I CHING
Aqui está os dez Hexagramas relacionados ao
DESENVOLVIMENTO DA CONSCIÊNCIA SUPERIOR
e sua relação com os dez quadros do
PASTOREIO DO BOI
da tradição Zen
Estes são os hexagramas relacionados ao desenvolvimento do caráter, e como minha intenção é atingir as pessoas sérias que procuram um guia para o desenvolvimento da consciência superior, incluo mais um ponto de reflexão: os 10 quadros do Pastoreio do Boi da tradição zen-budista, que nos relatam de forma poética como a consciência do peregrino sofre e se transforma até se aperceber do estado de Buda que existe nele mesmo. Tentem acompanhar estas analogias; deixo claro que a interpretação dos quadros e sua relação com os hexagramas é realizada exclusivamente à luz da consciência que me guia. Se estiver errado estarei pronto para corrigir meu erro.
Será dado ênfase aos processos de meditação (reflexão) e autoconhecimento
Se analisarmos detidamente o Livro das Mutações, especialmente o Ta Chuan, no I Ching de Richard Wilhelm (Edit. Pensamento), poderemos notar que em nenhum momento se afirma que o Livro das Mutações foi escrito para saber a “sorte” como comumente é entendida. Ao contrário, sempre deixa-se manifesta a “Vontade dos Homens Sábios” que continuamente meditavam para que os homens inferiores pudessem seguir uma Via ou Tao da conduta superior.
Em nenhum lugar está escrito que o I Ching foi idealizado para saber alguma atividade que qualquer ser humano comum, usando um mínimo de sua inteligência, não saiba resolver. Ao contrário, o mais importante é o destaque contínuo que se faz sobre a espiritualidade deste livro.
Estes hexagramas estão intimamente associados a uma experiência transformadora de nosso caráter, assim como da nossa visão do mundo que nos rodeia.
Entendo que essas experiências transformadoras seguem uma linha de ação, a saber:
· Todo ser humano sempre procurou bem-estar físico, comodidades, segurança de toda espécie, de forma egoísta, sem lhe importar o sofrimento que isto causaria às outras pessoas que o acompanham;
· Depois, este mesmo ser humano sofreu as conseqüências de seus atos e o sofrimento experimentado fez com que somente alguns procurassem um caminho superior de autoconhecimento. Estes textos estão dirigidos especialmente a eles.
Sendo, portanto o I Ching a VIA DOS HOMENS SÁBIOS, nada melhor do que incluir uma análise dos DEZ QUADROS DO PASTOREIO DO BOI da tradição zen-budista e sua relação com estes hexagramas, porque eles refletem uma crise profunda, não só do caráter mas, de toda estrutura do Ser no seu processo de auto-realização.
O autor dos “Dez quadros do pastoreio do boi”, foi o célebre mestre zen da escola Rinzai, da dinastia Sung (960-1279), conhecido no Japão pelo nome de KAKU-AS SHI-EM e na China pelo nome de KUO-NA SHIH YUAN. Ele é também o autor dos poemas da introdução que acompanham os quadros.
Observação: a tradução dos poemas foi realizada pelo próprio autor. Todos os poemas foram extraídos da obra de D.T. Suzuki, Manual de Zen-Budismo, Edit. Kier, Buenos Aires – Argentina, 1976.
Texto adaptado por mim (Lena) do livro: I CHING – Uma abordagem Psicológica & Espiritual do I Ching – Autor: Roque E. Severino - Edit. Ícone.
Segundo Quadro > ENCONTRANDO AS PEGADAS
I CHING
Segundo Quadro
ENCONTRANDO AS PEGADAS
(Hexagrama 10 – Lu – Conduta a trilhar)
Diz o poema:
“Com a ajuda dos sutras e estudando as doutrinas, chegou a compreender alguma coisa; encontrou pegadas.”
Agora já sabe que os vasos, por mais variados que sejam, todos são de ouro e que o mundo objetivo é somente o reflexo do Eu. Porém, ainda que sua mente não possa distinguir o bom e o não bom, sua mente ainda está confusa com a verdade e a falácia. Como ainda não passou pela porta, se diz provisoriamente que somente excontrou pegadas. Junto ao riacho e debaixo das árvores estão dispersas as pegadas daquele que se perdeu; crescem abundantes gramas de doce aroma.
Ele encontrou o caminho?...
“Por mais longe que a besta ande pelos morros, seu nariz chega aos céus e ninguém pode oculta-la.”
Comentário ao poema:
No seu desespero, encontra amigos que lhe mostram os ensinamentos, algumas pr´ticas, alguns livros, muitas seitas, hoje zen-budismo, amanhã Tibete, depois alguma prática com os índios; experimenta alguma droga “mísitica”, enfim: ele compreende alguma coisa e, teoricamente, “encontra” o caminho de retorno. Ele compreende que todas as experiências, ou doutrinas ou “vasos”, por mais variados que sejam, essencialmente são de ouro puro. Esse outro está representado no Prajna Paramita Sutra quando Bodhisatwa Avalokiteswara diz: “Oh Sariputra, os fenômenos não são diferentes do vazio. O vazio não é diferente dos fenômenos.”
Ainda assim, ele não pode distinguir o certo do errado; tem fé. Sabe que a saída deste inferno da contradição é através da procura constante do Buda interno, mas como sua procura é fraca, se diz que somente encontrou pegadas. Na última estrofe do poema, o triunfo está assegurado, ou seja: por mais perdida que a pessoa esteja, o “seu nariz chega aos céus”, quer dizer, seu sentido de direção é correto, por isso se decide a:
CONDUTA A TRILHAR
Comentário ao espírito do hexagrama
Após ter aprendido a primeira lição, em Fu, agora o discípulo tem de aprender as regras do caminho, dos rituais, das formalidades. As regras do caminho estão relacionadas com a disciplina interna. Esta disciplina ele terá que forjar sozinho, no íntimo de sua consciência. O discípulo está tentando penetras nos mistérios de Chien (trigrama superior = céu), O CÉU, está colocando sua atenção nos centros superiores, e, para efetuar esse trabalho, terá de realiza-lo vagarosamente e inteligentemente.
As regras do ritual: rito e ordem, realizar as tarefas, sejam elas humanas ou divinas, em perfeita harmonia com a leis cósmicas. As regras do ritual incluem também a forma ordenada de se transmutar, pouco a pouco.
Difícil obter êxito, se não se conhece as leis de Yin e Yang, atividade e repouso. As leis do Céu seguem ciclos determinados e o aprendiz de mestre, a fim de se transformar, tem de conhece-las e viver de acordo com elas.
Tudo o que ele aprendeu terá de demonstrar entre os homens; sua vida terá de ser impecável e terá de usar a gentileza a fim de poder conviver dignamente entre as pessoas.
Lembremos que Tui (trigrama infeior), está relacionado com a boca e as palavras; como neste caso Tui e Chien são trigramas correspondente ao mesmo elemento, eles estão dentro do ciclo de geração, por conseqüência as palavras terão que ser harmoniosas, cultas, inteligentes, cheias de criatividade, palavras que promovam a cooperação e a concórdia entre os homens. Lu neste caso representa o primeiro intento consciente do discípulo rumo às esferas do Ser e da realidade. O mais importante é que ele inicia este caminhar em forma alegre e isto representa em relação ao hexagrama anterior uma mudança interna profunda, porque em Fu as preocupações, angústias e dores foram transmutadas em alegria e gozo.
CONSIDERAÇÕES SOBRE O JULGAMENTO
Após o Hexagrama 24, Fu, o discípulo aqui “pisa sobre a cauda do tigre”.
Este pisar está relacionado com o trabalho a ser feito depois que a ilusão foi governada. Uma vez realizado este trabalho, o segundo passo é tranformar tudo o que foi controlado trabalhando em forma ordenada e rítmica, aplicando as leis espirituais. Lembre-se que Chien é a lei, seja ela humana ou divina. A forma é incorporando dentro de si mesmo a suavidade e a benevolência, característica de Sun. É justamente compreendendo como a suavidade interfere nestas energias que o indivíduo está começando a manejar, que ele inicia o caminho de retorno em forma consciente.
Em termos de mente contemplativa, depois de realizarmos os reajustes de caráter específicos, será necessário reconhecer claramente os estágios sucessivos para se chegar à compreensão da aplicação real do conhecimento. O trabalho de tentar iluminar é considerado “pisar a cauda do tigre”.
Também em termos budistas a flexibilidade de Sun e Li dentro deste Hexagrama representa usar concentração par acordar a intuição, usar a cultura para se harmonizar com a natureza, usar o pequeno satori para, através da repetição contínua, procurar a mais alta integração, o Nirvana. E inclui-se mais um aprendizado profundo dentro de todo este espectro: aprender a ser um iluminado, ao mesmo tempo em que se comporta como uma pessoa ordinária.
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Tendo se apercebido dos erros durante o passado ele inclui na sua consciência a prática da MODÉSTIA; penetrando no corpo desta virtude ele encontra o > Terceiro Quadro: BOI À VISTA.
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