22 de agosto de 2007

O Poder da História Pessoal

O PODER DA HISTÓRIA PESSOAL


Uma jovem artista promissora voltou para casa de sua aula de arte do segundo ano primário e informou aos pais que ela tinha acabado de receber o “poder de Deus”. Mais do que um pouco curioso, seus pais pediram-lhe que explicasse o que ela queria dizer com isso. Com uma risada a maliciosa a menininha explicou: “Eu não tenho o poder de Deus realmente. Mas minha professora de arte disse que quando eu desenho ou pinto um quadro, posso criar o que eu quiser – qualquer idéia que eu tiver. Então isso se parece com o poder de Deus”.

Remodelando o nosso passado. Na história pessoal somos livres para criar ou recriar nossa vida da maneira que desejarmos; portanto, é como se fosse o poder de Deus. Podemos remodelar nossa história, olhando para ela de uma nova perspectiva. No distanciamento temporal, muda o significado de fatos importantes na nossa vida e assim muda também a maneira como os contamos, Às vezes até podemos ver como a nossa história se encaixa numa história maior, uma história que vem do âmago da humanidade. E então entendemos que a nossa vida tem um significado divino.

Muitas vezes precisamos contar nossas histórias porque estivemos presos em histórias de negligência, abuso, vitimização e impotência de nossas vivências passadas. As crianças são freqüentemente vítimas impotentes. Nos vinte e tantos anos desde que começamos a trabalhar com pessoas em questões de crescimento pessoal e cura interior, nunca conhecemos alguém que não tivesse tido problemas de dor na infância que continuaram a emergir na vida adulta. Mesmo os pais mais bem-intencionados, mais amorosos, não podem proteger seus filhos da dor de serem humanos.

A notícia boa é que, quando somos adultos, cada dia nos apresenta oportunidades para reescrever scripts negativos da infância, pois agora somos pais e podemos cuidar daquela criança ferida que ainda vive dentro de nós. A história pessoal é uma das mais poderosas ferramentas à nossa disposição para curar a dor do passado, como também a dor do presente. Por meio dela, obtemos uma nova perspectiva; vemos os antigos fatos à luz de novos desenvolvimentos; descobrimos a dádiva que nos veio na dor e nos alegramos com ela. Ao re-historiar nosso passado e presente, estamos criando também a história de um futuro muito mais feliz, pois o passado está curado e possibilidades novas e sempre ampliadas se abrem para o futuro.

Podemos começar o processo de re-historiar nosso passado e presente olhando para a dor da nossa Ferida Original e nos lembrando como a questão do abandono, da traição ou do desafeto tem sido um padrão repetitivo na nossa vida. Quando começamos a reconhecer que essa vivência inicial tem funcionado como um imã, atraindo para si vivências semelhantes, passamos a perceber como nos preparamos inconscientemente para continuar sendo vítimas. Como é que o Deus que vive dentro da nossa dor reagiu à criança sofredora e esquecida que vive dentro de nós? Essa vivência silenciosa também é verdadeira e por meio da prece, da imaginação e da intuição, podemos começar a descobrir uma nova dimensão da verdade de nossa vida. Quando emerge a realidade do nosso eu mais profundo, passamos a relembrar a verdadeira história daquela pessoa que fomos criados para ser. Com esses insights no lugar, podemos começar a usar nossa imaginação para criar um novo roteiro para a nossa vida.

Depois de vislumbrar as imagens e as cenas mentais que também poderiam descrever as nossas histórias de vida, estamos prontos para soltar a corrente de energia criativa semelhante ao poder de Deus. Receber as imagens mentais positivas de quem podemos nos tornar, é uma dádiva do Deus que ama e acredita e vive dentro de nós. Nossos esforços em manter e cuidar dessas imagens mentais positivas vai começar a corrigir lentamente as atitudes negativas que estivemos carregando inconscientemente a vida inteira.

Vencendo atitudes negativas. A sabedoria do Eneagrama nos ensina que as nossas atitudes negativas inconscientes desatrelam a mais destrutiva e violenta energia na nossa vida e na dos outros. Alguns leitores não vão entender como as atitudes negativas podem ter conseqüências tão amplas; em vez de explicar, vamos contar uma história.

No início da primavera, percebemos que um monte de mato, hastes secas de flores, capim e lama apareceram de repente em cima do telhado. Investigando, descobrimos uma pequena abertura nos pinheiros logo acima do entulho. Durante vários dias ficamos observando dois pássaros de cor escura voando para dentro e para fora da abertura, carregando seu tesouro. Ficamos na dúvida entre deixar os pássaros viver sem pagar aluguel e criar uma família no sótão ou encontrar uma maneira de nos livrarmos deles. Como não tínhamos certeza de como proceder à expulsão e como eles eram bem interessantes de observar, não fizemos nada.

Um dia, o filho de Kathy veio nos visitar e lhe contamos sobre nossos novos inquilinos que não pagavam aluguel. Quando ele perguntou que tipo de pássaros era, nenhum de nós sabia. Felizmente, um deles estava sentado bem perto da janela, sobre o cabo do telefone, bem à vista. Quando ele viu o pássaro, fez uma careta e disse: “São estorninhos! Se vocês não se livrarem deles, não poderão nem usar o seu sótão. Eles são tão agressivos que ficam atacando a cabeça da pessoa até ela ir embora – especialmente se estiverem formando uma família logo acima de você. Nas construções, os rapazes receiam encontrar um ninho de estorninhos nos pinheiros porque eles atacam um homem com tanta violência que ele nem consegue subir uma escada”. Depois de ouvir isto, logo encontramos uma maneira de desalojar nossos novos inquilinos. Eles ainda não haviam botado os ovos; por isso foi uma tarefa muito mais fácil do que seria algumas semanas depois.

As atitudes negativas são como os estorninhos que vivem nos sótãos de nossa mente. Elas estabeleceram residência permanente e continuam a se reproduzir. Atacam-nos (e nós atacamos os outros) vingativas sempre que entramos nessa área de pensamento e vivência. O pior de tudo é que estamos deixando que elas vivam na nossa mente de graça!

Agora, toda a vez que você começar a sentir, pensar e agir negativamente em relação a si mesmo e aos outros, pode se lembrar da história dos estorninhos e saber que acabou de encontrar um ninho de negatividade que precisa ser desalojado e resgatado. Essa é apenas um dos exemplos de como usamos a experiência da vida diária para começar a re-historiar a nossa vida. Vivências comuns que seriam rapidamente esquecidas se tornam fios contínuos de sabedoria, tecidos no tecido de nossa vida por meio de histórias.

A vida, quando vista como uma série contínua de pequenos contos, com um fio condutor e um tema, no final acaba sendo a nossa literatura pessoal de sabedoria sagrada que será transmitida de geração a geração ao adquirirmos a coragem de compartilhar nossa histórias com os outros.

Trecho do livro > Meu Eu Melhor – Usando o Eneagrama para Liberar o Poder do Eu Interior.

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