29 de dezembro de 2016

Por que parece que somos tantos? A resposta...

“No início, quando nós tivemos a “diminuta e louca idéia”, quando acreditamos que éramos separados de Deus, nossa mente separada – a mente que acreditamos que tinha se separado de Deus -, agora se divide de novo, e nós nos dividimos em dois sistemas de pensamento: o do ego e o do Espírito Santo. O sistema de pensamento do ego diz que a separação é real e, portanto, eu sou real como um ser separado. O sistema de pensamento do Espírito Santo, que é refletido no princípio da Expiação, diz que a separação nunca aconteceu, e que a pessoa que você pensa ser não existe. Você continua em casa, em Deus.

O tomador de decisões, que é a parte de nossas mentes que tem que escolher entre esses dois sistemas de pensamentos, escolheu o ego. Nesse ponto, o que ele fez foi se separar do Espírito Santo, de forma que tudo o que parece ser realidade agora é o sistema de pensamento do ego. Como já vimos, quando escolhemos o sistema de pensamento do ego, nós nos tornamos esse sistema. Um termo psicológico para descrever isso é “dissociação”, onde você se dissocia de algo: você se separa. É isso o que o mundo literalmente significa: você estava associado ao Espírito Santo e agora está dissociado – você se afastou dele (‘dis’ é um prefixo negativo). Então, a dissociação meramente quer dizer a separação, que especificamente aqui significa que nós nos separamos do Espírito Santo , portanto, esquecendo tudo sobre Ele. Aquilo em direção a que nós nos separamos, isto é, o ego, tornou-se a única realidade para nós. Então, o ego inventou toda essa grande história, que é basicamente o que nos atraiu em primeiro lugar: a idéia que o especialismo era realmente formidável, e que nós realmente seríamos felizes estando certos, enquanto Deus estaria errado. Então, seguindo o sistema de pensamento do ego em termos de sua lógica inevitável, o Amor de Deus tornou-se terrível, vingativo, raivoso e punitivo. Então, nós tivemos que escapar, e aí fizemos o mundo.

O que acontece quando nós fazemos o mundo é que nós nos separamos, basicamente, de nossas mentes. Então, em certo sentido, estamos sempre atravessando um processo de divisão. Esse processo de divisão da mente – projetando para fora, no mundo – dá vazão a todo um processo de fragmentação. A seção “A realidade substituta”, no início do Capítulo 18, explica e descreve isso claramente. O resultado desse processo de fragmentar e subdividir, e subdividir ainda outra vez, muitas e muitas vezes, é esse mundo – o que os hindus chamam de mundo da multiplicidade. Em nosso contexto, nós podemos nos referir a ele como um mundo de fragmentação e separação: o oposto exato da totalidade. E aquele Filho único de Deus que fez essa escolha, então se fragmentou em bilhões e bilhões de fragmentos. Cada um de nós, agora, é um representante de um desses fragmentos. Cada fragmento acredita que está por conta própria, e que é seu próprio universo auto-contido.

E, nesse ponto, nós parecemos desesperançadamente aprisionados, porque não existe saída, uma vez que nos encontramos aqui. Não existe saída, é isso, exceto nos lembrarmos de que não estamos aqui, e de que tudo isso aconteceu porque nós simplesmente fizemos uma escolha errada. Nós caímos em um estado de negligência, um estado de sono profundo, e a única forma de despertar desse sonho é nos lembrarmos. Isso, mais uma vez, é o que o milagre faz: ele nos lembra de que tudo isso aconteceu simplesmente porque fizemos a escolha errada. Nós escolhemos contra o Espírito Santo, contra a verdade. Nós nos dissociamos dela, e então nos identificamos com o sistema de pensamento do ego. Esse é o problema. A solução, então, é nos lembrarmos disso.

Jesus é o nome que nós damos a um desses fragmentos, uma dessas partes da Filiação que se lembrou de quem nós todos somos. Não existe nada no Curso que poderia indicar quando ele se lembrou – todos sempre querem saber quando ele fez isso. Por favor, não se voltem para a bíblia, porque os escritores da bíblia certamente não sabiam nada sobre Jesus – ao contrário, o livro não teria saído do jeito que saiu. Basicamente, você tem que ir para dentro de si mesmo, e conseguir essa resposta por conta própria. E, é claro, não importa quando ele se lembrou, porque não existe tempo de qualquer forma. Então, isso simplesmente se torna algo que você gostaria de discutir quando fica um pouco bêbado ou algo assim. Não existe nada importante nisso. Simplesmente seja grato por ele ter feito isso.

Uma vez que ele é parte da Filiação, e nós todos somos unidos como um pensamento naquela mente, então, ele permanece dentro da nossa mente como o exemplo brilhante e um lembrete de que podemos fazer o que ele fez. O que ele fez foi perceber que tudo isso era uma tolice. Quando o Curso diz que o Filho de Deus não se lembrou de rir... ele riu, porque percebeu que é simplesmente absurdo achar que poderíamos nos separar do nosso Criador e da nossa Fonte – que uma parte de Deus poderia arrancar a si mesma do Tudo e da Totalidade. Portanto, quando nos unimos a Jesus, estamos nos unindo com aquele pensamento. No Curso, ele diz: “Eu estou a cargo do processo de Expiação” (t-4.III.1:1). Em outro trecho, ele diz: “Eu sou a Expiação” (T-I.III.4:1) – porque ele é o princípio de correção. Nele encontramos a resposta, porque em sua lembrança de que nada aconteceu, ele sabia que ainda era parte de Cristo. E Cristo é perfeitamente uno, perfeitamente completo, e perfeitamente unido a Sua Fonte. Então, ao nos unirmos com Jesus, estamos nos unindo com a unicidade e, portanto, estamos nos unindo com Cristo.

É por isso que é tão importante que você se una a ele – porque ele é o símbolo do fim do sonho. Ele é o princípio da Expiação. Ele também diz, antes, no texto, que o princípio da Expiação que veio a existir no momento em que a separação pareceu acontecer (que é o que o Espírito Santo é), é basicamente geral demais, e tem que ser posto em ação (T-2.II.4?2-3). O que ele realmente quer dizer com isso é que era necessário um símbolo concreto dentro do mundo com o qual as pessoas poderiam se identificar e que poderiam reconhecer. Ele é esse símbolo. Ele deixa claro que não é o único símbolo. Ele realmente diz que é o primeiro. Mas, claramente, ele não é o único símbolo. Para nossos propósitos, uma vez que estamos estudando dentro do contexto do seu Curso, vamos falar dele como um símbolo. Mas também é importante que você perceba que ele não é o único. Mas ele foi aquele que colocou o princípio da Expiação em movimento – a frase usada no Curso (ET-6.2:4). E tudo isso realmente são metáforas para simplesmente descrever o fato de que Jesus, dentro do nosso sonho, é o símbolo do princípio da Expiação – de que separação de Deus nunca aconteceu. Se ele é o Amor de Deus, se ele é a manifestação do Amor de Deus na forma e no sonho, então, ao nos unirmos com ele e aceitarmos seu amor como verdade, o que realmente estamos fazendo é nos unirmos ao mesmo princípio que ele representa.

Então, nós nos tornamos como ele, como está expresso naquele lindo poema de Helen, Uma Oração a Jesus. Ele diz no Curso que é a manifestação do Espírito Santo. Ele então pede, em um ponto, que nós nos tornemos sua manifestação no mundo (ET-6.5:1). Então, assim como ele simbolizou para todos nós o Amor de Deus na presença do sonho, ele pede, com estudantes do seu Curso, que nós nos tornemos mais e mais como ele, para nos tornarmos símbolos dentro do sonho para outras pessoas do que significa realmente aceitar a Expiação para si mesmo. Em um sentido, você poderia dizer que esse é o único propósito do Curso: levar as pessoas a fazerem isso. Basicamente, só um é necessário, como já vimos, porque existe só um único Filho. Mas, uma vez que existe a ilusão de muitos, então, temos a ilusão de que muitas pessoas têm que fazer isso. É uma ilusão, como já vimos antes. Toda essa idéia de quantificar a salvação é uma ilusão, mas, novamente, uma vez que acreditamos estar aqui, temos essa ilusão. Então, o propósito do Curso é fazer com que mais e mais pessoas se tornem como Jesus. Embora na realidade sejamos todos apenas uma única pessoa, somos todos partes separadas dessa única pessoa.”

(SUMÁRIO de REGRAS PARA DECISÕES - Texto - Capítulo 30 - Seção I - Trechos do Workshop efetuado na Academy & Retreat Center of the Foundation for A Course in Miracles® Kenneth Wapnick, Ph.D.)


30 de julho de 2016

“Seja Gentil, Porque Todas As Pessoas Que Encontra Travam Uma Dura Batalha.”



"Be kind, for everyone you meet is fighting a hard battle."

Abaixo transcrição do video de Ken Wapnick


“Na Grécia Antiga, havia uma importante citação. Habitualmente atribuída a Filo, embora, por vezes, a Platão, sobre a qual, na verdade, já fiz um workshop, que diz: “Seja gentil, porque todas as pessoas que encontra travam uma dura batalha.” Esse é o nosso tema para esta tarde.

Seja gentil, porque todas as pessoas que encontra travam uma dura batalha. E essa ideia poderia, com certeza, ser retirada diretamente do Um Curso em Milagres.

A ideia-chave aí – aliás, há dois termos-chave nessa frase. Um, claro, é gentileza – ser gentil. E a outra é TODAS AS PESSOAS.

TODOS travamos uma dura batalha.

O inicio da Lição 182 “Eu me aquietarei por um momento e irei para casa” é inteiramente sobre como todos nós travamos a mesma dura batalha de estarmos num mundo que não é a nossa casa, de nos sentirmos um estranho num corpo e num universo físico, e que, em algum lugar dentro de nós, na nossa mente certa sabemos que não é a nossa casa.

A verdadeira casa é o Céu. E, neste mundo, a nossa verdadeira casa é na mente certa que contém o princípio da Expiação que nos diz que a separação nunca aconteceu e que, portanto, a projeção desse pensamento de separação, ou seja, o mundo, também nunca aconteceu.

Daí, em todo o Curso nos ser dito repetidamente que todos necessitam de nosso perdão; estamos todos no mesmo barco da infelicidade.

No Manual de professores, perto do início, é nós dito que a característica... a característica principal de um professor de Deus, que o/a torna num professor(a) de Deus é que ele(a) não vê os interesses do outro separados dos seus próprios.

Porque todos partilhamos dos mesmos interesses, da mesma necessidade. Todos temos o mesmo objetivo em mente, e o mesmo propósito em comum.

Que é, de alguma forma, reconhecermos que, ou vamos para casa todos juntos, ou ninguém vai; que estamos todos juntos no mesmo barco infeliz do ego.

Juntos! Separamo-nos como um e retornaremos com um.

É isso o que o Curso chama de a Segunda Vinda.

Mas antes de o fazermos coletivamente, temos que o fazer individualmente.

É isso que no manual, quer dizer “só um necessário um professor para salvar o mundo.” E cada um de nós tem que o fazer, aparentemente, como um indivíduo, com uma mente aparentemente separada, reconhecendo que somos todos o mesmo, e que, se excluir uma pessoa da Filiação, em virtude da minha raiva ou da minha insatisfação para com eles, ou o especialismo do amor especial ou ódio especial, eu excluo toda a Filiação, incluindo eu próprio, incluindo Jesus, ou qualquer outra pessoa que eu considere livre do ego.

Somos todos o mesmo. Todos temos o mesmo ego, o mesmo Espírito Santo e o mesmo poder para escolher entre eles.

Todos com quem nos encontramos travam uma dura batalha; portanto, deveríamos ser gentis.

Porquê querer atacar alguém que já se atacou a si próprio?

E ele se atacou a sí próprio simplesmente por acreditar que está aqui. E se eu for indelicado com você, tenho também que ser indelicado comigo, porque somos todos um.

“Ideias não deixam sua fonte.” “A projeção faz a percepção.” Estes dois andam sempre de mãos dadas.

Ideias não deixam sua fonte. O pensamento de separação nunca deixou a sua fonte na mente, o que significa que não há mundo lá fora.

Mas quando penso que há um pensamento separado que é real na minha mente, eu projeto-o para fora e é isso que percebo, acreditando que a projeção funciona.

Posso me livrar da crueldade para comigo próprio, que é onde nasce a culpa, por ter sido cruel comigo mesmo e cruel com o meu Criador e a minha Fonte.

Então, a origem dessa crueldade está na minha mente e eu acredito que posso projetá-la para fora. E por que penso que posso projetá-la para fora eu acredito vê-la nos outros. E os torno cruéis e chamo a isto pecado.

E, por isso, eles não merecem a minha gentileza porque são intrinsecamente cruéis. Esqueço-me de que fui eu quem os tornou cruéis.

Eu não sou responsável pelas outras pessoas escolherem o ego, mas sou responsável por querer que elas o escolham, e sou, com certeza, responsável por perceber o ego nelas, em vez de ver a mente certa, ao invés de ver o ego como uma defesa contra a mente certa.

Por isso, eu deveria ser gentil com todos, o que o Curso diz, com frequência, com cada coisa viva, eu deveria ser gentil com tudo e com todos porque todos estamos no mesmo barco infeliz do ego, porque acreditamos que pecamos contra a nossa Fonte, estamos dominados pela culpa e, portanto, a única maneira de podermos escapar dessa culpa é projetando-a para fora e vê-la em tudo à nossa volta, menos em nós próprios.

Assim, só perdoando é que eu aprendo que estou perdoando.

A forma de aprender a reconhecer que somos todos o mesmo é ser gentil com todos, sem exceção.

É por isto que não há ordem de dificuldade em milagres.

Nesse contexto, a gentiliza é o milagre. E todos merecem gentileza porque todos nós sofremos. Todos travamos a mesma dura batalha de tentarmos sobreviver num mundo estranho que nós inventamos, e depois nos esquecemos que o fizemos.

Mais uma vez, estamos todos na mesma situação terrível descrita no início da Lição 182. De fato, Jesus diz: “Não há ninguém que não saiba do que estou falando.”

Todos nós sabemos. Todos estamos cientes de como somos estranhos aqui. E, por isso, todos precisamos da gentileza amorosa do perdão que nos diz que isso foi apenas um equívoco. Foi apenas um sonho mau.

Por isso, por favor, seja gentil, pois todos com quem se encontra travam uma dura batalha. A sua dura batalha. A nossa dura batalha.

E nós deixamos esta dura batalha todos juntos, ou não a deixamos de todo.”
 

29 de julho de 2016

O Medo de Olhar para Dentro (The Fear to Look Within)



Texto abaixo, transcrição do vídeo de Ken Wapnick


“Acho que estamos entendidos sobre o primeiro passo do perdão. Podemos passar, então, para o segundo, que, basicamente, está implícito no primeiro, porque uma vez que nos lembramos da projeção e dizemos que a culpa não está nesta pessoa que eu tenho atacado e julgado, mas que, em vez disso, a culpa está em mim, agora posso olhar para essa culpa com o mesmo olhar desapaixonado com que olhei para a culpa na outra pessoa.
E eu posso perceber que, assim como o meu ataque representou uma decisão, também a culpa na minha mente é o reflexo de uma decisão, a decisão de ouvir o ego em vez do Espírito Santo.
Por outras palavras, assim como a minha raiva contra você foi completamente inventada, a culpa na minha mente, que é a fonte de minha raiva contra você, também é inventada.
Agora, este segundo passo pode ser muito difícil.
O que acontece neste segundo passo... ele não fala sobre isso em termos de passos, mas aprofunda este processo... e, então, quando, de repente, se apercebe que a arma que está apontada à sua cabeça não está sendo apontada pelo seu irmão mas, por você mesmo, ele diz: “este momento pode ser terrível”, o que acho uma maneira muito suave de dizer.
E é isso que, de certa forma, nos impele a dizer a seguir, “eu preferia morrer logo de uma vez”; ou, “a vida é mesmo aborrecida. Isto é, perdão é tão divertido quanto todas as coisas que o meu especialismo me tem seduzido ao longo de minha vida”, coisas essas que são, na verdade, defesas para que eu não olhe para o segundo passo.
Lembrem-se de que este segundo passo – que é o reconhecimento da culpa em nós mesmos – é a correção para o segundo passo do ego, que nos diz que a culpa é real.
E foi essa aceitação, que a minha culpa é real que, literalmente, mesmo literalmente, foi a causa da criação equivocada do universo físico.
Então, estamos realmente falando de um pensamento muito poderoso, pelo menos dentro do sonho, porque eu pequei contra Deus, e por trás dessa culpa, claro, está esse pensamento desta Presença de um Deus enraivecido que me vai destruir.
Foi esse pensamento que me impeliu como parte do Filho único, o Filho único separado, a projetar esse pensamento para fora e a literalmente, inventar um universo e mantê-lo.
Assim, a minha própria existência como eu com quem me defino, depende de eu nunca olhar para essa culpa. De certa forma, poderíamos dizer que o pensamento precedeu a projeção da culpa, que fez este mundo, o pensamento que a precedeu, foi o ego a nos dizer para nunca olharmos para isto, porque se olharmos para esta culpa, seremos destruídos.
Isso é o que está por trás da afirmação de Jesus na sessão intitulada “O medo de olhar para dentro.”
E ele diz: “... o ego aconselha o seguinte: Não olhes para dentro”, porque “se os fizeres, os teus olhos tocarão o pecado, e Deus te trespassará, cegando-te.”, que é uma maneira suave de dizer que Deus aniquilar-te-á.
Isso é o que ouvimos: não olhes para dentro, para a tua culpa, porque se fizer, os teus olhos vão incendiar-se com isso, com o pecado,  “e Deus te trespassará, cegando-te.”
Assim, à partir deste momento, deixamos  de ver, e o ego fez os olhos do corpo para que não pudéssemos ver.
Como o Curso diz, olhos não veem, ouvidos não ouvem, eles traduzem. Eles traduzem os desejos da mente.
Então, a minha mente quer que eu veja um mundo lá fora, um mundo de separação, lá fora. Ela quer, especialmente, que eu veja um mundo de culpa lá fora e então inventa um mundo e inventa olhos para eu ver, mas não está nada lá.
Mas, uma vez que nossos olhos veem e o nosso cérebro o interpreta, e todos temos esse acordo com as outras pessoas de que o que estamos vendo é correto, então, estamos certos de que é correto. Mas, tudo isto foi feito para que não víssemos.
Quando o Curso fala sobre a visão, que é um tema Importante do Curso, a visão de Cristo ou a percepção do Espírito Santo, ou a visão verdadeira ou percepção verdadeira, Jesus está falando sobre não olharmos com os olhos do corpo, mas através dos olhos da mente, que é um pensamento.
Então, este mundo surgiu como consequência do ego nos dizer para não olharmos para dentro, e toda a nossa existência, enquanto esta criatura física, psicológica que nos consideramos ser  está fundamentado no nosso não olhar para dentro.
É por isso que este Curso é tão difícil. É por isso que a espiritualidade autêntica é tão difícil, e porque é tão fácil uma religião começar, e começa em um nível muito alto, porque o fundador ou o profeta que lhe serviu de inspiração, é uma pessoa muito avançada. E, com a mesma rapidez com que aparece, transforma-se em um ritual.
Porquê?
Por que um ritual nós podemos ver. Mas não o vemos com a mente, vemos com os olhos do corpo.
Se olharmos para as grandes mitologias do mundo, o herói tem de passar por um anel de fogo ou tem de matar o dragão.
Tudo isto são símbolos da transposição das barreiras que o ego nos colocou e que dizem, “não vá para dentro, não encontre o tesouro.” Porque o ego diz que se encontrarmos o tesouro, não é um tesouro. E vai matá-lo.
O que o ego não nos diz, claro, é que aí está mesmo o verdadeiro tesouro, porque é onde a memória do Amor de Deus está.
Mas temos que passar por aquilo que o ego nos diz que são essa série de dragões, o círculo de fogo, todas essas tarefas tremendas que o herói tem de executar. Às vezes pode ser útil se conhecermos algumas das grandes mitologias e histórias do mundo, porque elas refletem tudo isto.
Este não é um caminho fácil. Agora, o Curso lhe diria que não é o único caminho, mas é, certamente, um caminho maravilhoso, e é um dos poucos cuja jornada se concentra neste aspecto.
Você não precisa de um doutorado em psicologia para o compreender, mas precisa, certamente, de algum tipo de compreensão e reconhecimento do processo de ter de se confrontar com o seu próprio inconsciente, ou a sua própria psique, porque é aí que residem todos os problemas.
Não só a culpa, mas também o Espírito Santo, estão ambos inconscientes, porque não estamos conscientes da mente.
Este segundo passo é, então, muito difícil apenas porque há tanto medo associado.
O que nos torna capazes de o atravessar, de atravessar o “círculo do medo”, este terror, é compreendendo que já tivemos experiências suficientes para sabermos que há algo mais, que há realmente algo por trás da culpa.
É preciso irmos muito lentamente e, a cada passo ao longo do caminho, lembrarmo-nos que os três passos de que eu falo não são a escada toda, mas são os três grupos. Existem todos aqueles pequenos passos que constituem todas as nossas experiências e as nossas lições na nossa vida. E estes pequenos passos têm de ser “fortemente reforçados”, como uma passagem do Curso diz, para que eu aprenda que é muito mais proveitoso dar ouvidos a Jesus do que ao meu ego. Que é muito mais proveitoso questionar os meus julgamentos, do que insistir teimosamente, insistir persistentemente, que estou certo. E tenho de já ter passado por uma série de experiências que me vão permitir dar este próximo passo.
Perto do final do capítulo 18, Jesus fala sobre como o Espírito Santo vai nos conduzir através do “círculo do medo” e que Deus está do outro lado, que não podemos ir da escuridão para a luz, sem atravessarmos a escuridão, sem atravessarmos este vale de desolação sem olharmos para a crença que nos diz que “somos o lar do mal, da escuridão e do pecado”.  
E tudo o que é necessário para que isto aconteça é que tenhamos “um pouco de boa vontade” para pedirmos ajuda para olhar para o mundo de forma diferente, passando a vê-lo como a sala de aula, ou a representação externa do mundo interior.
E a importância da compreensão, a nível intelectual, da teoria do Curso está em eu poder entender o propósito. O texto ajuda-me a entender porque eu faço isto, caso contrário não faz sentido.  E eu faço isto porque é isto que mantém o medo de Deus afastado, e que mantém o meu ego com medo da minha escolha por Deus.
Eu entendo o propósito. Agora, não me viro contra mim mesmo quando não faço as lições do livro de exercícios da forma que eu achava que deveria fazer, ou quando não perdoo da maneira que eu acho que deveria perdoar, porque agora eu entendo.
Eu entendo o que a resistência é. Entendo de onde vem. Entendo todo o conceito de propósito e sei que existe um método em todas as coisas insanas que eu fiz e ainda faço.
Mas, se eu puder olhar para isso sem julgamento, faço exatamente o que o Curso me pede para fazer.
A “pequena boa vontade” pode ser definida como a minha pequena disponibilidade de olhar para o meu ego sem julgamento.
Eu não o defendo. Eu não racionalizo sobre ele. Eu não o espiritualizo. Eu não o nego. Eu olho para ele, mas eu olho para ele sem me julgar.
E seu eu conseguir olhar para o meu ego sem o julgar, eu certamente olharei para os egos das outras pessoas sem os julgar, e todos à nossa volta ficarão muito contentes e gratos. E vão dizer, “mas... o que aconteceu com você?” E se você for sensato, vai apenas sorrir docemente. Você será a Cordélia*.
Você amará e permanecerá em silêncio.”
Tradução > Maria João Farjado
_________________________

*Cordélia > acredito que Ken Wapinick esteja se referindo a Shakespeare, em sua obra O rei Lear e uma de suas filhas pela sua rara honestidade.


Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...