15 de maio de 2009

Do Amor...


Do Amor

Quando o amor vos chamar, segui-o, mesmo que os seus caminhos sejam íngremes e penosos.

E quando as suas asas vos envolverem, entregai-vos a ele, ainda que a espada dissimulada nas suas penas vos possa ferir.
E quando ele vos falar, crede nele, embora a sua voz possa estilhaçar os vossos sonhos como o vento do norte devasta o jardim.

Pois assim como o amor vos coroa, também vos crucifica. E, tal como serve para o vosso crescimento, também serve para a vossa decadência.

E como ele se ergue até às vossas copas e acaricia os vossos mais tenros ramos que esvoaçam ao sol, também às vossas raízes ele desce e as sacudirá no seu apego à terra.
Quais feixes de trigo, ele vos reúne em si.
Vos amanha para vos pôr a nu.
Vos ciranda para vos libertar do vosso farelo.
Vos moi até à alvura.
Vos amassa até vos tornardes macios.
E, depois, vos entrega ao seu fogo sagrado, para vos tornardes pão sagrado para o festim sagrado de Deus.

O amor fará todas essas coisas de vós, para que possais conhecer os segredos do vosso coração e vos tornardes, através desse mesmo conhecimento, um fragmento do coração da vida.

Mas se, no vosso temor, procurardes no amor apenas paz e prazer, faríeis melhor se ocultásseis a vossa nudez e saísseis do amor, para o mundo sem razão, onde rireis, mas não com todo o vosso riso, e chorareis, mas não com todas as vossas lágrimas.

O amor dá-se apenas a si mesmo e nada recebe se não de si próprio.
O amor não possui nem quer ser possuído.
Porque o amor se basta do amor.
Quando amardes, não deveis dizer que está no meu coração, mas antes, no coração de Deus.
E não penseis que sois vós quem orienta o rumo do amor, pois, se vos achar dignos, será o amor que conduzirá o vosso caminho.
O amor não tem outro desejo que não realizar-se a si mesmo.
Mas se amardes e sentirdes desejos, que sejam estes os vossos desejos: Dissolver-se e ser-se como um regato que desliza e canta à noite a sua melodia.

De tanta ternura conhecer a dor, ser ferido pela vossa própria concepção do amor e sangrar de boa vontade e com júbilo.
Acordar para o amor com um coração alado e dar graças por um outro dia de amor;
e fazer uma pausa à hora do meio dia e meditar sobre o êxtase do amor; regressar à noite ao lar com gratidão; e adormecer com uma oração no coração pelo amado, e nos lábios um hino de louvor.

por Kahlil Gibran, em o Profeta"

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