O texto abaixo é a transcrição do vídeo de Ken Wapnick com legendas em português de Portugal
“Esta
tarde vamos falar sobre a tentativa do ego de conciliar o inconciliável. Na
verdade, este pensamento é apresentado, com muita clareza no panfleto
Psicoterapia, onde Jesus fala sobre o papel da religião na psicoterapia, no
qual ele diz que a religião forma não se encaixa na psicoterapia. E depois acrescenta
que a religião nem sequer se encaixa nela mesma... querendo dizer que, assim
que formalizamos uma crença religiosa, ela deixa de ser o que ela realmente é.
Muito semelhante à famosa declaração atribuída a Buda, que diz que o que se
conhece como sendo os ensinamentos de Buda, não são realmente os
ensinamentos de Buda.
Assim
que passamos algo para a forma, ela deixa de ser o que realmente é.
E
é por isso que a mensagem de Um Curso em Milagres está para além da forma, que
é a razão pela qual eu encorajo as pessoas, quando leem o Curso, a lê-lo sempre
como leriam um grande poema épico, deixando que as palavras, os símbolos, as
metáforas falem com elas, em vez de tentarem lhes impor um intelecto.
E
numa passagem daquela parte do panfleto Psicoterapia onde Jesus fala sobre
religião, ele diz que a tentativa de formalizar uma religião é uma tentativa de
conciliar o que não pode ser conciliado.
Por
outras palavras, é a tentativa de deslocar o conteúdo e coloca-lo na forma, e é
isso que todos tentamos fazer. Daí, enquanto alunos do Curso possamos dizer: Eu
sou muito bom aluno do Curso porque faço as lições com afinco. Ou algo que eu e
a Glória costumávamos ouvir frequentemente nos anos em que viajávamos pelo país
e pelo mundo, as pessoas dizerem: Ah, eu conheço o Curso em Milagres. Eu o fiz
no ano passado. Quando o que estavam na verdade querendo dizer é que tinham
feito os exercícios, e achavam que, por terem completado o livro de exercícios
isso significava que já tinham feito o Curso. E, novamente, isto é um exemplo,
da confusão entre forma e conteúdo.
Na
verdade, se alguém tivesse realmente feito o livro de exercícios, se
lembrar-se-ia que, bem lá no final, Jesus diz que este Curso é um princípio,
não um fim.
E
que, assim compreendermos o que o Curso está ensinando e depois de completarmos
o programa de treino de um ano do livro de exercícios, iremos, passar o resto
das nossas vidas com o nosso professor, o Espírito Santo ou Jesus, a por em
prática, dia após dia, o que as lições nos mostram, o que os ensinamentos do
texto nos mostram.
Por
outras palavras, como praticar o perdão, desde o momento em que acordamos até o
momento em que nos vamos deitar, e, na verdade, incluindo durante o sono.
Mas,
a partir do momento que passamos algo para a forma, e depois nos envolvemos com
a forma que isso tomou, estaremos tentando conciliar o inconciliável.
Forma
e conteúdo não combinam.
No
texto, no que, na realidade, é uma tentativa de corrigir aquilo que, de acordo
com o ponto de vista do Curso, é uma falha na compreensão fundamental da frase
do Evangelho de João... “No princípio era o Verbo, 0 Verbo era Deus, e o Verbo
se fez carne e habita em nós”, é claro que a referência é a Jesus. E, no
entanto, no Curso, Jesus diz que isso é impossível.
O
Verbo, que nesse contexto significa Espírito ou Cristo, não podem se fazer
carne, porque os dois são inconciliáveis. Espírito e carne, como Jesus diz
perto do final do Texto, são incompatíveis.
Ou
conhecemos o Espírito, ou reconhecemos a carne, mas não podemos fazer as duas
coisas. É aquele princípio de “tudo ou nada”, ou de “um ou o outro”, que o
Curso usa para nos ajudar a reconhecer a diferença entre verdade e
ilusão.
Jesus
nos diz que podemos escolher entre visão e julgamento, mas nunca ambos. Ou
somos mente, ou somos corpos. Ou olhamos através dos olhos do julgamento do
ego, ou através dos olhos da visão do Espírito Santo, mas não podemos fazer as
duas coisas.
Tentar
fazer as duas coisas é tentar conciliar o inconciliável.
É
o que acontece quando, por exemplo, dizemos, ou pensamos que o Curso em
Milagres é um livro.
Na
verdade ele é um conjunto de 3 livros, e as pessoas contam depois a história de
como o Curso foi escrito, como a Helen escreveu a sua mensagem , e isso passa a
ser um fato.
Bem,
não é um fato, é um mito, porque tudo neste mundo é um mito.
É-nos
dito para não confundirmos símbolo com fonte, então, quando falamos sobre como
o Curso foi escrito, quando falamos do Curso como sendo um conjunto de três
livros, isso são símbolos.
A
fonte, com a qual não devemos confundir o símbolo, a fonte é a mensagem, e a
mensagem vem antes das palavras.
A
mensagem é o amor – essa é que é a verdadeira, a fonte do Curso.
O
Amor é o que o Curso é.
Mas
quando nos deixamos envolver pela forma, e depois sentimos que temos que fazer
coisas com o Curso, quando nos deixamos envolver com rituais, quer sejam os das
religiões com as quais crescemos, ou os rituais que já começaram a surgir com o
próprio Curso, então estaremos confundindo forma com conteúdo.
Não
há nada de errado em fazer coisas ao nível do comportamento, porque, enquanto
corpos, temos que fazer coisas, mas não nos deixemos nos enganar pelo que
fazemos.
Então,
quando Jesus nos diz, na Lição 184, que nós usamos os símbolos do mundo, não é
porque eles sejam verdadeiros, ou porque acreditamos neles, mas porque essa é a
forma de comunicarmos uns com os outros.
Ele
nos diz para usarmos os símbolos, usarmos o Curso, na forma, mas não para nos
enganarmos, achando que o Curso é a forma. O importante é como vivemos as
nossas vidas, como demonstramos os princípios do Curso, e não os princípios, em
si mesmo.
Como
diz o manual, palavras são simplesmente símbolos de símbolos e por isso estão
duplamente afastadas da realidade. Então, o que queremos é usar as palavras do
Curso para chegar a essa realidade para além das palavras.
Dessa
forma, em vez de tentarmos conciliar forma e conteúdo, corpo e mente, nós
usamos o corpo, usamos a forma, como um meio de retornarmos à mente. Nós usamos
os símbolos para retornar à fonte, e é com ela que nos identificamos, e é isso
que nos tornará verdadeiros estudantes do Curso em Milagres.”
Tradução de Maria João Fajardo-Gearhart
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