Esta imagem representa a evolução dos graus de consciência do modo como é descrita por Friedrich Nietzsche, em seu Livro Assim Falou Zarathustra. Ele fala de três níveis: Camelo, Leão e Criança.
O camelo é sonolento, entediado, satisfeito consigo mesmo. Vive iludido, julgando-se o cume de uma montanha, mas, na verdade, preocupa-se tanto com a opinião dos outros que quase não tem energia própria.
Emergindo do camelo, aparece o leão. Quando nos damos conta de que temos estado abrindo mão da oportunidade de viver realmente a vida, passamos a dizer “não” às demandas dos outros. Nós nos apartamos da multidão, solitários, orgulhosos, rugindo a nossa verdade. A coisa, porém, não acaba por aí. Finalmente, emerge a criança, nem submissa nem rebelde, mas inocente e espontânea, fiel ao seu próprio ser...
O verdadeiro sábio volta a ser criança. O ciclo se completa – parte da criança e volta à criança. Mas a diferença é grande (...). O primeiro nascimento é o do corpo e o segundo nascimento é o da consciência.
Zaratustra divide a evolução da consciência em três símbolos: o camelo, o leão e a criança. O camelo é um animal de carga, disposto a ser escravizado, nunca rebelde. Nunca diz não. Ele é um crente, um seguidor, um escravo fiel. É o mais inferior na consciência humana.
O leão é uma revolução. O início de uma revolução é um “não” sagrado. Na consciência do camelo há sempre a necessidade de alguém que o conduza e lhe diga: “Farás isto.” Ele precisa dos dez mandamentos. Ele precisa de todas as religiões, de todos os padres e de todas as escrituras sagradas, porque é incapaz de confiar em si mesmo. Ele não tem coragem, não tem alma e não anseia pela liberdade. Ele é obediente.
O leão é o anseio da liberdade, um desejo de destruir todas as prisões. O leão não precisa de nenhum líder; ele se basta a si mesmo. Ele não permitirá que nenhum outro lhe diga: “Farás.” É um insulto ao seu orgulho. Ele pode dizer apenas: “Farei.” O leão é responsabilidade e um enorme esforço de se livrar de todas as prisões.
Mas, o leão também é o ápice do crescimento humano. O ápice ocorre quando o leão também passa por uma metamorfose e se torna criança. A criança é inocência. Não é obediência, não é desobediência; não é crença, não é descrença – é pura confiança, é um “sim” sagrado à existência, à vida e a tudo o que ela contém. A criança está no próprio ápice da pureza, da sinceridade, da autenticidade, da receptividade e da abertura à existência. São símbolos muito belos.
Zaratustra não é a favor dos fracos, não é a favor dos chamados humildes. Ele não concordaria com a idéia de Jesus de que “bem-aventurados os mansos”, “bem-aventurados os pobres”, bem-aventurados os humildes, porque herdarão o reino de Deus”. Zaratustra é absolutamente a favor de um espírito forte. Ele é contra o ego, mas não contra o orgulho. O orgulho é a dignidade do homem. O ego é uma falsa entidade e nunca deveríamos pensar nos dois termos como sinônimos.
O ego é o que priva você da sua dignidade, do seu orgulho, porque o ego precisa depender dos outros, da opinião dos outros, do que os outros dizem. O ego é muito frágil. A opinião das pessoas muda e o ego desaparece no ar.
O ego é subproduto da opinião pública. É dado a você por eles; podem tira-lo de você. O orgulho é um fenômeno totalmente diferente. O leão tem orgulho. O gamo na floresta – basta observar – tem um orgulho, uma dignidade, uma graça. Um pavão dançando, ou uma águia voando longe, no céu – eles não têm ego, não dependem da sua opinião; são simplesmente dignos como são. A dignidade nasce do seu próprio ser. Isso precisa ser compreendido, porque todas as religiões ensinam as pessoas a não serem orgulhosas – seja humilde. Elas criam um mal-entendido no mundo inteiro, como se ser orgulhoso e ser egoísta fossem sinônimos.
Zaratustra deixa absolutamente claro que ele é a favor do homem forte, do homem corajoso, do aventureiro que vai até o desconhecido, pelo caminho nunca trilhado, sem medo algum; ele é a favor do destemor. E é um milagre que o homem orgulhosos e somente o homem orgulhosos, possas se tornar criança.
A assim chamada humildade cristã é apenas um ego da cabeça para baixo. O ego se inverteu, mas está lá e pode-se ver como seus santos são mais egoístas do que as pessoas comuns. São egoístas por causa de sua piedade, sua austeridade, sua espiritualidade, sua santidade, até mesmo sua humildade. Ninguém é mais humilde do que eles. O ego tem um modo muito sutil de entrar pela porta dos fundos. Você pode atira-lo para fora pela porta da frente – ele sabe que existe uma porta dos fundos.
Escolher o camelo como a consciência mais inferior é perfeitamente adequado. A consciência mais inferior, no homem, é fraca; ela deseja ser escravizada. Teme a liberdade porque teme a responsabilidade. Está disposta a ser oprimida sob tanta carga quanto possível. Alegra-se ao ser oprimida; assim também a consciência mais inferior – sobrecarregada de conhecimento, o qual é tomado de empréstimo. Nenhum homem digno se deixará carregar de conhecimento emprestado. Esse conhecimento está carregado de moralidade transmitida aos vivos pelos mortos; é um domínio dos mortos sobre os vivos. Nenhum homem digno permitirá que os mortos o governem.
A consciência mais inferior do homem permanece ignorante e inconsciente, desatenta, em sono profundo – porque recebe continuamente o veneno da crença, da fé, do nunca duvidar, do nunca dizer não. E, quando um homem é incapaz de dizer não... seu sim é impotente, não significa nada. Percebe a conseqüência? O sim só faz sentido se você é capaz de dizer não. Se você é incapaz de dizer não, seu sim é impotente, não significa nada.
Assim o camelo deve mudar para um belo leão, disposto a morrer, mas não a ser escravizado. Não se pode fazer do leão um burro de carga. O leão possui dignidade que nenhum outro animal pode reivindicar; ele não tem tesouros, ele não tem reinos; sua dignidade está apenas em seu estilo de vida – corajoso, sem medo do desconhecido, disposto a dizer não até mesmo ao risco de morrer. Essa disposição de dizer não, essa rebeldia, o purifica de toda a sujeira deixada pelo camelo – todos os trações e pegadas deixados pelo camelo. E só depois do leão – depois do grande não – é possível o sim sagrado da criança.
A criança é o ápice da evolução, no que se refere à consciência. Mas a criança é apenas um símbolo; não significa que as crianças sejam o modo mais superior de ser. A criança é utilizada simbolicamente, porque não é instruída. Ela é inocente, e, como é inocente, está cheia de deslumbramento, e, como seus olhos estão cheios de deslumbramento, sua alma anseia pelo misterioso. Uma criança é um começo, um passatempo; e a vida deveria ser sempre um começo e sempre uma brincadeira; sempre riso e nunca seriedade.
O sim sagrado é necessário, mas o sim sagrado só pode vir depois do não sagrado. O camelo também diz sim, mas é um sim de escravo. Ele é incapaz de dizer não. Seu sim não tem sentido. O leão diz: “Não!” Mas é incapaz de dizer sim. É contra sua própria natureza. Faz que ele se lembre do camelo. De algum modo se libertou do camelo, e dizer sim naturalmente o faz se lembrar outra vez – do sim do camelo e da escravidão. Não, o animal no camelo é incapaz de dizer não. No leão, ele é capaz de dizer não, mas incapaz de dizer sim.
A criança nada sabe do camelo e nada sabe do leão. É por isso que Zaratustra diz: “A criança é inocência e esquecimento...” Seu sim é puro e ela tem todo o potencial de dizer não. Se não o diz, é porque confia e não confia por ter medo; não vem do medo, mas da confiança. E, quando o sim vem da confiança, é a maior das metamorfoses, a maior das transformações que se pode esperar.
Esses três símbolo são bonitos de lembrar. Lembre-se de que você está onde está o camelo, e lembre-se de que deve ir até o leão, e lembre-se de que não precisa parar no leão.
Deve caminhar ainda além, em direção a um novo início, à inocência e ao sim sagrado; à criança.
Texto do livro: O espírito Zen do taro - Osho
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