13 de dezembro de 2014

O NOVO COMEÇO



Introdução

1. O novo começo agora vem a ser o foco do currículo. A meta está clara, mas nesse momento precisas de métodos específicos para atingi-la. A rapidez com que ela pode ser alcançada depende de uma única coisa: a tua disponibilidade para praticar cada passo. Cada um ajudará um pouco a cada vez que for tentado. E todos juntos estes passos te conduzem dos sonhos de julgamento aos sonhos que perdoam e para fora da dor e do medo. Eles não são novos para ti, são mais ideias do que regras de pensamento para ti por enquanto. Portanto, agora, nós precisamos praticá-los por algum tempo até que venham a ser as regras pelas quais vives.
Agora nós buscamos fazer com que sejam hábitos, de tal forma que venhas a tê-los à mão para qualquer necessidade.

I. Regras para decisões

1. As decisões são contínuas. Não é sempre que sabes quando as estás tomando. Mas, com um pouco de prática com aquelas que reconheces, começa a se formar um padrão que te conduz através do resto. Não é sábio deixar-te ficar demasiadamente preocupado com cada passo que dás. O padrão adequado, adotado conscientemente a cada vez que despertas, vai fazer com que avances bem. E se achares que a tua resistência é muito forte e que a tua dedicação é pouca, não estás pronto. Não lutes contigo mesmo. Mas, pensa no tipo de dia que queres, e dize a ti mesmo que há um caminho no qual esse dia pode acontecer exatamente assim. Então, tenta mais uma vez ter o dia que queres.

2. (1) O enfoque começa com o seguinte:

Hoje, eu não tomarei decisões por minha conta.

Isso significa que estás optando por não seres o juiz do que fazer. Mas também tem que significar que não julgarás as situações às quais serás chamado a responder. Pois se as julgares, terás estabelecido as regras segundo as quais deves reagir nelas. E nesse caso uma outra resposta não pode produzir senão confusão, incerteza e medo.

3. Esse é o teu maior problema agora. Ainda tomas a tua decisão e então resolves perguntar o que deves fazer. E o que ouves pode não resolver o problema da maneira como o encaraste a princípio. Isso conduz ao medo, porque contradiz o que percebes e assim te sentes atacado. E, portanto, com raiva. Existem regras através das quais isso não acontecerá. Mas de fato ocorre a princípio, enquanto ainda estás aprendendo como ouvir.

4. (2) Durante todo o dia, a qualquer momento em que penses a respeito disso e tenhas um momento quieto para reflexão, dize mais uma vez a ti mesmo qual é o tipo de dia que queres, os sentimentos que queres ter, as coisas que queres que te aconteçam e as coisas que queres experimentar e dize:

Se eu não tomar nenhuma decisão por mim mesmo, esse é o dia que me será dado.

Estes dois procedimentos, bem praticados, servirão para permitir que sejas orientado sem medo, pois a oposição não surgirá em primeiro lugar e, portanto, não poderá vir a ser um problema em si mesma.

5. Mas ainda assim existirão momentos nos quais já terás julgado. Agora, a resposta irá provocar ataque, a não ser que rapidamente endireites a tua mente a ponto de quereres uma resposta que funcione. Certifica-te de que foi isso o que ocorreu, caso não te sintas disposto a sentar-te e pedir que a resposta te seja dada. Isso significa que já te decidiste por conta própria e não podes ver a questão. Agora, precisas de uma rápida restauração, antes de perguntares outra vez.

6. (3) Lembra mais uma vez do dia que queres e reconhece que alguma coisa ocorreu que não é parte dele. Então, reconhece que colocaste uma pergunta por conta própria e necessariamente estabeleceste uma resposta nos teus próprios termos. Então, dize:

Eu não tenho nenhuma pergunta. Eu esqueci o que decidir.

Isso anula os termos que estabeleceste e deixa que a resposta te mostre qual foi realmente a questão.

7. Tenta observar essa regra sem demora, apesar da tua resistência a ela. Pois já ficaste com raiva. E o teu medo de receber uma resposta diferente do que a tua versão da pergunta pede crescerá em velocidade proporcional ao tempo, até que acredites que o dia que queres é aquele no qual consegues a tua resposta para a tua pergunta. E não a conseguirás, pois ela destruiria o dia por roubar-te aquilo que realmente queres. Isso pode ser muito difícil de ser reconhecido, uma vez que já tenhas decidido por tua própria conta as regras que te prometem um dia feliz. Entretanto, essa decisão ainda pode ser desfeita, por meio de métodos simples que podes aceitar.

8. (4) Se estás tão pouco disposto a receber que não podes sequer abrir mão da tua pergunta, podes começar a mudar a tua mente com isso:

Pelo menos, eu posso decidir que não gosto do que sinto agora.

Isso é óbvio, e prepara o caminho para o próximo passo que se torna fácil.

9. (5) Tendo decidido que não gostas do modo como te sentes, o que poderia ser mais fácil do que continuar com:

E assim eu espero ter estado errado.

Isso funciona contra o senso de resistência e lembra-te que a ajuda não está sendo imposta a ti, mas é algo que queres e da qual necessitas porque não gostas da maneira como te sentes. Essa abertura diminuta será suficiente para permitir que vás adiante com apenas mais alguns poucos passos que precisas dar para que te permitas ser ajudado.

10. Agora atingiste o momento da decisão, porque te ocorreu que sairás ganhando se o que decidiste não for assim. Até que esse ponto seja alcançado; acreditarás que a tua felicidade depende de estares certo. Mas esse tanto de razão já atingiste: viste que estarias melhor caso estivesses errado.

11. (6) Esse diminuto grão de sabedoria bastará para levar-te adiante. Não és obrigado a nada, mas simplesmente esperas receber uma coisa que queres. E podes dizer com perfeita honestidade:

Quero um outro modo de olhar para isso.

Agora mudaste a tua mente a respeito do dia e lembraste do que realmente queres. O propósito que ele tem não mais é obscurecido pela crença insana segundo a qual o queres com a meta de estares certo, quando estás errado. Assim, o fato de estares pronto para pedir é trazido à tua consciência, pois não podes estar em conflito quando pedes o que queres e vês que é isso que pedes.

12. (7) Esse passo final não é senão o reconhecimento da ausência de resistência para receberes ajuda. É a declaração de uma mente aberta, que ainda não está certa, mas está disposta que lhe mostrem algo:

Talvez haja um outro modo de olhar para isso.
O que posso perder por perguntar?

Assim podes agora colocar uma pergunta que faz sentido e assim a resposta também fará sentido. Tampouco lutarás contra ela, pois vês que és tu que serás ajudado por ela.

13. É preciso ficar claro que é mais fácil ter um dia feliz se impedires completamente a entrada da infelicidade. Mas isso requer prática das regras que irão proteger-te da devastação do medo. Quando isso tiver sido conseguido, o triste sonho de julgamento terá sido para sempre desfeito. Mas, por enquanto, tens necessidade de praticar as regras do seu desfazer. Vamos, então, considerar mais uma vez a primeira das decisões que são aqui oferecidas.

14. Nós dissemos que podes dar início a um dia feliz com a determinação de não tomares decisões por tua própria conta. Isso parece ser uma decisão real em si mesma. E, no entanto, não és capaz de tomar decisões por ti mesmo. A única questão realmente é: com que ajuda escolhes tomá-las. Isso é tudo na realidade. A primeira regra, então, não é a coerção, mas uma simples declaração de um simples fato. Não tomarás decisões por conta própria seja o que for que venhas a decidir. Pois elas são tomadas com ídolos ou com Deus. E pedes ajuda ao anticristo ou ao Cristo, e aquele que escolheres unir-se-á a ti e te dirá o que fazer.

15. O teu dia não é ao acaso. Ele é determinado por aquilo com o qual escolhes vivê-lo e pelo modo que o amigo a quem procuraste para pedir conselhos percebe a tua felicidade. Tu sempre pedes conselho antes de te decidires por qualquer coisa que seja. Deixa que isso seja compreendido e verás que não pode existir coerção aqui, nem justificativas para resistência para que possas ser livre. Não existe liberdade em relação ao que não pode deixar de ocorrer. E se pensas que existe, não podes deixar de estar errado.

16. A segunda regra, do mesmo modo, não é senão um fato. Pois tu e o teu conselheiro têm que estar de acordo em relação ao que queres antes que possa ocorrer. É só esse acordo que permite que todas as coisas aconteçam. Nada pode ser causado sem alguma forma de união, seja um sonho de julgamento ou a Voz por Deus. Decisões causam resultados porque não são tomadas em isolamento. Elas são tomadas por ti e pelo teu conselheiro, para ti mesmo e também para o mundo. Tu ofereces ao mundo o dia que queres, pois ele será aquilo que pediste e irá reforçar o domínio do teu conselheiro no mundo. Quem é o senhor do mundo para ti hoje? Que tipo de dia decidirás ter?

17. Basta que haja duas pessoas querendo ter felicidade nesse dia para prometê-la ao mundo inteiro. Basta que duas pessoas compreendam que elas não podem decidir sozinhas para garantir que a alegria que pediram seja totalmente compartilhada. Pois compreenderam a lei básica que faz com que a decisão seja poderosa e dá a ela todos os efeitos que ela jamais terá. Bastam dois. Estes dois estão unidos antes que possa haver uma decisão. Permite que esse seja o único conselho que manterás em mente e terás o dia que queres, e o darás ao mundo porque o tens. O teu julgamento terá sido suspenso no mundo pela tua decisão em favor de um dia feliz. E assim como recebeste, assim tens que dar.

(O novo começo-T-30-Ucem)

17 de setembro de 2014

O poder de decisão é meu.



(Tudo o que nos acontece é nossa responsabilidade)


Ninguém pode sofrer perda a menos que seja por sua própria decisão. Ninguém pode sofrer dor, exceto que a sua própria escolha opte por esse estado. Ninguém pode ter aflição, nem medo, nem pensar que está doente, a menos que esses sejam os resultados que quer. E ninguém morre sem o próprio consentimento. Nada ocorre que não represente o teu desejo e nada do que escolhes é omitido. Eis aqui o teu mundo, completo em todos os detalhes. Eis aqui toda a sua realidade para ti. E é só aqui que está a salvação.

Podes acreditar que essa posição seja extrema e por demais abrangente para ser verdadeira. Mas, pode a verdade ter exceções? Se tens a dádiva de tudo, pode a perda ser real? Pode a dor ser parte da paz ou o pesar parte da alegria? Podem o medo e a doença entrar na mente onde habitam o amor e a santidade perfeita? A verdade tem que abranger tudo, se é que é a verdade. Não aceites opostos ou exceções, pois fazê-lo é contradizer inteiramente a verdade.

A salvação é o reconhecimento de que a verdade é verdadeira e de que nada mais é verdadeiro. Isso já ouviste antes, mas podes ainda não aceitar ambas as partes. Sem a primeira, a segunda não tem significado. Mas sem a segunda, a primeira já não é verdadeira. A verdade não pode ter opostos. Nunca é demais dizer e pensar nisso. Pois, se aquilo que não é verdade for tão verdadeiro quanto aquilo que é verdadeiro, então, uma parte da verdade é falsa. E a verdade perdeu o seu significado. Nada além da verdade é verdadeiro e aquilo que é falso é falso.

Essa é a mais simples das distinções e, no entanto, a mais obscura. Mas não porque seja uma distinção difícil de ser percebida. Ela está oculta por trás de um vasto conjunto de escolhas que não aparentam ser inteiramente tuas. E, assim, a verdade aparenta ter alguns aspectos que negam a coerência, mas que não parecem ser apenas contradições introduzidas por ti.

Como Deus te criou, tens que permanecer imutável, com estados transitórios que são falsos por definição. E isso inclui todas as variações de sentimento, as alterações das condições do corpo e da mente, de toda consciência e de todas as reações. Essa é a abrangência total que coloca a verdade à parte da falsidade e pela qual o que é falso se mantém separado da verdade, tal como é.
Não é estranho que acredites que pensar que fizeste o mundo que vês é arrogância? Deus não o fez. Disso podes estar certo. O que Ele pode saber do efêmero, do pecador e do culpado, do amedrontado, do sofredor e solitário e da mente que vive dentro de um corpo que não pode deixar de morrer? Estás apenas acusando-O de insanidade ao pensar que Ele tenha feito um mundo em que tais coisas pareçam ter realidade. Ele não é louco. No entanto, só a loucura faz um mundo como esse.

Pensar que Deus fez o caos, que Ele contradiz a Sua Vontade, que inventou opostos para a verdade e permite, mesmo com sofrimento, que a morte triunfe sobre a vida, tudo isso é arrogância. A humildade veria imediatamente que essas coisas não são Suas. E podes ver o que Ele não criou? Pensar que podes é meramente acreditar que podes perceber aquilo que a Vontade de Deus determinou que não fosse. E o que poderia ser mais arrogante do que isso?
Sejamos verdadeiramente humildes hoje e aceitemos o que temos feito tal como é. O poder de decisão é nosso. Decide apenas aceitar o teu lugar de direito como co-Criador do universo e tudo o que pensas ter feito desaparecerá. Então, o que surgir na tua consciência será tudo o que sempre foi, eternamente como é agora. E isso tomará o lugar dos auto-enganos feitos apenas para usurpar o altar ao Pai e ao Filho.

Hoje, praticamos a verdadeira humildade, abandonando a falsa pretensão com a qual o ego busca provar que ela é arrogante. Mas a verdade é humilde ao admitir o seu poder, a sua imutabilidade e a sua integridade eterna que tudo abrange, a dádiva perfeita de Deus para o Seu Filho amado. Deixamos de lado a arrogância que nos diz que somos pecadores, culpados, amedrontados e envergonhados do que somos; e, ao invés disso, ergamos os nossos corações em verdadeira humildade para Aquele Que nos criou imaculados como Ele próprio, no poder e no amor.

O poder de decisão é nosso. E aceitamos Dele aquilo que somos e humildemente reconhecemos o Filho de Deus. Reconhecer o Filho de Deus implica também em que todos os nossos auto-conceitos tenham sido postos de lado e reconhecidos como falsos. A arrogância de cada um deles foi percebida. E, na humildade, a radiância do Filho de Deus, a sua gentileza, a sua perfeita impecabilidade, o Amor de seu Pai, o seu direito ao Céu e a liberação do inferno, são alegremente aceitos como nossos.

Agora nos unimos reconhecendo com contentamento que as mentiras são falsas e só a verdade é verdadeira. Pensamos apenas na verdade ao levantarmos e passarmos cinco minutos praticando os seus caminhos, encorajando as nossas mentes assustadas com o seguinte:

O poder de decisão é meu. Nesse dia aceitarei a mim mesmo como aquilo que a vontade do meu Pai me criou para ser.

Em seguida, aguardaremos em silêncio, desistindo de todos os auto-enganos, enquanto pedimos humildemente ao nosso Ser que Se revele a nós. E Aquele Que jamais partiu virá novamente à nossa consciência, grato por restaurar o Seu lar em Deus, como Lhe era destinado.

Espera por Ele pacientemente ao longo do dia e convida-O a cada hora com as palavras com que começaste o dia, concluindo com esse mesmo convite para o teu Ser. A Voz de Deus responderá, pois Ela fala por ti e pelo teu Pai. Ela substituirá todos os teus pensamentos frenéticos pela paz de Deus, os auto-enganos pela verdade de Deus e as tuas ilusões de ti mesmo pelo Filho de Deus.

(Lição 152 –UCEM)

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3 de setembro de 2014

1984 Entrevista com William Thetford



Bill Thetford foi um dos dois primeiros estudantes de Um Curso Em Milagres no mundo, ajudando a introduzi-lo no mundo para que as pessoas pudessem usá-lo como um meio de lembrar de Deus. Bill foi muito sincero e receptivo, e mesmo assim não muito foi escrito sobre esta bela testemunha do Amor de Deus. Esta entrevista com Bill foi publicada na Revista New Realities em set/out de 1984. Com muita alegria transmito-a para todos agora.
Faça bom proveito!
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Entrevista com William N. Thetford, Ph.D
New Realities Magazine: Set/Out 1984
Uma conversa cândida e exclusiva com umas das duas “personalidades ocultas” por trás da manifestação de um dos mais enigmáticos e profundos sistemas de pensamento espiritual do Século - Um Curso Em Milagres. Tendo sido um agnóstico confesso, Dr. Thetford agora discute abertamente seu papel secreto como escrivão do Curso e como isso o afetou pessoalmente e em seu trabalho na psicologia, como também nas posições de prestígio que ele mantinha como Professor de Psicologia Médica da Universidade de Columbia da Faculdade de Médicos e Cirurgiões, e como Diretor do Departamento de Psicologia do Hospital Presbiteriano na cidade de Nova Iorque.
NR: Sendo uma das duas pessoas responsáveis por transcrever “Um Curso Em Milagres,” qual o impacto que ele tem causado na sua vida?
WT: Mudou totalmente a minha vida. Eu me recordo estar datilografando os primeiros cinqüenta princípios dos milagres que vieram através de Helen Schucman no outono de 1965, e percebi que se esse material fosse verdadeiro, então absolutamente tudo que eu acreditava teria que ser desafiado - que eu teria que reconstruir todo o meu sistema de crença. Naquela época, no entanto, pensei que seria impossível; eu não sabia como poderia fazê-lo. Mesmo assim senti que era um requisito, já que o material que veio através de Helen no começo da fase pareceu autêntico e genuíno demais. Fiquei em estado de choque por um breve período, imaginando como seria possível fazer tal mudança tão abrupta na minha percepção da vida e do mundo. Mais tarde percebi que Deus é misericordioso, e não nos pede para fazer mudanças tão abruptamente, que haveria uma tempo adequado para gradualmente começar a mudança na minha percepção.
Eu acho que o que foi importante foi a minha disponibilidade para mudar, e não o dominar do material. E, é claro, me mudei do meio de Manhattan, onde tinha vivido por vinte e três anos para Tiburon, Califórnia, algo que eu pensava que nunca aconteceria. Eu tinha me acomodado à minha rotina como Nova-iorquino, e achava que a Big Apple era o centro do Universo, e o lugar ao qual eu pertencia. Aquela mudança foi provavelmente o maior choque cultural que eu já tinha vivenciado, fazendo uma transição abrupta do tumulto de uma vida agitada em Nova Iorque para a tranqüilidade de Tiburon, Califórnia. Eventualmente também deixei a comunidade acadêmica. Primeiro ao me aposentar do cargo de Diretor do Departamento de Psicologia do Hospital Presbiteriano do Centro Médico Presbiteriano de Columbia, e vários anos mais tarde aposentando da minha posição de Professor de Psicologia Médica da Faculdade de Médicos e Cirurgiões da Universidade de Columbia.
NR: Isso foi para se dedicar tempo integral ao Curso ou para seguir outros interesses?|
WT: Uma combinação, eu acho. Depois de vinte anos na Columbia senti que era hora de deixar a academia. Pareceu natural sair quando o Curso foi publicado.
NR: Qual foi exatamente o seu papel no processo de transcrição do Curso? Você também ouviu uma voz?
WT: Ambos eu e Helen sabíamos desde o inicio que era uma tarefa colaborativa, embora eu não ouvisse a voz. Enquanto a Helen ouvia o ditado interno, ela era incapaz de transcrever o material diretamente sozinha, já que ela achava o conteúdo do Curso muito ameaçador. Meu papel era de oferecer o apoio e confiança necessária a cada dia para que Helen continuasse com suas anotações no caderno de taquigrafia. Então, ela lia o material para mim e eu datilografava diretamente do seu ditado.
NR: Já que o Curso desafiou sua própria crença e seu sistema de pensamento também, porque você simplesmente não o rejeitou, jogou fora?
WT: Bem, meu intelecto se rebelou algumas vezes. Mas era eu quem tinha pedido por “um outro jeito”, um jeito melhor, em relação ao contexto profissional extremamente estressante no qual Helen e eu estávamos tentando trabalhar. Quando o material de Um Curso Em Milagres começou a vir, para mim era óbvio que esta era a resposta para a minha questão, muito claramente a resposta. Então, para rejeitá-la ou até mesmo desconsiderá-la nunca foi cogitado.
NR: O que especificamente sobre ela fez com que fosse óbvio para você que esta era realmente a sua resposta?
WT: Talvez o fato de que era tão totalmente diferente do jeito que eu vinha trabalhando durante toda a minha vida. Mas a autenticidade do material me afetou mais do qualquer outra coisa. Eu sabia que a Helen não tinha inventado isso, mesmo com a sua imaginação mais fértil.
NR: A autenticidade… ?
WT: Bem, o material era algo que transcendia qualquer coisa que qualquer um de nós dois pudéssemos conceber. E como o conteúdo era bem alheio aos nosso conhecimentos, interesses e instrução, para mim era óbvio que veio de uma fonte inspirada. A qualidade do material era muito convincente, e sua beleza poética acrescentada ao seu impacto.
NR: Parece muito incomum que você, um psicólogo consagrado mantendo duas posições de prestígio, pudesse até mesmo considerar adotar tal material, considerando sua instrução e princípios rígidos dentro da academia aos quais você, sem dúvida, adotou e aderiu.
WT: Eu acho que se não tivesse sido pelas muitas experiências extraordinárias que ocorreram durante o verão de 1965, nem eu nem a Helen teríamos estado dispostos a aceitar o material que ela transcreveu. Vocês relataram algumas dessas experiências nessas página na matéria sobre o novo livro do Robert Skutch "Journey Without Distance, The Story Behind A Course In Miracles". No entanto, nossa experiência associada com a Clínica Mayo em Rochester, Minnesota, não foi relatada na “New Realities.” Talvez mais do que qualquer outra coisa, esta série de eventos cristalizaram toda a nova direção que tomaríamos.
NR: O evento da Clínica Mayo ocorreu em setembro e o Curso não começou no mês seguinte, em outubro?
WT: Sim. Haviam me solicitado para ir a Clínica Mayo e descobrir por que eles lucravam com as operações de serviço psicológico deles, enquanto a Columbia-Presbiteriana parecia que estava sempre perdendo dinheiro. Eu pensei que soubesse da resposta para a questão porque nós atendíamos principalmente a pacientes que não tinham condições de pagar taxas, e os pacientes na Clínica Mayo eram de classe média ou alta e capazes de pagar. Apesar disso, parecia que era uma viagem importante a se fazer e eu pedi a Helen que me acompanhasse. Logo que nós decolamos - eu acho que foi na noite anterior - Helen teve uma vívida imagem de uma igreja, que ela descreveu para mim com muitos detalhes, até mesmo fez um esboço dela. Era uma antiga igreja com diversas torres grandes e pequenas. Ela pensou que provavelmente fosse uma Igreja Luterana. Ela estava convencida de que de alguma maneira, nós veríamos aquela igreja pela janela do avião quando estivéssemos prestes a pousar in Rochester. Aquilo, é claro, parecia um tanto improvável, já que aeroportos, pelo que eu sei, não são construídos perto de igrejas. De qualquer forma, mantivemos nossa atenção focada na janela durante a aterrissagem, e para a decepção e angústia de Helen nenhuma igreja como aquela foi vista. De fato, Helen estava tão aborrecida por não ter encontrado a sua igreja que eu não tinha muita esperança de cumprir com os nossos negócios no dia seguinte a menos que ela pudesse de alguma forma ser reanimada. Meio que desesperado sugeri a Helen pegarmos um táxi e ver se conseguíamos encontrar a igreja dela em algum lugar na área metropolitana de Rochester.
Então, Helen e eu fomos à caça da igreja. No começo, pensamos em nos restringir às igrejas Luteranas. Eu acho que havia duas delas, e nenhuma era nem um pouco parecida com a imagem de Helen. Então decidimos ver todas as outras igrejas já que havíamos começado a procura. Eu acho que havia vinte sete nos arredores de Rochester. E nenhuma delas tinha qualquer semelhança com a imagem de Helen. Obviamente, ela ficou muito arrasada , mas nos recompusemos para preparação dos negócios no dia seguinte.
No dia seguinte depois de termos completado nossa pesquisa com sucesso, Helen e eu preparávamos para deixar o hotel. Desci para o saguão e esperei por ela com a bagagem, e notando uma banca de jornal decidi comprar um. Em vez disso, eu vejo uma pequena brochura com o título “A História da Clínica Mayo.” Achando que seria bom ter uma lembrança da nossa visita, eu comprei o folheto por um dólar.
Conforme eu a folheava muito rapidamente, eu vi a foto da antiga igreja de Helen, exatamente como ela a tinha descrito com todas as torres grandes e pequenas. E era mesmo uma igreja Luterana. O único problema era que ela tinha sido demolida e na verdade a Clinica Mayo foi construída no terreno da antiga igreja Luterana. Foi um momento muito dramático, estava ansioso para compartilhá-lo com Helen.
Quando ela desceu, eu disse rapidamente, “Helen você realmente não estava louca afinal. Sua igreja estava lá mas não existe mais. Quando você pensou que estava olhando para ela por cima como se fosse de um avião você estava na verdade olhando para trás através do tempo.”
Helen demonstrou uma estranha mistura de emoções. Por uma lado, alívio que ela não estava totalmente louca, e por outro, estava claro que ela estava fazendo algo ao qual ela referia como altamente para-normal, e isso era uma área que a fez se sentir muito desconfortável.
No nosso caminho de volta à Nova Iorque, tivemos que trocar de avião em Chicago. Enquanto estávamos na sala de espera, Helen observou uma jovem mulher no canto lendo uma revista e parecendo um tanto infeliz do jeito que as pessoas freqüentemente ficam quando estão esperando por aviões nos aeroportos. Fiquei surpreso quando Helen me disse, “Está vendo aquela mulher logo ali, está realmente encrencada - ela tem um monte de problemas.” Helen insistiu que iria lá falar com aquela mulher. O que descobrimos foi que a mulher, cujo nome era Charlotte, nunca tinha estado num avião antes. Ela tinha voado com a companhia aérea Ozark até Chicago com rota para Nova Iorque e estava em pânico. Ela não sabia nada de Nova Iorque. Mais tarde descobrimos que ela estava deixando o marido e dois filhos, e estava angustiada.
Charlotte estava registrada no mesmo avião que o nosso. Durante o vôo, sentamos um a cada lado dela, segurando suas mãos, e tentando acalmá-la e sossegá-la. Perguntamos onde ela ia ficar em Nova Iorque já que ela não conhecia ninguém. Ela disse que como era Luterana, ela pensou em contatar uma igreja Luterana e de alguma forma eles encontrariam um lugar para ela na cidade. Foi naquele momento que Helen e eu trocamos olhares. A mensagem era clara para ambos. Helen ouviu sua voz interior dizendo, “E está é a minha verdadeira igreja, ajudar seu irmão que está em necessidade; não o edifício que você viu antes.” A autenticidade desta voz interior tornou-se cada vez mais familiar para ambos quando o Curso iniciou algumas semanas mais tarde, em outubro.
NR: Deve ter sido de alguma forma penoso durante aquele período, vivendo uma vida dupla, recebendo e lidando com os materiais dos milagres que vinham e continuando sua vida acadêmica normalmente.
WT: Sim, de um modo era como viver em dois mundos diferentes. Meus sentimentos eram tão complexos que é difícil expressar isso de uma maneira simples. Obviamente, Helen não tinha ficado louca, nem tinha perdido a cabeça. O material fazia sentido, mas havia um sentimento de ter mergulhado em algo que estava além da nossa compreensão e para o qual não estávamos preparados.
Naturalmente não conversávamos disso com nosso colegas, e nenhum dos nossos associados profissionais tinha conhecimento de que isto estava ocorrendo como uma dimensão adicional na minha vida e da Helen. Ao mesmo tempo, não podíamos separar completamente o Curso das nossas responsabilidades acadêmicas, e uma boa parte da datilografia do material foi feita no Centro Médico. Helen me ditava suas anotações durante nosso horário de almoço ou momentos variados. Mas isso não interrompeu o curso dos nossos compromissos profissionais que incluíam dar palestras, escrever pesquisas de bolsas e artigos para publicação, como também uma infinidade de tarefas administrativas - todas aquelas coisas que fazem uma vida profissional muito ocupada. Então a experiência que passamos durante aquele período foi realmente uma experiência muito incomum.
NR: Não houve momentos que Helen considerou seriamente ir a um psiquiatra ou psicólogo? Ou talvez considerar tomar alguma medicação que poderia acabar com a voz ditando para ela?
WT: Não era uma voz neste sentido em absoluto. Helen não foi perseguida por vozes; era uma sensação específica de comunicação canalizada que vinha para ela de tempos em tempos, ela sabia que havia material para ser transcrito, e ela podia fazer isso a qualquer momento que escolhêssemos. Não havia pressão para largar imediatamente o que ela estava fazendo para tomar notas. Em vez disso, o material estava lá quase como se tivesse sido pré-gravado e estava esperando pela atenção dela. Ele se apresentava a ela numa parte separada e muito distinta de sua mente, ela não vivenciou isso como uma voz externa, em absoluto.
NR: Ainda assim o fato de alguém ouvir uma voz - no sentido psicoterapêutico tradicional - qual você acha que teria sido o diagnóstico ou prognóstico de Helen, sem compreender as dinâmicas envolvidas?
WT: Eu acho que as pessoas que fazem coisas incomuns desse tipo são provavelmente consideradas de alguma forma dissociadas ou possivelmente esquizofrênicas. No entanto, o fato de que a habilidade da Helen como psicóloga não foi prejudicada de forma alguma durante este período, era uma clara indicação de que ela não sofria de um sistema delusório. Eu diria até que a habilidade dela para trabalhar profissionalmente foi enriquecida conforme continuávamos com este trabalho. Durante o tempo que estávamos trabalhando no Curso, na verdade parecia que aumentávamos nossa produtividade e qualidade profissional. Uma confirmação disso é que quando completamos o manuscrito, ambos fomos conferidos os títulos de professores permanentes.
NR: Helen pareceu ter muito mais dificuldade de adotar o material do Curso do que você. Houve algum tipo de educação espiritual ou religiosa na sua vida ou qualquer outra coisa que o ajudou?
WT: Bem, certamente não foi devido a nenhum conhecimento religioso tradicional para mim. Eu freqüentei a escola dominical da igreja “Christian Science” até os sete anos de idade, quando minha irmã faleceu repentinamente e meus pais perderam o interesse em toda religião. Mais tarde na minha juventude freqüentei várias igrejas Protestantes, mas na época que comecei meu trabalho de graduação na Universidade de Chicago, eu tinha certamente desistido de qualquer interesse em religião. Além do mais, me recordo como a Universidade de Chicago era freqüentemente descrita como uma Universidade Batista onde professores ateus ensinavam alunos judeus filosofia Tomística! Com esse tipo de definição, eu acho que é evidente que qualquer crença religiosa que eu pudesse ter tido simplesmente teria me tornado mais confuso.
NR: Qual você diria, então, que era a sua visão filosófica ou espiritual naquele tempo?
WT: Eu me descreveria como um agnóstico. Eu não estava realmente preocupado se a realidade espiritual era fato ou não. Freud se referia à religião como uma ilusão, e eu acho que muitos dos alunos de pós-graduação e os docentes com quem me relacionava naquela época, encaravam a religião como algo que carecia de respeitabilidade intelectual.
NR: Dada a sua visão agnóstica naquele tempo, houve algo com que você se envolveu que poderia ter marcado a sua fase de catalisador para “Um Curso Em Milagres?”
WT: Não como tal, mas fui um dos primeiros alunos de pós-graduação do Carl Rogers depois que ele veio para a Universidade de Chicago em 1945. Ele ensinou que “respeito verdadeiro incondicional” era um pré-requisito para terapeutas centrados nos pacientes. Agora eu entendo que o que o Rogers estava enfatizando realmente era que a total aceitação em nossos relacionamentos significava expressar amor perfeito. Embora eu soubesse o quão distante estava de estar apto a praticar este conceito em minha vida, eu aprendi a apreciar esta contribuição para o meu próprio desenvolvimento espiritual.
Na verdade, eu sempre pensei que uma Autoridade Superior tinha dado uma mancada escolhendo eu e a Helen para esta missão. Uma vez quando Helen perguntou a voz por que ela tinha sido escolhida para este papel, a resposta que ela obteve foi, “Você obviamente é a pessoa certa pois você o está desempenhando.”
NR: O que é muito curioso é que ambos - Helen a ateísta e Bill o agnóstico - aceitassem o conceito de fazer algo assim. Como você conciliou isto? Certamente algo deve ter desencadeado dentro de você.
WT: Durante aquele verão de 1965, tivemos muitas experiência que chacoalharam meu sistema de crença e me levaram a ser mais receptivo para a possibilidade da intervenção divina. Quando o Curso começou, eu diria que não era realmente mais um agnóstico.
Helen, no entanto, teve grandes dificuldades com o Curso considerando suas próprias crenças pessoais. Ela continuou a questionar o que estava acontecendo com ela no tempo em que ela estava transcrevendo o Curso, e não tenho certeza se ela algum dia foi capaz de conciliar o que ela estava fazendo com o que ela era.
NR: É interessante como você freqüentemente usa a palavra “missão” em relação ao seu envolvimento e o de Helen com o Curso. Por quê?
WT: Bem, os eventos que vivenciamos que conduziram ao ditado do Curso parecia para nós uma preparação para uma missão que de alguma forma, em algum lugar, tínhamos combinado em fazer juntos. Num certo sentido estávamos cumprindo a nossa função.
NR: Os eventos que você refere como precedentes ao ditado do Curso pela Helen envolveram um número de experiências psíquicas e místicas que ela teve. Você teve experiências similares?
WT: Sim, mas nunca pareciam tão dramáticas como os da Helen. No entanto, um que teve um efeito profundo em mim ocorreu no domingo de Páscoa de 1970. Eu tinha combinado levar Jean, uma artista idosa, para jantar no Greenwich Village com alguns outros amigos artistas. Estava muito frio, um dia típico de inverno tempestuoso, com chuva de granizo e ventos fortes - incomum para aquela época do ano. Estando sem carro, percebi que ia ter muita dificuldade para conseguir um táxi, então meditei brevemente sobre o que fazer. Recebi uma mensagem clara que eu devia ir para a esquina da rua 78 com a Quinta Avenida, perto de onde eu morava, exatamente às 3:15, e o problema teria sido resolvido. Tive uma resistência enorme para fazer isso, mas do mesmo jeito vesti minha roupa de tempestade, andei até a esquina, e tentei chamar um táxi. Como eu estava competindo com todos os porteiros da Quinta Avenida, parecia totalmente inútil.
Então só por um momento fechei meus olhos e abandonei todos os meus pensamentos conturbados, dizendo para mim mesmo: “Obrigado, Pai, isto já está feito.” E por um instante eu realmente acreditei nisso. Quando abri meus olhos, uma limusine guiado por um chofer tinha parado bem na minha frente na esquina e o motorista baixou os vidros e perguntou, “Posso te ajudar senhor?” Isto, qualquer um que esteve em Nova Iorque ou morado lá, sabe que era altamente improvável de acontecer.
Eu fiquei muito tentado em perguntar porque ele tinha parado para mim, e então percebi que esta seria uma pergunta inapropriada. Eu devia simplesmente aceitar este presente. Entrei e fomos até a Jean para pegá-la. Ela ficou felicíssima que eu fui apanhá-la numa limusine!
Uma coisa interessante, também, é que eu não tinha discutido o preço com o motorista. Ele simplesmente me pegou sem nenhuma pergunta, e quando chegamos no nosso destino perguntei quanto era, e ele me disse algo ridículo como cinco dólares. Eu acho que dei a ele muitas vezes mais do que aquela quantia por causa da minha enorme gratidão e alívio.
NR: Que outras experiências semelhantes?
WT: Enquanto estávamos no processo de transcrição do material do Curso, eu rezei para que pudéssemos encontrar um exemplo vivo de professor - alguém que incorporasse esses ensinamentos em sua própria vida. Mais ou menos nesta época um padre amigo meu, Padre Michael, me falou de Madre Teresa da Índia. Devidamente impressionado, eu obtive uma copia de “Something Beautiful for God” de Malcolm Muggeridge, o primeiro livro que descreve o espantoso trabalho de cura da Madre Teresa com os mais pobres dos pobres.
Pouco depois de ter lido o livro, Padre Michael me informou que Madre Teresa atualmente estava em Nova Iorque. Recentemente ela tinha fundado um Centro em Nova Iorque para sua ordem no Sul do Bronx - naquela época, a pior de todas as áreas dominada pela pobreza e criminalidade em Nova Iorque - e tinham pedido a ele para ajudar a facilitar seus preparativos do local. Ele convidou a Helen e a mim para juntar-se a ele para visitá-la no Bronx.
Inicialmente, me senti apreensivo por ter minhas preces respondidas, pois eu não tinha a certeza que eu estava preparado para encontra uma santa viva. No entanto, quando esta minúscula mulher nos encontrou graciosamente com suas palmas estendidas, senti quase que uma sensação de alívio instantâneo. Era como se eu a sempre tivesse conhecido. Completamente abnegada e sem pretensão, ela radiava alegria do total compromisso espiritual. Mais tarde, quando ela se virou para mim e disse, “Doutor, você não gostaria de ir à Índia? Há tanto que você poderia fazer para ajudar os pobres.” Senti um impulso quase irresistível para responder, “Sim!”
Eu me encontrei com Madre Teresa em inúmeras ocasiões desde aquele tempo, incluindo uma visita que ela fez com o Padre Michael em nossos consultórios no Centro Médico um ano antes da Helen se aposentar. Para mim, sua vida é uma demonstração de importância de total dedicação e consistência completa no caminho espiritual. Nossas preces são respondidas, embora freqüentemente das formas mais inesperadas.
NR: Houve uma especulação de que você e Helen editaram o Curso. Editaram?
WT: Não. Tenha em mente que no começo não sabíamos exatamente o que estava acontecendo. Então fizemos perguntas de natureza pessoal e registramos as respostas que Helen recebia. Eu datilografava essas respostas como parte de um processo contínuo, sem distingui-los do ditado interior que Helen estava registrando com seu caderno de taquigrafia. Mais tarde, quando percebemos que este material obviamente não era parte do Curso, nós, de fato, o apagamos. É verdade que houve edição de maiúscula, pontuação, parágrafos e títulos de seção no Texto. No entanto, essas mudanças foram pequenas e o Livro de Exercícios e o Manual para Professores também aparecem exatamente como foram anotados por Helen.
NR: Poderia dar um exemplo do material pessoal que vocês apagaram?
WT: Ah, havia perguntas como, “Há alguma coisa que deveríamos estar fazendo que aumentaria nossa habilidade para meditar melhor?” Havia também alguns comentários sobre teorias psicológicas que foram introduzidas como digressão intelectual no início, que não tinham nada a ver com o Curso.
NR: Resumidamente, qual você acha que é o propósito do curso?
WT: Nos ajudar a mudar nossas mentes sobre quem somos e o que é Deus, e nos ajudar a desapegar, através do perdão, nossa crença na realidade da nossa separação de Deus. Aprender a como nos perdoarmos e perdoarmos os outros é realmente o ensinamento fundamental do Curso. O Curso nos ensina a como nos conhecermos e como desaprender todas aquelas coisas que interferem com o nosso reconhecimento de quem somos e sempre fomos.
NR: Por que você acha que ele foi nomeado “Um Curso Em Milagres” Por que não um Curso em Amor ou Perdão ou Verdade?
WT: Por boas razoes, nós percebemos mais tarde. Eu me lembro, no entanto, quando Helen me ligou naquela noite memorável e disse que uma voz interna estava ditando para ela e ficava repetindo, “Este é um curso em milagres, por favor tome notas.” Naquela época, eu certamente não respondi positivamente ao título. No entanto, quando você entra no Curso e então na definição do que é um milagre, realmente faz sentido. De fato, é o único nome apropriado para o Curso.
NR: E um milagre é …
WT: Eu acho que um milagre é o amor que sustenta o universo. É a mudança na percepção que remove as barreiras ou obstáculos para nossa consciência da presença do amor em nossas vidas.
O Curso também nos diz que não há ordem de dificuldades em milagres - um não é mais difícil do que outro, já que a expressão do amor é sempre máxima.
NR: Qual foi a sua reação como um psicólogo quando o Curso apresentou o conceito de que há somente duas emoções: amor e medo?
WT: Eu me lembro bem nitidamente datilografando esta seção, “Você tem somente duas emoções, medo e amor, uma você fez e uma foi dada a você.” E me lembro de pensar que esse conceito realmente toma conta do problema psicológico de diferentes estados emocionais por completo. E é verdade, por exemplo, que raiva é simplesmente uma expressão de medo em ação. Não posso ficar bravo a menos que primeiro me sinta ameaçado de alguma forma, que significa que estou com medo. O amor é realmente a única outra emoção que existe, e ele simplificou bem as coisas para se reconhecer isso como um fato.
NR: E o que é amor pela sua definição?
WT: Muito simplesmente, amor é ausência de medo. Você poderia também dizer que medo é ausência de amor. Amor e medo não podem coexistir ao mesmo tempo, embora muitos de nós tentemos viver como se eles pudessem. Nós tentamos equilibrar um pouco de medo com um pouco de amor, e esperamos que possamos saber a diferença. Ainda assim quando nos desapegamos do medo por um instante, o amor está lá automaticamente. Não é algo que temos que achar ou procurar, amor simplesmente é.
É bem parecido com o sol que está escondido pela neblina num dia enevoado. Embora não possamos ver o sol, sabemos que ele está lá. No momento em que a névoa desaparece podemos vê-lo. É o mesmo caso para nós, no momento que paramos com os nossos pensamentos de medo podemos aceitar o amor e a luz que sempre estão lá.
NR: Isto realmente implica em confiar que está sempre lá, ainda assim parece que somos sempre trazidos para um lugar, como se fosse um precipício, e pedem para darmos mais um passo, com fé de que ainda está lá. É realmente difícil de ser fazer, ou reunir a confiança para fazer.
WT: Freqüentemente me refiro a isso em minha própria vida como “brinkmanship* celestial” - quando estamos lá fora, caminhando sobre a prancha sem saber o que vai acontecer em seguida. Mas de que outra maneira pode se dar o aumento da nossa consciência do nosso potencial dado por Deus se não nos arriscamos a mergulhar no desconhecido? Eu acho que todos nós temos que estar pelo menos parcialmente dispostos a tentar descobrir se há uma maneira diferente e melhor de viver, senão nós simplesmente preservaremos o mesmo velho padrão em nossas vidas.
*A prática de buscar vantagens, dando a impressão de estar disposto e ser capaz de levar adiante uma situação extremamente perigosa até o limite em vez de ceder.
NR: O Curso também faz uma distinção entre o ego e o Ser em outros termos que não são convencionais. Qual foi a sua reação a isso como um psicólogo?
WT: O termo “ego” como é usado no Curso se refere ao ser superficial ou falso, que se identifica com o corpo como sua forma de expressão externa. Esta identificação corpo-ego é o ser que nós fizemos como contraste ao Ser espiritual que Deus compartilha conosco. O ego é realmente nossa crença num ser separado de Deus. A projeção deste pensamento de separação ergue um mundo de forma. O ego acredita que este mundo fenomenal existe independentemente, apesar de não ter existência à parte da mente dividida que o projetou.
NR: Um dos conceitos mais provocativos que o Curso apresenta é que este mundo é ilusório, não real, e que Deus não está realmente envolvido. Que Deus está somente envolvido e preocupado conosco, não com as nossas coisas, e que somos nós que as valorizamos, e não Deus. Este é um conceito muito difícil de se entender e lidar, não é?
WT: Sim realmente. É um desafio e um problema para todos nós. Mas como você sabe, muitos físicos do século vinte escreveram extensivamente sobre as implicações da mecânica quântica no misticismo e pensamento místico.
Ken Wilburn recentemente editou um livro intitulado “Quantum Questions” que lida com o assunto da realidade física e experiências místicas nas anotações de Einstein, Heisenberg, Eddington, Schroedinger e diversos físicos vencedores do Prêmio Nobel. Wilber salienta que todos estes notáveis cientistas desenvolveram uma visão transcendental ou mística do mundo. Enquanto físicos modernos não provam que o misticismo é verdadeiro, ao menos removem maiores bloqueios teoréticos da possibilidade da realidade espiritual. De fato, o material sólido do universo se dissolveu em uma serie de equações matemáticas abstratas.
A questão aqui é que muitos físicos vêem o mundo material da mesma forma que o Curso vê: que este mundo é ilusório já que a matéria física não é mais compreensível em termos de consciência sensorial. De alguma forma nós estamos percebendo algo que não está lá, e é a nossa percepção que dá realidade. Então a questão é qual é a natureza do poder que sustenta e está por trás de todas as formas?
A ênfase do Curso em mudança ou deslocamento de percepção se aplica a tudo em nossas vidas, não simplesmente ao universo externo, mas também e mais particularmente aos nossos relacionamentos – a forma que olhamos para nós mesmos e os outros. Conforme mudamos esta percepção, ou melhor, conforme mudamos nossas atitudes de medo para amor, de culpa para total aceitação, então o que vemos como o universo limitado e confinado também muda.
Qualquer coisa que é perecível é visto como uma ilusão, e qualquer coisa que é eterna é conhecimento verdadeiro e vem de Deus. O objetivo do Curso, então, é nos capacitar a mudar nossa percepção ao ponto onde Deus pode nos levar para o domínio do conhecimento. Seu propósito imediato é nos ajudar a remover os obstáculos da nossa consciência da presença do amor em nossa vida diária. Que é tudo sobre o milagre. Quando começamos a reconhecer e aceitar a presença do amor de Deus em nossas vidas, muitas dessas outras questões que levantamos simplesmente desaparecem. Elas não tem mais relevância nenhuma, porque são questões que o ego pergunta baseado na percepção de um universo limitado e confinado.
NR: Um outro conceito difícil de lidar no Curso é que quando reconhecemos ilusões pelo que são nos podemos rir delas. Bem, certamente, crises emocionais são bem verdadeiras e não são engraçadas para muita gente, tais como morte, tristeza, dor, fome, etc. como você lida com isso?
WT: O Curso sugere que esquecemos de rir no momento em que, pela primeira vez começamos a acreditar que ilusões eram reais. Talvez uma maneira na qual podemos encontrar nosso caminho de volta para nossa natureza real é começar a rir da tolice de muitas das nossas crenças. Norman Cousins já demonstrou a importância do riso no processo da cura.
Por exemplo, a fim de ajudar alguém, tanto em psicoterapia com no dia-a-dia, eu não acho que podemos nos identificar com o problema. O que precisamos fazer é nos identificarmos com a Resposta. Já que qualquer problema é sempre alguma forma de medo, culpa ou separação. Nossa responsabilidade é nos identificarmos somente com a Resposta que funciona. Ao oferecer o Amor de Deus de qualquer forma que seja apropriada, estamos oferecendo a única resposta que é possível dentro deste mundo. Isto certamente não implica uma falta de compaixão, muito pelo contrário. Se eu me identifico como o problema que você ou qualquer outra pessoa tem, isto simplesmente significa que eu vou sofrer também. E quando eu me junto com você em sofrimento, ninguém ganha – em vez disso ambos perdemos por reforçar o problema.
O Curso diz que todos os nossos problemas brotam de uma crença que somos separados de Deus, e a única saída para isso é estender o milagre do amor, que é a nossa herança natural.
NR: Algumas das pessoas que começam a estudar o Curso, inicialmente ficam desapontadas que ele não lida especificamente com algumas questões pessoais e vitais, como o sexo. Por que ele não lida com isso?
WT: Como você sabe, o enfoque real do Curso está no treinamento da mente. Sua ênfase está no desenvolvimento espiritual ao invés de reforçar nossa identificação do corpo-ego.
Mas não há nada no Curso que proíba o sexo. O que ele diz é que o corpo é um veículo neutro para a comunicação do amor. O que eu acho que o Curso está tentando ressaltar é que a união física nunca poderá resolver o problema do nosso senso de separação de Deus. Só pode ser um substituto para nossa tentativa de união com Deus. E por isso que satisfação física como uma meta num relacionamento nunca é duradouro, nunca permanente para unir indivíduos. E o mesmo é verdade para muitos outros impulsos físicos e emocionais que temos que brotam do ego – coisas que nós fazemos para tentar permanentemente nos unir com outros, que sempre resultam em fracasso.
NR: Um outro assunto específico não discutido no Curso e uma preocupação para aqueles que o estudam é o assassinato – lidando com isso como uma ilusão ou através do perdão.
WT: Talvez a dificuldade está em perceber o outro como um corpo somente. Eu acho que esta é a equação fundamental do corpo-ego, que é responsável por uma quantidade enorme da nossa infelicidade, o real âmago disso.
Sem dúvida nenhuma, assassinato é uma assunto muito emotivo para todos nós. Mas a transformação interior da qual estamos nos referindo aqui tem a ver com a nossa própria mudança na percepção, nossa própria habilidade para reconhecer que o medo é um problema que todos nós temos. Se ele toma a forma de assassinato, ataque ou perda, o que nós queremos aprender é como ensinar amor para que o medo não mais seja parte da nossa consciência. Na medida em que mudamos nossa própria consciência e nossa própria conscientização, nós estamos ajudando todo mundo a fazer a mesma coisa, e eu acho que é através desse processo que nós fazemos a nossa contribuição para uma sociedade mais sã e um mundo mais são.
NR: Uma outra preocupação vital nesta vida é a morte, morrer. Por que o Curso não lida com isso para a paz da nossa mente?
WT: Eu acho que ele o faz. O Curso diz muito claramente “Não há morte. O Filho de Deus é livre.”
De certo modo, já que nós fomos criados eternos, nós literalmente nunca nascemos, portanto, nunca podemos morrer. Isto é, dentro a estrutura da eternidade, nós temos sempre existido como uma extensão do Amor de Deus. Eu acho que a noção de almas recém-nascidas vindo a este mundo material por alguns anos, e então seguindo para o além não é uma lição que o Curso ensinaria. O Curso repetidamente declara que nós permanecemos como Deus nos criou; permanecemos aspectos eternos do espírito e nunca fomos limitados à forma. Quando o corpo não mais está vivo e animado, simplesmente significa que não temos mais uso para ele. Nosso corpo não tem nada a ver com estar vivo ou morto porque nosso corpo não é a nossa verdadeira identidade.
NR: E quanto aos animais, então? Já que o Curso não os menciona também, onde eles se encaixam, ou até mesmo os insetos ou plantas e árvores?
WT: O Curso freqüentemente usa a frase “todas as coisas vivas”. Mais uma vez, o que quer que tenha vida tem vida eterna. Já que toda vida brota de Deus e é um e inseparável, certamente a força da vida que dá vida aos animais e plantas é a mesma força da vida que nos dá vida. E eu estou sempre impressionado com o que os animais podem nos ensinar. Quão rapidamente um cão, por exemplo, consegue nos perdoar por pisarmos em sua pata. Ele não guarda rancores, mas nos demonstra amor instantâneo no momento em que abrimos a porta. Qualquer que sejam as mágoas que poderiam haver não são levadas na mente de um cão. Então eu acho que animais de estimação são professores maravilhosos do perdão para todos nós. Eles são extensões do amor de Deus para trazer alegria e dimensões adicionais de amor para dentro de nossas vidas.
NR: E quanto a matar certos animais e comê-los? Como isso se encaixa com o abraçar toda a vida e tentar não ser separado dela?
WT: Muitas pessoas escolheram ser vegetarianos por razões muito boas. Qualquer coisa que aumente o nosso senso de culpa não faria parte de nosso interesse próprio esclarecido. Então acho que os estudantes do Curso irão determinar o que é certo para eles por ouvirem suas próprias orientações internas.
Jesus nos ensinou a não ficar tão preocupado com o que colocamos na nossa boca, tanto quanto o que deixamos sair dela. Então não é o que nós comemos, mas os nossos pensamentos e como nos relacionamos com os outros que testemunha o nosso progresso espiritual. O que é importante é a oportunidade que temos a cada momento de escolher entre expressar medo ou amor em nossas vidas.
NR: Por esta premissa, então, poderíamos concluir que corpos não são vida.
WT: O corpo é um veículo de comunicação e aprendizado – a fonte da vida é sempre espiritual.
O Curso nos ensina que toda vez que temos perguntas sobre qualquer uma de nossas decisões ou escolhas nesta vida nós podemos pedir ajuda, fazendo isso do nosso guia interior ou como o Curso refere-se a ele, o Espírito Santo.
NR: Em relação à orientação interna, o Curso nos previne sobre obtê-la do ego, não previne? Como se distingue entre ele e o Espírito Santo? Como você sabe quem está falando?
WT: Bem, o Curso diz que o ego sempre fala primeiro e que está errado. A fim de ouvir nossa orientação interna devemos aquietar nossa mente, estarmos dispostos a abandonar qualquer investimento na resposta e ouvi-la em quietude, a pequena voz dentro de nós. O fato de que a nossa orientação interna nunca é estridente, mas que fala conosco com uma voz amorosa e pacífica, é um sinal de sua autenticidade, eu acho que todos nós temos que aprender com a prática para fazer esta distinção.
NR: Como você, pessoalmente, lida com este problema?
WT: Se eu não me sinto em paz, eu estou escutando a superfície estática do meu ego. Então escolho de novo, e tento abandonar as interferências para que eu possa ouvir a voz gentil do meu guia interno.
O Curso identifica esta Voz como a do Espírito Santo. Ele também diz que Jesus está igualmente disponível para todos nós desta maneira, o tempo todo. Desta forma, Jesus é referido como nosso sábio irmão mais velho, cuja mensagem não é diferente da mensagem do Espírito Santo, já que os professores de Deus todos têm a mesma mensagem.
NR: Você acha que tais referências tão inconvencionais a Jesus e ao Espírito Santo, como também aos outros “novos” conceitos em relação ao Cristianismo, são contraditórios aos Cristãos tradicionais?
WT: Bem, eu acho que se você voltar aos ensinamentos originais de Jesus, a resposta é não.
Por exemplo, o Curso ilumina e amplia os ensinamentos de Jesus sobre a importância fundamental do amor e do perdão. Eu acho, talvez, que a religião institucionalizada tem às vezes perdido de vista a essência daquela mensagem pela ênfase na culpa.
NR: Então, você não acha que o Curso desafia o Cristianismo, ou qualquer uma das religiões de hoje?
WT: Eu acho que o Curso está claramente de acordo com a perpétua filosofia essencial de todas as grandes religiões. Embora hajam algumas diferenças fundamentais, como o Curso enfatiza sobre desistir da nossa crença na realidade do pecado e culpa. Religião, como eu a vivenciei quando era mais jovem, parecia enfatizar os aspectos negativos.
O Curso, no entanto, continuamente nos diz que somos sem culpa; que permanecemos como Deus nos criou; que podemos estar enganados, mas que enganos pedem correção e não punição. Conceitos de culpa, pecado e punição são totalmente alheio à orientação do Curso. O Curso afirma inequivocamente que o amor é a nossa única realidade e, “Amor não mata para salvar.”
Qualquer religião que enfatiza o medo, a culpa e a separação de Deus, obviamente teria problemas com o conceito da total unidade e amor do Curso. No entanto, o Curso não discute religião institucional, e não aconselha ninguém a desistir de ser membro de uma Igreja. Na verdade, eu acho que o material do Curso seria muito enriquecedor para as pessoas que querem desenvolver uma vida espiritual mais rica dentro da sua própria tradição; é ecumênico.
Eu sei que há alguns pastores, George McLaird da Igreja Presbiteriana em Sausalito, Califórnia é um deles, que ensinam o Curso regularmente em suas igrejas. E muitas pessoas afiliadas a Unity Church em todo o país estão ativamente envolvidas nos ensinamentos do Curso como está o Rev. Terry Cole-Whittaker, que tem um ministério de grande alcance na televisão.
NR: Você diz que o curso é ecumênico, mas o Curso é decididamente de natureza Cristã, utilizando os fundamentos Cristãos do Pai, Filho e Espírito Santo.
WT: Isso é verdade. O Curso realmente utiliza a terminologia Cristã, mas ao mesmo tempo ele transmite verdades espirituais que é talvez a razão pela qual pessoas de todas os credos podem achá-lo valioso. Eu acho que o curso declara isso muito bem quanto diz, “Uma teologia universal é impossível, mas uma experiência universal não é somente possível como necessária”.
Logo depois que começamos a transcrever o material, eu comecei a ler muito vastamente a literatura mística do mundo. Um dos escritores mais antigos que me impressionou profundamente foi Vivekananda, em sua exposição da filosofia Vedanta da Índia. Ele foi um discípulo do Ramakrishna que no final de 1800 e no início deste século fundaram diversos ashrams de Ramakrishna e centros de ensino neste país. A filosofia Advaita Vedanta como exposta pela Vivekananda parecia ter algumas similaridades gritantes com os ensinamentos do Curso, embora o contexto e linguagem sejam diferentes. Ao mesmo tempo eu me lembro de ter pensado que o Curso poderia ser descrito como uma forma de Vedanta Cristã.
Estudantes do Budismo me dizem que as similaridades entre o Curso e os ensinamentos Budistas são muito gritantes. Interessantemente também, é o fato de que muitas pessoas afiliadas ao Curso vieram de educação Judaica, e acharam extraordinariamente significativo e útil apesar da terminologia Cristã.
Então, estou impressionado do quão ecumênico o Curso é, e que o seu propósito não é aumentar o nosso senso de separação, mas unir as pessoas. E estou vendo isso acontecer por todos os lados com centenas de grupos de estudo que são formados por pessoas de todas posições sociais e religiões que vem regularmente discutir e estudar o Curso. Para mim, isto demonstra a junção espiritual, e uma disposição de abandonar o senso de separação de um com o outro ou de Deus. Isto é realmente tudo o que o curso é.
As experiências que somos capazes de retirar por seguir os ensinamentos do Curso são muito mais importantes do que ser pego em qualquer armadilha semântica sobre os termos em particular. Então, eu sou a favor do extenso uso ecumênico dos conceitos do Curso em uma variedade de contextos, e sei que as pessoas estão fazendo isso, eu aplaudo isso.
NR: E quanto ao uso exclusivo dos termos masculinos no Curso, tais como Pai e Filho, Dele ou Ele, em relação às estudantes?
WT: Eu sei que algumas mulheres ficaram perturbadas pelo uso da terminologia masculina e pensaram em substituir por termos femininos. Muitas que consideraram fazer isso concluíram que Mãe e Filha, Dela e Ela somente iria para a outra polaridade. Outras acham que usando a palavra “Espírito” - um termo totalmente neutro e andrógino – resolve o problema delas.
NR: Como tem sido a reação de tudo isso entre os seus antigos amigos e colegas? Simpatizantes, amparadores, dissociativos, preocupados?
WT: Não tenho tido contato com muitos deles, embora os poucos com quem tenho contato são simpatizantes com o material. Eu não tenho idéia de qual seria a reação geral entre meus antigos colegas, nem tentei descobrir. No entanto, tenho certeza que muitos deles teriam pensado que eu e Helen estávamos loucos naquela época se eles tivessem sabido o que estávamos fazendo. Apesar disso, tenha em mente que tudo começou em 1965, e agora é 1984, eu acho que há muito mais receptividade aos conceitos espirituais do que havia dezenove anos atrás. Então, talvez não é realmente justo especular isto agora.
NR: Então, naquela época, você e Helen não mostraram nada para ninguém, mantiveram escondidas as suas atividades e completamente em segredo.
WT: Sim. E certamente eu não teria mostrado isso a eles. Eu tinha mais senso do que isso. Minha missão como eu encarei era eu mesmo aprender o que tinha no material e não confundir minhas responsabilidades no Centro Médico com a nossa transcrição do Curso. Mas como eu disse, este é um outro dia, muito mais brilhante.

NR: O que você acha disso tudo agora; o fato de que você era uma parte especial e integral daquilo que algumas pessoas proeminentes têm se referido a “Um Curso Em Milagres” como um dos documentos mais importantes do século?

WT: Francamente, Helen e eu não tínhamos a intenção de publicar o Curso quando estávamos transcrevendo-o. Muito pelo contrário. O material parecia especificamente para a nossa educação espiritual. Nós nos referíamos a ele como nosso “segredo culposo” algo que nos comprometemos a fazer, mas naquela época não havia nenhuma indicação de que deveríamos compartilhá-lo com outros.

Quando nós concordamos em tê-lo publicado anonimamente, eu pensei que pouquíssimas pessoas se interessariam em mudar as suas percepções através dos métodos sugeridos pelo Curso – achei isso difícil demais. Certamente em toda a minha vida, eu nunca esperei que milhares de pessoas se refeririam ao Curso como o mapa deles para casa.

Sou grato por Helen e eu termos sido capazes de completar nossa parte em tornar o Curso disponível, e sou igualmente grato ao grande número de estudantes hoje que estão fazendo suas próprias contribuições de muitas maneiras diferentes. Com muitas traduções já a caminho, é evidente que os conceitos do Curso continuarão a alcançar inúmeros leitores.

É maravilhoso saber que tantas pessoas espalhadas no mundo todo estão utilizando o Curso para facilitar o despertar espiritual delas mesmas. Eu acho que o Curso declara o que está acontecendo com clareza poética na seguinte passagem:

"Uma mente adormecida deve despertar, à medida que ela vê sua própria perfeição espelhando ao Senhor da Vida tão perfeitamente ela se desvanece no que esta refletido. E agora não é mais um mero reflexo. Ela se torna a coisa refletida e a luz que faz o reflexo possível. Nenhuma visão agora é necessária. Pois a mente desperta é aquela que conhece a sua Fonte, seu Ser, sua Santidade.”

NR: Quais são seus planos de agora em diante?

WT: Atualmente estou trabalhando num livro com Jerry Jampolsky, um psiquiatra, e Pat Hopkins, um escritor e editor, baseado nos conceitos relacionados ao Curso. Este livro será publicado pela Bantam em algum momento do próximo ano. Recentemente, completei um capítulo com Roger Walsh, um outro psiquiatra, para o “The Comprehensive Textbook in Psychiatry,” editado por Freedman e Kaplan, que também será publicado no começo de 1985. Meus objetivos imediatos são continuar a exploração de maneiras nas quais os conceitos do Curso possam ser aplicados na minha vida e estendidos para ajudar os outros.

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