Tentar uma
definição para o Um Curso Em Milagres seria exaustivo e, para nós do Grupo
Mera, infundado, por ser muito extensa sua abrangência como um curso para o
treinamento da mente. Ele poderia ser classificado como um curso de ensino, um
sistema filosófico, um curso para conhecimentos espirituais, um sistema
psicológico para autoconhecimento e talvez se encaixe em muitas outras
categorias ainda. Tentaremos, no entanto, começar pela sua história ou como
veio a surgir, para chegarmos mais perto de compreendê-lo.
O processo de
canalização do Um Curso Em Milagres durou sete anos. Sua escriba Helen Schuman,
e William Thetford, que a ajudou durante todo esse tempo, publicaram-no pela
primeira vez em 1976, nos Estados Unidos. Desde então, o Curso tem sido
publicado em muitas línguas em todo o mundo. Helen e William (Bill) eram ambos
psicólogos no Columbia Presbyterian Medical Center, em Nova Iorque, EUA. Helen
Schucman morreu em fevereiro de 1981 e William Thetford (Bill) em julho de
1988. Eles tinham muitas dificuldades em seus relacionamentos pessoais e
profissionais, entre eles mesmos, com outros membros do departamento e com
outros departamentos dentro do Columbia Presbyterian Medical Center.
Um dia se deu um
acontecimento que foi o momento crucial para que o ‘ditado’ do Um Curso Em
Milagres se iniciasse. Foi quando Helen e Bill precisavam atravessar a cidade
para ir ao Corneil Medical Center, onde assistiriam a uma reunião
interdisciplinar. Normalmente, essas reuniões eram desagradáveis, cheias de
competitividade e rivalidade. Helen e Bill não eram diferentes dos demais,
sendo muito críticos e julgadores das outras pessoas. Nesse dia, antes de sair
para a reunião, Bill, que era um homem calado, fez algo fora do seu normal: um
discurso passional dizendo a Helen que tinha “que haver outra forma de se lidar
com essas reuniões e com os tipos de problemas que lá surgiam. Ele sentia que
ambos deveriam ser mais capazes de aceitar e de amar, em vez de estarem tão
preocupados em competir e criticar” (Introdução básica a Um Curso Em Milagres –
Kenneth Wapnick, 1993). Helen respondeu de forma igualmente inesperada e nada
comum para ela. Ela concordou com Bill. Esse acordo também não condizia com a
maneira de ser habitual de ambos, pois os dois tendiam a criticar-se mutuamente
e tinham dificuldade em aceitar as opiniões um do outro. Além disso, ela se
comprometeu a ajudá-lo a encontrar essa “outra forma”. A união de ambos foi um
exemplo do que o Curso chama de “um instante santo”: foi aberta a porta para
uma série de experiências que Helen começou a ter quando estava desperta e
dormindo, em sonhos. Essa é uma das coisas mais interessantes sobre como o Um
Curso em Milagres surgiu: o próprio processo da sua transcrição e a sua
história nos dão um exemplo perfeito do que são os princípios básicos do Curso.
“A mensagem central
do Curso é que a salvação vem em qualquer momento que duas pessoas se unem para
compartilhar um interesse comum ou trabalhar para uma meta comum.”(Introdução
Básica a Um Curso Em Milagres – Kenneth Wapnick, 1993). Toda essa dinâmica sempre
envolverá algum aspecto do perdão. O perdão é o recurso didático ensinado pelo
Curso, e através do seu estudo, ficamos cada vez mais cientes de que não é o
mesmo perdão ensinado pelo mundo.
O processo todo da
transcrição do Curso foi bastante inesperado por causa da postura que Helen
tinha assumido nessa altura da sua vida. Ela tinha em torno de cinqüenta anos e
estava muito bem adaptada ao seu papel de ateísta militante, disfarçando com
astúcia seu enorme ressentimento contra um Deus que, em sua opinião, não havia
agido bem com ela. Assim, era agressiva diante de qualquer tipo de pensamento
que julgasse duvidoso, não científico, ambíguo ou impossível de ser estudado,
medido e avaliado. Ela era uma excelente psicóloga e pesquisadora; tinha uma
mente bastante lógica, analítica e aguda, sem nenhuma tolerância para idéias
que se desviassem disso.
Quando pequena
Helen tinha a capacidade psíquica de ver coisas que não estavam presentes, no
entanto, nunca prestou muita atenção a isso, pois achava que acontecia com
todas as pessoas. De fato, ela praticamente nunca tinha mencionado essas coisas
a ninguém, até aquele momento. Quando começou a ter as experiências com o
ditado do Curso, achou tudo muito surpreendente e assustador, pois parte dela
tinha medo de estar enlouquecendo. Aquelas coisas não eram normais na sua vida
e, se Bill não tivesse estado lá, é possível que ela tivesse parado com todo o
processo. Por isso é muito importante reconhecer o quanto a ajuda e a união
constante com Bill foi essencial. De outro modo Um Curso em Milagres nunca
teria sido transcrito.
Durante um período
naquele ano Helen teve muitas experiências acordada que mais pareciam um
seriado de TV. Vamos descrever aqui apenas uma delas por causa de sua especial
relevância para o ensinamento do Curso.
Nessa experiência
muito interessante Helen se viu entrando numa gruta muito antiga onde no chão
havia algo que se parecia com um pergaminho da Torá com duas varas nas quais
ele estava enrolado. Era muito antigo e o pequeno cordão que o amarrava caiu e
desintegrou-se assim que ela o pegou. Ela o desenrolou e na parte central
estavam as palavras “DEUS É”. Helen pensou que aquilo era muito bonito e então,
o desenrolou um pouco mais. Havia uma parte em branco à esquerda e outra à
direita. E uma voz disse-lhe: “Se olhar para a esquerda, você será capaz de ler
tudo o que se passou no passado; se olhar para a direita, será capaz de ler
tudo o que se passará no futuro”. Ela respondeu “Não, eu não estou interessada
nisso. Tudo o que eu quero é a parte central”. Voltou a enrolar o pergaminho de
maneira que a única coisa visível eram as palavras “DEUS É”. Nesse momento a
voz lhe disse “Obrigado. Desta vez você conseguiu”. Helen reconheceu que tinha
tido sucesso num certo tipo de teste, no qual obviamente falhara antes. O que
isto realmente expressou foi o seu desejo de não usar equivocadamente a
habilidade que possuía. Em outras palavras, ela não a usaria para conquistar
poder ou satisfazer a curiosidade. A única coisa que ela queria realmente era o
presente, onde Deus é encontrado. Há uma lição no Livro de Exercícios que diz
“Dizemos: ‘Deus é’ e então deixamos de falar”, porque não há nada mais a ser
dito além dessas duas palavras. O Curso enfatiza muito as idéias de que o
passado não existe e de que não devemos nos preocupar com o futuro, que também
não existe. Só devemos preocupar-nos com o presente, já que este é o único
lugar em que podemos conhecer Deus.
A experiência de
Helen com essa voz era como se ela tivesse um gravador interno. Podia ligar e
desligar a voz quando quisesse. No entanto, se a desligava por muito tempo
ficava aborrecida. Mas ela podia anotar o que a voz lhe dizia, apesar da
rapidez da fala – ter feito o curso de taquigrafia foi muito útil. Todas as
anotações eram feitas com Helen totalmente consciente. Não era uma escrita
automática, ela nunca entrava em transe ou algo desse tipo. Podia estar
escrevendo quando o telefone tocava, então ela parava, atendia o telefonema e
depois voltava e acabava o que estava escrevendo. Muitas vezes era capaz de
recomeçar de onde havia parado. O que passa a ser ainda mais impressionante
quando se pensa no Curso, é que grande parte dele é escrito em versos
(pentâmetros iâmbicos) e que Helen conseguia transcrever sem perder a métrica
ou o sentido do que a voz lhe dizia.
Talvez a coisa mais
assustadora nessa experiência tenha sido a voz que se identificava como Jesus.
Uma grande parte do Livro Texto é escrita na primeira pessoa, onde Jesus fala
bastante sobre a sua crucificação. O próprio Curso diz que não é necessário que
se acredite que é a voz de Jesus para que se consigam os benefícios
apresentados pelo Curso e que acreditar nisso não é necessário para praticar os
seus princípios. No entanto, há um capítulo sobre Jesus no Manual de
Professores que diz que não é preciso que o aceitemos para aceitar o Curso em
nossas vidas, mas que ele poderia ajudar-nos muito mais se nós o permitíssemos.
Na mente de Helen
não havia nenhuma dúvida de que era a voz de Jesus, o que tornava tudo muito
mais assustador e essa não era uma experiência feliz para ela. Ela o fazia
porque, de algum modo, acreditava que tinha que fazer. Uma vez Helen queixou-se
a Jesus: - Por que é que você me escolheu? Por que não escolheu uma boa freira
ou alguém assim? Eu sou a última pessoa no mundo que deveria estar fazendo
isto. E ele respondeu: - Não sei por que você está dizendo isso, porque afinal
de contas, você está fazendo. Ela não pôde discutir com ele, pois, de fato,
estava mesmo fazendo e obviamente era uma escolha perfeita. Helen anotava as
palavras do Curso todos os dias e no dia seguinte, sempre que havia um tempo
nas suas agendas super ocupadas, ela ditava a Bill o que tinha sido ditado a
ela e ele datilografava. Bill dizia brincando que precisava abraçá-la para
ampará-la com um dos braços enquanto datilografava com o outro porque ela tinha
muita dificuldade em ler o que tinha escrito. Foi assim que Um Curso em
Milagres foi transcrito e, novamente, esse processo ocorreu por um período de
sete anos.
O Um Curso em
Milagres consiste em três livros: um Livro Texto, um Livro de Exercícios para
estudantes e um Manual de Professores. O Livro Texto é o mais difícil de ler e
contém a teoria básica do Curso. O Livro de Exercícios consiste em 365 lições,
uma para cada dia do ano e é muito importante porque é a aplicação prática dos
princípios do Livro Texto. O Manual de Professores é o mais curto e o mais
fácil de todos, pois contém respostas para algumas das perguntas mais comuns
que as pessoas possam ter, podemos dizer que é um sumário de muitos dos
princípios do Curso. Quase como um apêndice temos o capítulo que trata do
esclarecimento de termos, que foi feito alguns anos depois de Um Curso Em
Milagres ter sido terminado e foi uma tentativa de definir algumas das palavras
que são usadas.
O livro (os três
livros que compõem o Um Curso Em Milagres), como nós o temos hoje, está
essencialmente tal como foi transmitido. Helen e Bill não fizeram correções. As
únicas mudanças que ocorreram foram devido ao Texto ter sido ditado inteiro,
sem partes ou capítulos, inclusive não havia pontuação ou parágrafos. Helen e
Bill fizeram o trabalho inicial de estruturar o Texto. Entretanto, em 1973,
Kenneth Wapnick os conheceu, se envolveu com o projeto e juntamente com Helen
reviu todo o manuscrito. Todos os capítulos e títulos, portanto, foram
definidos por eles.
O Curso não é um
movimento, uma religião, nem tampouco mais uma igreja. É estritamente um
sistema de ensino através do qual indivíduos podem encontrar o seu caminho para
Deus praticando seus princípios. No entanto, o Curso é bastante claro em dizer
que esse não é o único caminho para o Céu. No início do Manual de Professores
há uma passagem que diz que essa é apenas uma forma do curso universal entre
muitas outras.
Um Curso em
Milagres não é para todas as pessoas. Nada serve para todas as pessoas. Para
nós, Grupo Mera, é um caminho importante, que foi introduzido no mundo, mas
seria um erro não nos lembrarmos que não é para todos. Para aqueles em que este
não é o caminho, o Espírito Santo dará outra coisa. Lutar com o Curso, insistir
em estudá-lo quando não se sente confortável com ele e, portanto, viver a
experiência como um fracasso, é um erro. Isso é exatamente ir contra tudo o que
o Curso diz. O propósito do Curso não é tornar as pessoas culpadas, mas o
contrário. No entanto, para quem sente que este é o seu caminho, essa batalha
através do Curso vale muito a pena.
“Do meu ponto de
vista, Um Curso em Milagres é a melhor
integração que eu já vi de psicologia e espiritualidade.” (Kenneth Wapnick PhD)
A Fundação para a
Paz Interior (Foundation for Inner Peace – USA) publica e propaga o Um Curso em
Milagres e é a instituição responsável pelas traduções por todo o mundo.
Existem grupos de estudos em todos os países que nascem por si mesmos. Kenneth
Wapnick, membro fundador da FACIM, diz em seu livro Introdução Básica a Um
Curso Em Milagres, que essa instituição acha muito importante que não exista
uma organização que funcione como um ‘órgão de autoridade’ em relação ao Curso.
Helen, Bill e Ken
Wapnick nunca permitiram ser colocados na condição de gurus. Helen, inclusive,
era radicalmente clara a esse respeito. Ela não queria, de modo algum, ser
transformada na figura central do Curso. Sentia que a figura central do Curso
era Jesus ou o Espírito Santo e que era assim que devia ser. Essas pessoas
sempre souberam que fazer qualquer coisa diferente disso teria sido construir
uma estrutura semelhante a uma igreja, o que seria a última coisa no mundo que
o autor do Curso gostaria que acontecesse.
O Um Curso Em Milagres
resume no prefácio o que ele mesmo diz:
Nada real pode ser
ameaçado.
Nada irreal existe.
Nisso está a paz de
Deus. (UCEM P-XVIII)
_________
CUIDE BEM DE VOCÊ
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