferente da
mensagem do Espírito Santo, já que os professores de Deus todos têm a mesma
mensagem.
NR: Você acha que tais
referências tão inconvencionais a Jesus e ao Espírito Santo, como também aos
outros “novos” conceitos em relação ao Cristianismo, são contraditórios aos
Cristãos tradicionais?
WT: Bem, eu acho que se
você voltar aos ensinamentos originais de Jesus, a resposta é não.
Por exemplo, o Curso ilumina
e amplia os ensinamentos de Jesus sobre a importância fundamental do amor e do
perdão. Eu acho, talvez, que a religião institucionalizada tem às vezes perdido
de vista a essência daquela mensagem pela ênfase na culpa.
NR: Então, você não acha
que o Curso desafia o Cristianismo, ou qualquer uma das religiões de hoje?
WT: Eu acho que o Curso
está claramente de acordo com a perpétua filosofia essencial de todas as
grandes religiões. Embora hajam algumas diferenças fundamentais, como o Curso
enfatiza sobre desistir da nossa crença na realidade do pecado e culpa.
Religião, como eu a vivenciei quando era mais jovem, parecia enfatizar os
aspectos negativos.
O Curso, no entanto,
continuamente nos diz que somos sem culpa; que permanecemos como Deus nos
criou; que podemos estar enganados, mas que enganos pedem correção e não
punição. Conceitos de culpa, pecado e punição são totalmente alheio à
orientação do Curso. O Curso afirma inequivocamente que o amor é a nossa única
realidade e, “Amor não mata para salvar.”
Qualquer religião que
enfatiza o medo, a culpa e a separação de Deus, obviamente teria problemas com
o conceito da total unidade e amor do Curso. No entanto, o Curso não discute
religião institucional, e não aconselha ninguém a desistir de ser membro de uma
Igreja. Na verdade, eu acho que o material do Curso seria muito enriquecedor
para as pessoas que querem desenvolver uma vida espiritual mais rica dentro da
sua própria tradição; é ecumênico.
Eu sei que há alguns
pastores, George McLaird da Igreja Presbiteriana em Sausalito, Califórnia é um
deles, que ensinam o Curso regularmente em suas igrejas. E muitas pessoas
afiliadas a Unity Church em todo o país estão ativamente envolvidas nos
ensinamentos do Curso como está o Rev. Terry Cole-Whittaker, que tem um ministério
de grande alcance na televisão.
NR: Você diz que o curso é
ecumênico, mas o Curso é decididamente de natureza Cristã, utilizando os
fundamentos Cristãos do Pai, Filho e Espírito Santo.
WT: Isso é verdade. O
Curso realmente utiliza a terminologia Cristã, mas ao mesmo tempo ele transmite
verdades espirituais que é talvez a razão pela qual pessoas de todas os credos
podem achá-lo valioso. Eu acho que o curso declara isso muito bem quanto diz,
“Uma teologia universal é impossível, mas uma experiência universal não é
somente possível como necessária”.
Logo depois que começamos
a transcrever o material, eu comecei a ler muito vastamente a literatura
mística do mundo. Um dos escritores mais antigos que me impressionou
profundamente foi Vivekananda, em sua exposição da filosofia Vedanta da Índia.
Ele foi um discípulo do Ramakrishna que no final de 1800 e no início deste
século fundaram diversos ashrams de Ramakrishna e centros de ensino neste país.
A filosofia Advaita Vedanta como exposta pela Vivekananda parecia ter algumas
similaridades gritantes com os ensinamentos do Curso, embora o contexto e
linguagem sejam diferentes. Ao mesmo tempo eu me lembro de ter pensado que o
Curso poderia ser descrito como uma forma de Vedanta Cristã.
Estudantes do Budismo me
dizem que as similaridades entre o Curso e os ensinamentos Budistas são muito
gritantes. Interessantemente também, é o fato de que muitas pessoas afiliadas
ao Curso vieram de educação Judaica, e acharam extraordinariamente
significativo e útil apesar da terminologia Cristã.
Então, estou impressionado
do quão ecumênico o Curso é, e que o seu propósito não é aumentar o nosso senso
de separação, mas unir as pessoas. E estou vendo isso acontecer por todos os
lados com centenas de grupos de estudo que são formados por pessoas de todas
posições sociais e religiões que vem regularmente discutir e estudar o Curso.
Para mim, isto demonstra a junção espiritual, e uma disposição de abandonar o
senso de separação de um com o outro ou de Deus. Isto é realmente tudo o que o
curso é.
As experiências que somos
capazes de retirar por seguir os ensinamentos do Curso são muito mais
importantes do que ser pego em qualquer armadilha semântica sobre os termos em
particular. Então, eu sou a favor do extenso uso ecumênico dos conceitos do
Curso em uma variedade de contextos, e sei que as pessoas estão fazendo isso,
eu aplaudo isso.
NR: E quanto ao uso
exclusivo dos termos masculinos no Curso, tais como Pai e Filho, Dele ou Ele,
em relação às estudantes?
WT: Eu sei que algumas
mulheres ficaram perturbadas pelo uso da terminologia masculina e pensaram em
substituir por termos femininos. Muitas que consideraram fazer isso concluíram
que Mãe e Filha, Dela e Ela somente iria para a outra polaridade. Outras acham
que usando a palavra “Espírito” - um termo totalmente neutro e andrógino –
resolve o problema delas.
NR: Como tem sido a reação
de tudo isso entre os seus antigos amigos e colegas? Simpatizantes,
amparadores, dissociativos, preocupados?
WT: Não tenho tido contato
com muitos deles, embora os poucos com quem tenho contato são simpatizantes com
o material. Eu não tenho idéia de qual seria a reação geral entre meus antigos
colegas, nem tentei descobrir. No entanto, tenho certeza que muitos deles
teriam pensado que eu e Helen estávamos loucos naquela época se eles tivessem
sabido o que estávamos fazendo. Apesar disso, tenha em mente que tudo começou
em 1965, e agora é 1984, eu acho que há muito mais receptividade aos conceitos
espirituais do que havia dezenove anos atrás. Então, talvez não é realmente
justo especular isto agora.
NR: Então, naquela época,
você e Helen não mostraram nada para ninguém, mantiveram escondidas as suas
atividades e completamente em segredo.
WT: Sim. E certamente eu não teria mostrado
isso a eles. Eu tinha mais senso do que isso. Minha missão como eu encarei era
eu mesmo aprender o que tinha no material e não confundir minhas
responsabilidades no Centro Médico com a nossa transcrição do Curso. Mas como
eu disse, este é um outro dia, muito mais brilhante.
NR: O que você acha disso tudo agora; o
fato de que você era uma parte especial e integral daquilo que algumas pessoas
proeminentes têm se referido a “Um Curso Em Milagres” como um dos documentos
mais importantes do século?
WT: Francamente, Helen e eu não tínhamos a
intenção de publicar o Curso quando estávamos transcrevendo-o. Muito pelo
contrário. O material parecia especificamente para a nossa educação espiritual.
Nós nos referíamos a ele como nosso “segredo culposo” algo que nos
comprometemos a fazer, mas naquela época não havia nenhuma indicação de que
deveríamos compartilhá-lo com outros.
Quando nós concordamos em tê-lo publicado
anonimamente, eu pensei que pouquíssimas pessoas se interessariam em mudar as
suas percepções através dos métodos sugeridos pelo Curso – achei isso difícil
demais. Certamente em toda a minha vida, eu nunca esperei que milhares de
pessoas se refeririam ao Curso como o mapa deles para casa.
Sou grato por Helen e eu termos sido
capazes de completar nossa parte em tornar o Curso disponível, e sou igualmente
grato ao grande número de estudantes hoje que estão fazendo suas próprias
contribuições de muitas maneiras diferentes. Com muitas traduções já a caminho,
é evidente que os conceitos do Curso continuarão a alcançar inúmeros leitores.
É maravilhoso saber que tantas pessoas
espalhadas no mundo todo estão utilizando o Curso para facilitar o despertar
espiritual delas mesmas. Eu acho que o Curso declara o que está acontecendo com
clareza poética na seguinte passagem:
"Uma mente adormecida deve despertar,
à medida que ela vê sua própria perfeição espelhando ao Senhor da Vida tão
perfeitamente ela se desvanece no que esta refletido. E agora não é mais um
mero reflexo. Ela se torna a coisa refletida e a luz que faz o reflexo
possível. Nenhuma visão agora é necessária. Pois a mente desperta é aquela que
conhece a sua Fonte, seu Ser, sua Santidade.”
NR: Quais são seus planos de agora em
diante?
WT: Atualmente estou trabalhando num livro
com Jerry Jampolsky, um psiquiatra, e Pat Hopkins, um escritor e editor,
baseado nos conceitos relacionados ao Curso. Este livro será publicado pela
Bantam em algum momento do próximo ano. Recentemente, completei um capítulo com
Roger Walsh, um outro psiquiatra, para o “The Comprehensive Textbook in
Psychiatry,” editado por Freedman e Kaplan, que também será publicado no começo
de 1985. Meus objetivos imediatos são continuar a exploração de maneiras nas
quais os conceitos do Curso possam ser aplicados na minha vida e estendidos
para ajudar os outros.
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