TÉCNICA DE ATENÇÃO
SUTRA
“Com atenção entre as sobrancelhas, deixe que a mente anteceda o pensamento. Permita que a forma seja preenchida pela essência da respiração até o alto da cabeça e daí se derrame como luz.”
SUTRA
“Com atenção entre as sobrancelhas, deixe que a mente anteceda o pensamento. Permita que a forma seja preenchida pela essência da respiração até o alto da cabeça e daí se derrame como luz.”
Quando um dos grandes filósofos gregos, Pitágoras, chegou ao Egito para entrar em uma escola – uma escola secreta esotérica de misticismo, foi recusado. E Pitágoras foi uma das maiores mentes já produzidas. Ele não podia entender. Tentou se matricular muitas e muitas vezes, mas lhe disseram que, a menos que passasse por um certo treinamento de jejum e respiração, não poderia ser aceito na escola.
Conta-se que Pitágoras disse: “Eu vim para conhecer, não para qualquer tipo de disciplina”. Mas as autoridades da escola responderam: “Não lhe podemos dar o conhecimento a menos que você fique diferente. E, na verdade, não estamos absolutamente interessados no conhecimento. Estamos interessados na experiência real. E nenhum conhecimento é conhecimento a menos que seja vivido e experimentado. Por isso você terá de fazer um jejum de 40 dias, respirando continuamente de uma certa maneira, com uma certa consciência em determinados pontos”.
Não havia outra saída, assim Pitágoras teve de passar por esse treinamento. Depois de jejuar e respirar por 40 dias, conscientemente, atento, foi-lhe permitida a entrada para a escola. Conta-se que Pitágoras disse: “Vocês não estão dando permissão a Pitágoras. Sou um homem diferente. Nasci outra vez. E vocês estavam certos e eu errado, porque antes todo o meu ponto de vista era intelectual. Através dessa purificação, o centro do meu ser foi modificado. Do intelecto ele desceu para o coração. Agora posso sentir as coisas. Antes desse treinamento eu só podia entender através do intelecto, através da cabeça. Agora posso sentir. Agora a Verdade não é mais um conceito para mim, mas uma vida. Não vai ser uma filosofia, mas, em vez disso, uma experiência – existencial”.
Qual foi o treinamento pelo qual ele passou?... Foi-lhe dado no Egito, mas a técnica é indiana.
“Com atenção entre as sobrancelhas, deixe que a mente anteceda o pensamento. Permita que a forma seja preenchida pela essência da respiração até o alto da cabeça e daí se derrame como luz.”
Esta foi a técnica dada a Pitágoras. E Pitágoras foi com ela para a Grécia. E, na verdade, ele se tornou a fonte primeira, a origem de todo o misticismo no Ocidente. Ele é o pai de todo o misticismo no Ocidente.
Esta técnica é um dos métodos mais profundos. Tente entender isto: “Com atenção entre as sobrancelhas...”. A fisiologia moderna, a pesquisa científica, diz que, entre as duas sobrancelhas, fica uma glândula que é a parte mais misteriosa do corpo humano. Essa glândula chamada de pineal é o terceiro olho dos tibetanos – Shivanetra: olho de Shiva, do tantra. Entre os dois olhos, existe um terceiro olho, mas não está em funcionamento. Está aí, pode funcionar a qualquer momento. Mas, de forma natural, não está funcionando. Você tem de fazer alguma coisa a respeito para abri-lo. Ele não é cego. Está simplesmente fechado. Esta técnica é para abrir o terceiro olho.
“Com atenção entre as sobrancelhas...”. Feche seus olhos, depois focalize ambos os olhos exatamente no meio das duas sobrancelhas. Focalize exatamente no meio, de olhos fechados, como se você estivesse olhando com ambos os olhos. Dê atenção total a isso.
Este é um dos métodos mais simples para estar atento. Você não pode ficar atento tão facilmente a nenhuma outra parte do corpo. Essa glândula absorve a atenção como nenhuma outra. Se você coloca sua atenção nela, ambos os seus olhos ficam hipnotizados pelo terceiro olho. Eles se tornam fixos, não se podem mover. Se você tentar ficar atento a qualquer outra parte do corpo será muito difícil. O terceiro olho atrai a atenção, força-a. Ele a magnetiza. Por isso todos os métodos no mundo inteiro o têm usado. É o mais simples para treinar a atenção, porque não é só você que está tentando ficar atento: a própria glândula o auxilia; ela é magnética. Sua atenção é forçosamente trazida a ela. É absorvida.
Dizem nas antigas escrituras tântricas que a atenção é o alimento do terceiro olho. Ele está faminto; esteve faminto durante vidas e vidas. Se você presta atenção a ele, ele se torna vivo. Ele se torna vivo!É-lhe dado alimento. E, uma vez que você saiba que a atenção é o alimento, uma vez que você sinta que sua atenção é magneticamente drenada, atraída, puxada pela própria glândula, o estar atento não é mais uma coisa difícil. A pessoa tem apenas de saber o ponto certo.
“Com atenção entre as sobrancelhas, deixe que a mente anteceda o pensamento...” Se essa atenção estiver presente, pela primeira vez você experimentará um fenômeno estranho. Pela primeira vez sentirá os pensamentos passando diante de você; você se tornará a testemunha. É exatamente como uma tela de cinema, os pensamentos estão passando e você é uma testemunha. Uma vez que sua atenção está focalizada no centro do terceiro olho, você se torna imediatamente a testemunha dos pensamentos.
Comumente você não é a testemunha: você está identificado com os pensamentos. Se a raiva está presente, você se torna a raiva. Se um pensamento se move, você não é a testemunha: você se unifica ao pensamento, toma a forma do pensamento. Quando o sexo está presente, você se torna o sexo, quando é a raiva, você se torna a raiva, quando é a ambição, você se torna a ambição. Qualquer pensamento que se mova se torna identificado com você. Você não tem intervalo algum entre você mesmo e o pensamento.
Mas, focalizado no terceiro olho, subitamente você se torna uma testemunha. A través do terceiro olho, você se torna a testemunha. Através do terceiro olho, você pode ver os pensamentos passando como nuvens no céu ou gente andando pela rua.
Você está sentado perto da sua janela olhando para o céu ou para as pessoas na rua: você não está identificado. Você está à parte, é um observador na colina – indiferente. Agora, se a raiva está presente, você pode olhar para ela como um objeto. Agora você não sente que VOCÊ é a raiva. Você se sente cercado por ela: uma nuvem de raiva o envolveu. Mas você não é a raiva – e, se você não é a raiva, ela se torna impotente. Não pode afeta-lo; você permanece intocável. A raiva chegará e sairá e você permanecerá centrado em si mesmo ...é a técnica do encontro com a testemunha.
“Com atenção entre as sobrancelhas, deixe que a mente anteceda o pensamento.” Agora olhe para seus pensamentos, encontre-se com eles. “Permita que a forma seja preenchida pela essência da respiração até o alto da cabeça e daí se derrame como luz.” Quando a atenção está focalizada no centro do terceiro olho, entre as sobrancelhas, duas coisas acontecem. Uma é que subitamente você se torna uma testemunha. Isso pode acontecer de duas maneiras. Você se torna uma testemunha e fica centrado no terceiro olho.
Tente ser uma testemunha. O que quer que esteja acontecendo, tente ser uma testemunha. Você está doente, com o corpo dolorido, está miserável e sofre, seja o que for: seja uma testemunha disso. O que quer que esteja acontecendo, não se identifique com isso. Seja uma testemunha – um observador. Então, se o testemunhar se tornar possível, você estará focalizado no terceiro olho.
Em segundo lugar, também pode acontecer o inverso. Se você estiver focalizado no terceiro olho, você se tornará uma testemunha. Estas duas coisas são partes de uma coisa só. Por isso, a primeira: por estar centralizado no terceiro olho, acontecerá o despertar do Eu testemunha. Agora você poderá se encontrar com seus pensamentos. Esta será a primeira coisa. E a segunda será que agora você pode sentir a vibração sutil, delicada, da respiração. Pode sentir a forma da respiração, a própria essência da respiração.
Primeiro tente entender o que se quer dizer com “a forma” e “essência da respiração”. Quando você está respirando, não estyá respirando apenas ar. A ciência diz que você está respirando ar – apenas oxigênio, hidrogênio e outros gazes em suas formas combinadas de ar. Eles dizem que você está respirando “ar”! Mas o tantra diz que o ar é apenas o veículo, não a coisa real. Você está respirando “prana” – vitalidade. O ar é apenas o meio, prana é o conteúdo. Você respira prana – não apenas ar.
A ciência moderna ainda não foi capaz de descobrir se existe algo como o prana. Mas alguns pesquisadores sentiram algo misterioso. A respiração não é simplesmente ar. Isso foi percebido por muitos pesquisadores modernos também. Particularmente um nome deve ser mencionado – Wilhelm Reich, um psicólogo alemão que o chamou de “Energia orgone”. É o mesmo que prana. Ele diz que, enquanto você respira, o ar é apenas o continente e que existe um conteúdo misterioso que pode ser chamado de “orgone” ou “prana” ou ainda “élan vital”. Mas isso é muito sutil. Na verdade, não é material. O ar é uma coisa material: o continente é material. Mas alguma coisa sutil, não material, está-se movendo através dele.
Os efeitos disso podem ser sentidos. Quando você estiver com uma pessoa muito vital, sentirá uma certa vitalidade surgindo dentro de você. Se estiver com alguém muito doente, se sentirá sugado, como se alguma coisa lhe tivesse sido tirado. Quando você vai para um hospital, por que se sente tão cansado? Você está sendo sugado de todos os lados. A atmosfera toda do hospital é doente, e todo mundo ali precisa de mais élan vital, de mais prana. Por isso, se você está lá, seu prana começa a sair de você. Por que, à vezes, você se sente sufocado quando está no meio de uma multidão? Porque seu prana está sendo sugado. Quando você está sozinho, sob o céu, de manhã, embaixo das árvores, sente subitamente uma vitalidade em você – o prana. Cada um precisa de um espaço particular. Se esse espaço não é concedido, seu prana é sugado.
Wilhelm Reich fez muitas experiências, mas pensaram que ele estivesse louco. A ciência tem suas próprias superstições, e a ciência é algo muito ortodoxo. A ciência ainda não pode sentir que existe algo mais do que ar, mas a ídia tem feito experiências com isso há séculos.
Você já deve ter ouvido falar ou mesmo deve ter visto alguém entrando em Samadhi (Consciência Cósmica) – num Samadhi subterrâneo – durante dias, sem entrada do ar. Um homem entrou em Samadhi subterrâneo no Egito, em 1880, por 40 anos. Todos aqueles que o entrerraram morreram, pois ele saiu de seu Samadhi em 1920, ninguém acdreditava que poderiam encontra-lo vivo, mas ele o foi. E ainda viveu por mais 10 anos. Tornara-se completamente pálido, mas estava vivo. E não havia possibilidade de o ar chegar até ele.
Foi interpelado pelos médicos e por outras pessoas. “Qual o segredo disso?” Ele respondeu: “Nós não sabemos. Sabemos apenas isto: que o prana pode entrar e fluir em qualquer lugar”. O ar pode não penetrar, mas o prana pode. Uma vez que você sabe que pode aspirar o prana diretamente, sem o continente, então pode entrar em Samadhi até mesmo por séculos.
Está focalizado no terceiro olho, subitamente você pode observar a própria essência da respiração – não a respiração, mas a própria essência da respiração, o prana. E, se puder obeservar a essência da respiração, o prana, estará lá no ponto de onde o salto, a passagem acontece.
O sutra diz: “Permita que a forma seja preenchida pela essência da respiração até o alto da cabeça...” E, quando você chegar a sentir a essência da respiração, o prana, imagine apenas que sua cabeça foi preenchida por ela. Apenas imagine. Não é necessário nenhum esforço. Vou explicar-lhe como funciona a imaginação. Quando você está focalizado no centro do terceiro olho, basta imaginar e a coisa acontece – simplesmente isso.
Neste momento, sua imaginação é simplesmente importante. Você continua imaginando e nada acontece. Mas algumas vezes, sem saber, na vida comum também, as coisas acontecem. Você está pensando em seu amigo e, de repente, batem à porta. Você diz que é uma coincidência seu amigo ter vindo. Algumas vezes sua imaginação funciona exatamente como uma coincidência. Mas sempre que isso acontecer agora, tente lembrar-se de analisar a coisa toda. Sempre que acontecer de você sentir que sua imaginação se torna real, concentre-se e observe. E, algum momento, sua atenção deve ter estado perto do terceiro olho. Sempre que acontece essa coincidência, não é uma coincidência. Parece ser porque você não conhece a ciência secreta. Sua mente deve ter-se dirigido, sem perceber, para perto do centro do terceiro olho. Se sua atenção está no terceiro olho, só a imaginação é suficiente para criar qualquer fenômeno.
Este sutra diz que, quando você estiver focalizado no ponto entre as sobrancelhas e puder sentir a própria essência da respiração, “permite que a forma seja preenchida”. Agora imagine que esta essência está preenchendo toda a sua cabeça – especialmente o alto da cabeça, o Sahasrar (o centro psíquico mais alto). No momento em que você imaginar, ele será preenchido. “E daí (do alto da cabeça) se derrame como luz”. Essa essência do prana está se espalhando como luz a partir do alto da sua cabeça. E ela começará a se derramar e sob essa chuva de luz, você ficará refeito, renascido, completamente novo. Isso é o que significa renascimento interno.
Assim, duas coisas: primeiro, focalizada no terceiro olho, sua imaginação se torna potente, poderosa. Por isso é que tem havido tanta insistência quanto à pureza: antes de inciar estas práticas, esteja puro. Para o tantra, a pureza não é um conceito moral. A pureza é significativa – porque, se você estiver focalizado no terceiro olho e sua mente estiver impura, sua imaginação poderá se tornar perigosa: perigosa para você, perigosa para os outros. Se você estiver pensando em matar alguém, se essa idéia estiver na sua mente, bastará a imaginação para matar o homem. Daí tanta insistência no estar puro primeiro.
Disseram a Pitágoras para jejuar, para respirar de um determinado modo – desse modo, porque aqui a pessoa está viajando numa terra muito perigosa: porque, onde quer que haja poder, há perigo. E se a mente estiver impura quando você adquirir poderes seus pensamentos impuros tomarão conta dela imediatamente.
Muitas vezes você já se imaginou matando, mas, felizmente, a imaginação não pode funcionar. Se pudesse, se fosse materializado imediatamente, então isso seria perigoso – não somente para os outros, mas para você também, porque muitas vezes você pensou em se suicidar. Se a mente estiver focalizada no terceiro olho, bastará pensar em suicídio e isso se tornará suicídio. Você não terá tempo para mudar. Imediatamente acontecerá.
Você já deve ter observado alguém sendo hipnotizado. Quando alguém está hipnotizado, o hipnotizador pode dizer qualquer coisa que a pessoa hipnotizada obedece imediatamente. Por mais absurda que seja a ordem, por mais irracional ou até mesmo impossível, a pessoa hipnotizada obedece. Que está acontecendo? Está técnica está na base de todo o hipnotismo. Quando alguém está sendo hipnotizado, mandam que ele focalize seus olhos em um ponto particular – em alguma luz, algum ponto na parede, ou nos olhos do hipnotizador.
Quando você focacaliza seus olhos em um ponto particular, dentro de três minutos sua atenção interna começa a fluir em direção ao terceiro olho. E, no momento em que sua atenção interna começa a fluir em direção ao terceiro olho, seu rosto começa a mudar. E o hipnotizador sabe quando seu rosto começa a mudar. Subitamente seu rosto perde toda a vitalidade. Torna-se morto, como que profundamente adormecido. Imediatamente o hipnotizador sabe quando seu rosto perde o brilho, a vivacidade. Isso significa que agora sua atenção está sendo sugada pelo centro do terceiro olho. Seu rosto se torna morto; toda a energia está indo em direção ao centro do terceiro olho.(...)
Isso acontece por causa do terceiro olho. Nele a imaginação e a concretização não são duas coisas. A imaginação é o fato. Imagine e será assim. Não existe nenhum intervalo entre o sonho e a realidade. NÃO existe separação entre o sonho e a realidade! Sonhe e o sonho se tornará real! Por isso é que Shankara disse que este mundo todo nada mais é do que o sonho do Divino! – Isso porque o Divino está centralizado no terceiro olho – sempre, eternamente. Assim, qualquer coisa que o Divino sonhe se torna real. Se você também estiver centrado no terceiro olho, qualquer coisa que você sonhe se tornará real.
Sariputta veio a Buda. Meditou profundamente e então muitas coisas, muitas visões, começaram a surgir, como acontece com qualquer um que entre em profunda meditação. Ele começou a ver céus, começou a ver infernos, começou a ver anjos, deuses, demônios. E eles eram concretos, tão reais que ele veio correndo até Buda para lhe contar que havia tido tais e tais visões. Mas Buda lhe disse: “Não é nada – apenas sonhos. Apenas sonhos”. Mas Sariputta disse: “Eles são tão reais. Como posso dizer que são sonhos? Quando vejo uma flor em minha visão ela é mais real do que qualquer flor do mundo. A fragância está presente, posso toca-la. Quando eu vejo”, disse a Buda, “não é tão real. Aquela flor é mais real do que sua presença aqui diante de mim; assim, como posso diferenciar o que é real e o que é sonho?” Buda respondeu: “Agora que você está centrado no terceiro olho, o sonho e a realidade são um só. O que quer que você sonhe se tornará real e vice-versa”.
Para quem está centrado no terceiro olho, os sonhos se tornam reais e toda realidade se torna apenas um sonho, porque, quando seu sonho pode se tornar real, você sabe que não existe nenhuma diferença básica entre o sonho e a realidade. Assim, quando Shankara diz que este mundo inteiro é apenas maya, um sonho do Divino, não é uma proposição teórica, não é uma declaração filosófica. Na verdade, é uma experiência íntima de alguém que está focalizado no terceiro olho.
Quando você estiver focalizado no terceiro olho, imagine apenas que a essência do prana está se derramando a partir do alto da cabeça, assim como se você estivesse embaixo de uma árvore e as flores estivessem caindo, ou como se estivesse sob o céu e, de repente, uma nuvem começasse a chover, ou como se estivesse sentado, na manhã, e o sol nascesse e os raios dele se derramassem. Imagine e imediatamente acontecerá um derramar – uma chuva de luz vinda o alto da cabeça. Esta chuva o refaz, dá-lhe um novo nascimento. Você renasce...
Texto do livro: O Livro dos Segredos – Bhagwan Shree Rajneesh (Osho) - Maha Lakshmi Editora.
OBS: Releia aqui também (relacionado com o assunto em pauta) no Blog > O SEGREDO DA FLOR DOURADA: http://desenvolvendoaconsciencia.blogspot.com/2008/02/o-segredo-da-flor-dourada.html
Não havia outra saída, assim Pitágoras teve de passar por esse treinamento. Depois de jejuar e respirar por 40 dias, conscientemente, atento, foi-lhe permitida a entrada para a escola. Conta-se que Pitágoras disse: “Vocês não estão dando permissão a Pitágoras. Sou um homem diferente. Nasci outra vez. E vocês estavam certos e eu errado, porque antes todo o meu ponto de vista era intelectual. Através dessa purificação, o centro do meu ser foi modificado. Do intelecto ele desceu para o coração. Agora posso sentir as coisas. Antes desse treinamento eu só podia entender através do intelecto, através da cabeça. Agora posso sentir. Agora a Verdade não é mais um conceito para mim, mas uma vida. Não vai ser uma filosofia, mas, em vez disso, uma experiência – existencial”.
Qual foi o treinamento pelo qual ele passou?... Foi-lhe dado no Egito, mas a técnica é indiana.
“Com atenção entre as sobrancelhas, deixe que a mente anteceda o pensamento. Permita que a forma seja preenchida pela essência da respiração até o alto da cabeça e daí se derrame como luz.”
Esta foi a técnica dada a Pitágoras. E Pitágoras foi com ela para a Grécia. E, na verdade, ele se tornou a fonte primeira, a origem de todo o misticismo no Ocidente. Ele é o pai de todo o misticismo no Ocidente.
Esta técnica é um dos métodos mais profundos. Tente entender isto: “Com atenção entre as sobrancelhas...”. A fisiologia moderna, a pesquisa científica, diz que, entre as duas sobrancelhas, fica uma glândula que é a parte mais misteriosa do corpo humano. Essa glândula chamada de pineal é o terceiro olho dos tibetanos – Shivanetra: olho de Shiva, do tantra. Entre os dois olhos, existe um terceiro olho, mas não está em funcionamento. Está aí, pode funcionar a qualquer momento. Mas, de forma natural, não está funcionando. Você tem de fazer alguma coisa a respeito para abri-lo. Ele não é cego. Está simplesmente fechado. Esta técnica é para abrir o terceiro olho.
“Com atenção entre as sobrancelhas...”. Feche seus olhos, depois focalize ambos os olhos exatamente no meio das duas sobrancelhas. Focalize exatamente no meio, de olhos fechados, como se você estivesse olhando com ambos os olhos. Dê atenção total a isso.
Este é um dos métodos mais simples para estar atento. Você não pode ficar atento tão facilmente a nenhuma outra parte do corpo. Essa glândula absorve a atenção como nenhuma outra. Se você coloca sua atenção nela, ambos os seus olhos ficam hipnotizados pelo terceiro olho. Eles se tornam fixos, não se podem mover. Se você tentar ficar atento a qualquer outra parte do corpo será muito difícil. O terceiro olho atrai a atenção, força-a. Ele a magnetiza. Por isso todos os métodos no mundo inteiro o têm usado. É o mais simples para treinar a atenção, porque não é só você que está tentando ficar atento: a própria glândula o auxilia; ela é magnética. Sua atenção é forçosamente trazida a ela. É absorvida.
Dizem nas antigas escrituras tântricas que a atenção é o alimento do terceiro olho. Ele está faminto; esteve faminto durante vidas e vidas. Se você presta atenção a ele, ele se torna vivo. Ele se torna vivo!É-lhe dado alimento. E, uma vez que você saiba que a atenção é o alimento, uma vez que você sinta que sua atenção é magneticamente drenada, atraída, puxada pela própria glândula, o estar atento não é mais uma coisa difícil. A pessoa tem apenas de saber o ponto certo.
“Com atenção entre as sobrancelhas, deixe que a mente anteceda o pensamento...” Se essa atenção estiver presente, pela primeira vez você experimentará um fenômeno estranho. Pela primeira vez sentirá os pensamentos passando diante de você; você se tornará a testemunha. É exatamente como uma tela de cinema, os pensamentos estão passando e você é uma testemunha. Uma vez que sua atenção está focalizada no centro do terceiro olho, você se torna imediatamente a testemunha dos pensamentos.
Comumente você não é a testemunha: você está identificado com os pensamentos. Se a raiva está presente, você se torna a raiva. Se um pensamento se move, você não é a testemunha: você se unifica ao pensamento, toma a forma do pensamento. Quando o sexo está presente, você se torna o sexo, quando é a raiva, você se torna a raiva, quando é a ambição, você se torna a ambição. Qualquer pensamento que se mova se torna identificado com você. Você não tem intervalo algum entre você mesmo e o pensamento.
Mas, focalizado no terceiro olho, subitamente você se torna uma testemunha. A través do terceiro olho, você se torna a testemunha. Através do terceiro olho, você pode ver os pensamentos passando como nuvens no céu ou gente andando pela rua.
Você está sentado perto da sua janela olhando para o céu ou para as pessoas na rua: você não está identificado. Você está à parte, é um observador na colina – indiferente. Agora, se a raiva está presente, você pode olhar para ela como um objeto. Agora você não sente que VOCÊ é a raiva. Você se sente cercado por ela: uma nuvem de raiva o envolveu. Mas você não é a raiva – e, se você não é a raiva, ela se torna impotente. Não pode afeta-lo; você permanece intocável. A raiva chegará e sairá e você permanecerá centrado em si mesmo ...é a técnica do encontro com a testemunha.
“Com atenção entre as sobrancelhas, deixe que a mente anteceda o pensamento.” Agora olhe para seus pensamentos, encontre-se com eles. “Permita que a forma seja preenchida pela essência da respiração até o alto da cabeça e daí se derrame como luz.” Quando a atenção está focalizada no centro do terceiro olho, entre as sobrancelhas, duas coisas acontecem. Uma é que subitamente você se torna uma testemunha. Isso pode acontecer de duas maneiras. Você se torna uma testemunha e fica centrado no terceiro olho.
Tente ser uma testemunha. O que quer que esteja acontecendo, tente ser uma testemunha. Você está doente, com o corpo dolorido, está miserável e sofre, seja o que for: seja uma testemunha disso. O que quer que esteja acontecendo, não se identifique com isso. Seja uma testemunha – um observador. Então, se o testemunhar se tornar possível, você estará focalizado no terceiro olho.
Em segundo lugar, também pode acontecer o inverso. Se você estiver focalizado no terceiro olho, você se tornará uma testemunha. Estas duas coisas são partes de uma coisa só. Por isso, a primeira: por estar centralizado no terceiro olho, acontecerá o despertar do Eu testemunha. Agora você poderá se encontrar com seus pensamentos. Esta será a primeira coisa. E a segunda será que agora você pode sentir a vibração sutil, delicada, da respiração. Pode sentir a forma da respiração, a própria essência da respiração.
Primeiro tente entender o que se quer dizer com “a forma” e “essência da respiração”. Quando você está respirando, não estyá respirando apenas ar. A ciência diz que você está respirando ar – apenas oxigênio, hidrogênio e outros gazes em suas formas combinadas de ar. Eles dizem que você está respirando “ar”! Mas o tantra diz que o ar é apenas o veículo, não a coisa real. Você está respirando “prana” – vitalidade. O ar é apenas o meio, prana é o conteúdo. Você respira prana – não apenas ar.
A ciência moderna ainda não foi capaz de descobrir se existe algo como o prana. Mas alguns pesquisadores sentiram algo misterioso. A respiração não é simplesmente ar. Isso foi percebido por muitos pesquisadores modernos também. Particularmente um nome deve ser mencionado – Wilhelm Reich, um psicólogo alemão que o chamou de “Energia orgone”. É o mesmo que prana. Ele diz que, enquanto você respira, o ar é apenas o continente e que existe um conteúdo misterioso que pode ser chamado de “orgone” ou “prana” ou ainda “élan vital”. Mas isso é muito sutil. Na verdade, não é material. O ar é uma coisa material: o continente é material. Mas alguma coisa sutil, não material, está-se movendo através dele.
Os efeitos disso podem ser sentidos. Quando você estiver com uma pessoa muito vital, sentirá uma certa vitalidade surgindo dentro de você. Se estiver com alguém muito doente, se sentirá sugado, como se alguma coisa lhe tivesse sido tirado. Quando você vai para um hospital, por que se sente tão cansado? Você está sendo sugado de todos os lados. A atmosfera toda do hospital é doente, e todo mundo ali precisa de mais élan vital, de mais prana. Por isso, se você está lá, seu prana começa a sair de você. Por que, à vezes, você se sente sufocado quando está no meio de uma multidão? Porque seu prana está sendo sugado. Quando você está sozinho, sob o céu, de manhã, embaixo das árvores, sente subitamente uma vitalidade em você – o prana. Cada um precisa de um espaço particular. Se esse espaço não é concedido, seu prana é sugado.
Wilhelm Reich fez muitas experiências, mas pensaram que ele estivesse louco. A ciência tem suas próprias superstições, e a ciência é algo muito ortodoxo. A ciência ainda não pode sentir que existe algo mais do que ar, mas a ídia tem feito experiências com isso há séculos.
Você já deve ter ouvido falar ou mesmo deve ter visto alguém entrando em Samadhi (Consciência Cósmica) – num Samadhi subterrâneo – durante dias, sem entrada do ar. Um homem entrou em Samadhi subterrâneo no Egito, em 1880, por 40 anos. Todos aqueles que o entrerraram morreram, pois ele saiu de seu Samadhi em 1920, ninguém acdreditava que poderiam encontra-lo vivo, mas ele o foi. E ainda viveu por mais 10 anos. Tornara-se completamente pálido, mas estava vivo. E não havia possibilidade de o ar chegar até ele.
Foi interpelado pelos médicos e por outras pessoas. “Qual o segredo disso?” Ele respondeu: “Nós não sabemos. Sabemos apenas isto: que o prana pode entrar e fluir em qualquer lugar”. O ar pode não penetrar, mas o prana pode. Uma vez que você sabe que pode aspirar o prana diretamente, sem o continente, então pode entrar em Samadhi até mesmo por séculos.
Está focalizado no terceiro olho, subitamente você pode observar a própria essência da respiração – não a respiração, mas a própria essência da respiração, o prana. E, se puder obeservar a essência da respiração, o prana, estará lá no ponto de onde o salto, a passagem acontece.
O sutra diz: “Permita que a forma seja preenchida pela essência da respiração até o alto da cabeça...” E, quando você chegar a sentir a essência da respiração, o prana, imagine apenas que sua cabeça foi preenchida por ela. Apenas imagine. Não é necessário nenhum esforço. Vou explicar-lhe como funciona a imaginação. Quando você está focalizado no centro do terceiro olho, basta imaginar e a coisa acontece – simplesmente isso.
Neste momento, sua imaginação é simplesmente importante. Você continua imaginando e nada acontece. Mas algumas vezes, sem saber, na vida comum também, as coisas acontecem. Você está pensando em seu amigo e, de repente, batem à porta. Você diz que é uma coincidência seu amigo ter vindo. Algumas vezes sua imaginação funciona exatamente como uma coincidência. Mas sempre que isso acontecer agora, tente lembrar-se de analisar a coisa toda. Sempre que acontecer de você sentir que sua imaginação se torna real, concentre-se e observe. E, algum momento, sua atenção deve ter estado perto do terceiro olho. Sempre que acontece essa coincidência, não é uma coincidência. Parece ser porque você não conhece a ciência secreta. Sua mente deve ter-se dirigido, sem perceber, para perto do centro do terceiro olho. Se sua atenção está no terceiro olho, só a imaginação é suficiente para criar qualquer fenômeno.
Este sutra diz que, quando você estiver focalizado no ponto entre as sobrancelhas e puder sentir a própria essência da respiração, “permite que a forma seja preenchida”. Agora imagine que esta essência está preenchendo toda a sua cabeça – especialmente o alto da cabeça, o Sahasrar (o centro psíquico mais alto). No momento em que você imaginar, ele será preenchido. “E daí (do alto da cabeça) se derrame como luz”. Essa essência do prana está se espalhando como luz a partir do alto da sua cabeça. E ela começará a se derramar e sob essa chuva de luz, você ficará refeito, renascido, completamente novo. Isso é o que significa renascimento interno.
Assim, duas coisas: primeiro, focalizada no terceiro olho, sua imaginação se torna potente, poderosa. Por isso é que tem havido tanta insistência quanto à pureza: antes de inciar estas práticas, esteja puro. Para o tantra, a pureza não é um conceito moral. A pureza é significativa – porque, se você estiver focalizado no terceiro olho e sua mente estiver impura, sua imaginação poderá se tornar perigosa: perigosa para você, perigosa para os outros. Se você estiver pensando em matar alguém, se essa idéia estiver na sua mente, bastará a imaginação para matar o homem. Daí tanta insistência no estar puro primeiro.
Disseram a Pitágoras para jejuar, para respirar de um determinado modo – desse modo, porque aqui a pessoa está viajando numa terra muito perigosa: porque, onde quer que haja poder, há perigo. E se a mente estiver impura quando você adquirir poderes seus pensamentos impuros tomarão conta dela imediatamente.
Muitas vezes você já se imaginou matando, mas, felizmente, a imaginação não pode funcionar. Se pudesse, se fosse materializado imediatamente, então isso seria perigoso – não somente para os outros, mas para você também, porque muitas vezes você pensou em se suicidar. Se a mente estiver focalizada no terceiro olho, bastará pensar em suicídio e isso se tornará suicídio. Você não terá tempo para mudar. Imediatamente acontecerá.
Você já deve ter observado alguém sendo hipnotizado. Quando alguém está hipnotizado, o hipnotizador pode dizer qualquer coisa que a pessoa hipnotizada obedece imediatamente. Por mais absurda que seja a ordem, por mais irracional ou até mesmo impossível, a pessoa hipnotizada obedece. Que está acontecendo? Está técnica está na base de todo o hipnotismo. Quando alguém está sendo hipnotizado, mandam que ele focalize seus olhos em um ponto particular – em alguma luz, algum ponto na parede, ou nos olhos do hipnotizador.
Quando você focacaliza seus olhos em um ponto particular, dentro de três minutos sua atenção interna começa a fluir em direção ao terceiro olho. E, no momento em que sua atenção interna começa a fluir em direção ao terceiro olho, seu rosto começa a mudar. E o hipnotizador sabe quando seu rosto começa a mudar. Subitamente seu rosto perde toda a vitalidade. Torna-se morto, como que profundamente adormecido. Imediatamente o hipnotizador sabe quando seu rosto perde o brilho, a vivacidade. Isso significa que agora sua atenção está sendo sugada pelo centro do terceiro olho. Seu rosto se torna morto; toda a energia está indo em direção ao centro do terceiro olho.(...)
Isso acontece por causa do terceiro olho. Nele a imaginação e a concretização não são duas coisas. A imaginação é o fato. Imagine e será assim. Não existe nenhum intervalo entre o sonho e a realidade. NÃO existe separação entre o sonho e a realidade! Sonhe e o sonho se tornará real! Por isso é que Shankara disse que este mundo todo nada mais é do que o sonho do Divino! – Isso porque o Divino está centralizado no terceiro olho – sempre, eternamente. Assim, qualquer coisa que o Divino sonhe se torna real. Se você também estiver centrado no terceiro olho, qualquer coisa que você sonhe se tornará real.
Sariputta veio a Buda. Meditou profundamente e então muitas coisas, muitas visões, começaram a surgir, como acontece com qualquer um que entre em profunda meditação. Ele começou a ver céus, começou a ver infernos, começou a ver anjos, deuses, demônios. E eles eram concretos, tão reais que ele veio correndo até Buda para lhe contar que havia tido tais e tais visões. Mas Buda lhe disse: “Não é nada – apenas sonhos. Apenas sonhos”. Mas Sariputta disse: “Eles são tão reais. Como posso dizer que são sonhos? Quando vejo uma flor em minha visão ela é mais real do que qualquer flor do mundo. A fragância está presente, posso toca-la. Quando eu vejo”, disse a Buda, “não é tão real. Aquela flor é mais real do que sua presença aqui diante de mim; assim, como posso diferenciar o que é real e o que é sonho?” Buda respondeu: “Agora que você está centrado no terceiro olho, o sonho e a realidade são um só. O que quer que você sonhe se tornará real e vice-versa”.
Para quem está centrado no terceiro olho, os sonhos se tornam reais e toda realidade se torna apenas um sonho, porque, quando seu sonho pode se tornar real, você sabe que não existe nenhuma diferença básica entre o sonho e a realidade. Assim, quando Shankara diz que este mundo inteiro é apenas maya, um sonho do Divino, não é uma proposição teórica, não é uma declaração filosófica. Na verdade, é uma experiência íntima de alguém que está focalizado no terceiro olho.
Quando você estiver focalizado no terceiro olho, imagine apenas que a essência do prana está se derramando a partir do alto da cabeça, assim como se você estivesse embaixo de uma árvore e as flores estivessem caindo, ou como se estivesse sob o céu e, de repente, uma nuvem começasse a chover, ou como se estivesse sentado, na manhã, e o sol nascesse e os raios dele se derramassem. Imagine e imediatamente acontecerá um derramar – uma chuva de luz vinda o alto da cabeça. Esta chuva o refaz, dá-lhe um novo nascimento. Você renasce...
Texto do livro: O Livro dos Segredos – Bhagwan Shree Rajneesh (Osho) - Maha Lakshmi Editora.
OBS: Releia aqui também (relacionado com o assunto em pauta) no Blog > O SEGREDO DA FLOR DOURADA: http://desenvolvendoaconsciencia.blogspot.com/2008/02/o-segredo-da-flor-dourada.html
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